Há artistas que se incomodam por serem eternamente associados a um personagem. Não é o caso de José Pimentel. Aos 82 anos, o ator e diretor irá viver o Nazareno pelo 40º ano – 19 deles em Nova Jerusalém e 21 na Paixão de Cristo do Recife, que fundou após sua saída do evento de Fazenda Nova. Se recuperando de problemas de saúde, ele vive sua própria Via-Crúcis ao tentar implementar sua visão à obra em meio à dificuldades de patrocínio e críticas à sua idade. No entanto, afirma que, esta cruz, carrega até o fim.
A primeira vez em que foi à Fazenda Nova, em 1956, José Pimentel não tinha ideia do quanto se envolveria com o evento, traçando um novo caminho para sua carreira. “Na época, eu era halterofilista. Então, fui chamado por Octávio Catanho [ator, diretor e cenógrafo] para vestir a roupa de romano e mostrar os músculos”, lembra, rindo.
O envolvimento com o projeto se aprofundou e, em 1961, escreve Jesus, o Mártir do Calvário, que é bem-recebido.
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Em 1962, com o sucesso de público do espetáculo, Plínio Pacheco opta por criar Nova Jerusalém, plano do qual Pimentel foi um dos participantes. Em 1969, um ano após a abertura da cidade-teatro, o garanhuense substitui Clênio Wanderley na direção e começa a implementar algumas mudanças, como o uso de áudios pré-gravados. A partir de 1978, passou a conciliar a função com o papel de Jesus, no qual permaneceu até 1996.
“Nova Jerusalém foi importante para mim enquanto durou. Dei minha vida ali dentro e tudo que acontece lá, em grande parte, fui eu quem implantei, decidi. Mas, os louros dessas coisas ficaram para outras pessoas que não se dedicaram como eu. Nem gosto de falar porque me faz mal”, afirma o ator e diretor.
SAÍDA DE NOVA JERUSALÉM
Pimentel diz que sua mágoa é com o menosprezo com o qual acredita ter sido tratado. Na sua versão, ele foi retirado do cargo contra sua vontade.
“Minha saída foi sacanagem. Tinha me comprometido em dirigir porque fazia parte da Sociedade Teatral de Fazenda Nova. Não concordava que contratar globais era a solução, mas disse que iria dirigir. Tivemos uma reunião na sexta-feira; na segunda, um ator que estava em Nova Jerusalém me ligou dizendo que eu não era mais o diretor porque achavam que eu iria criar confusão com o pessoal da Globo”, conta. A versão de Pimentel diverge da dos envolvidos com Nova Jerusalém, que afirmam que ele não abria mão do papel de Jesus.
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Articulado e persistente, Pimentel estreou a Paixão de Cristo do Recife em 1997. O evento, que é gratuito, atualmente acontece no Marco Zero, onde é vista por uma média de 30 mil pessoas por dia. Dificuldades em conseguir patrocínio, no entanto, encurtaram a encenação desde o ano passado, de cinco para três dias.
Questionado sobre se já não seria hora de passar o bastão, inclusive por questões de saúde (no último mês de dezembro, passou 12 dias internado depois de uma cirurgia para tratar hérnia inguinal e de complicações como uma embolia pulmonar), ele é enfático em dizer que permanece como Cristo até quando suas forças permitirem.
“As pessoas têm muito preconceito, mas o artista não tem idade. Você vê uma Bibi Ferreira no palco e é um estouro. O pessoal fica brincando que ao invés de Cristo eu deveria interpretar Matusalém. Eu sempre respondo: posso fazer também”, brinca.