A lanterna da Série B assusta os alvirrubros. O fantasma de uma nova queda para a Terceira Divisão - disputou a competição em 1999 e só saiu dela por contra da virada de mesa que criou em 2000 a Copa João Havelange -, assombra o Náutico. Isso porque o clube vive hoje uma crise técnica, financeira e, sobretudo, política. Este último ponto, para a maioria dos alvirrubros, é o mais grave. Os fatos comprovam que isso é verdade. Com uma oposição ferrenha nos últimos anos, dois grupos protagonizam uma briga política em Conselheiro Rosa e Silva. De um lado, o Executivo. Do outro, o Conselho Deliberativo.
É como se os dois poderes não falassem a mesma língua. A gota d’água foi a medida tomada pelo Deliberativo de antecipar a eleição presidencial, normalmente marcada para dezembro. O pleito está previsto para acontecer no dia 16 de julho, mas o presidente Ivan Brondi (assumiu após a renúncia de Marcos Freitas, que passou apenas cinco meses no cargo) entrou na Justiça contra a antecipação. Até agora, o único candidato é Edno Melo, da chapa Resgate Alvirrubro, que tem Diógenes Braga como vice. Edno ganhou notoriedade nos Aflitos após perder a eleição para Marcos Freitas por apenas 10 votos, em umas das eleições mais acirradas do trio de ferro da capital.
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Conselho representa todas as correntes de torcedores do clube. Existem conselheiros que apoiam as ações do executivo, outros que são mais críticos, o que é natural e salutar. É obrigação do Conselho estar à disposição para contribuir para que for melhor para o Náutico, independente de quem esteja à frente da diretoria”, afirmou o presidente do Conselho Deliberativo, Gustavo Ventura, que protagonizou um momento histórico no Náutico ao lado do ex-presidente Glauber Vasconcelos na eleição para o biênio 2014/2015. Ele estava entre os vices do Executivo junto com Durval Valença.
Pela primeira vez, os sócios puderam votar diretamente no candidato ao cargo máximo. Era o ápice de uma oposição marcada por um grupo e não apenas uma liderança: o Movimento Transparência Alvirrubra (MTA). Glauber venceu por uma vantagem esmagadora após um processo marcado por fortes acusações ao ex-presidente Paulo Wanderley e os últimos gestore.
Inclusive, a troca de acusações foi parar na Justiça. “Fui um dos que me afastei do Náutico. Tenho ajudado no que me pedem, mas estar lá pessoalmente não. Tenho ido a poucos jogos. Isso porque não vejo clima para encontrar as pessoas. Quando chegamos lá na Arena é um falando mal do outro e olhando desconfiado. Tenho mais o que fazer do que ficar nesse tipo de situação”, frisou Wanderley. “O Náutico não suporta tanta divisão. A proposta do MTA era um grupo diferente, que tinha que colocar todo mundo para fora. Não se consegue montar nada desse jeito. As pessoas que sempre ajudaram estão afastadas. O radicalismo leva a isso e não concordo”, completou Marcílio Sales, que foi o primeiro candidato a presidente do executivo em 2011 com o apoio do MTA.
Só que dois anos depois, Sales deixou o Movimento Transparência Alvirrubra porque aceitou fazer parte do colegiado formado por 17 membros para tentar evitar a queda para a Série B em 2013, o que não aconteceu. O Timbu fez uma campanha pífia, sendo rebaixado como lanterna e com a maior sequência de derrotas, 12, da história do Campeonato Brasileiro. Segundo Marcílio, o próprio grupo não se entendia, mesmo sendo formado com quem estava no poder. “Mesmo ali, tinha gente com diferença um com o outro. Se procurar, as pessoas não tinham afinidade no dia a dia”, contou Sales.
UNIÃO
A história mostra que a última vez que houve união, o Náutico conseguiu reencontrar o caminho dos títulos. Foi em 2001, quando o ex-presidente André Campos assumiu o comando com o apoio dos grupos que formavam a política na época. A missão era impedir o rival Sport de conquistar o hexacampeonato pernambucano e manter o funcionamento do clube. Glauber Vasconcelos e Ivan Brondi foram procurados, mas não atenderam a reportagem do JC.