Quando se trata de prestação de contas, o Sport é cercado de interrogações. Descobrir como um clube saneado se transformou, em dois anos, numa instituição endividada, requer um trabalho investigativo. Isso porque não existe um portal de transparência no Leão e obter informações diretamente da “fonte” é vedado pela presidência - o Diretor Executivo (CEO) do clube, Fernando Halinski, não é autorizado a dar entrevistas. Por isso, as negociações de Rithely, André, Everton Felipe, o imbróglio jurídico que reteve parte da quantia da transferência de Diego Souza, o atraso para a entrega da certidão de débitos para receber o patrocínio da Caixa e, principalmente, os quatro meses de salários atrasados - algo que não era visto no Leão há dez anos -, seguem sem explicações. Para piorar, o clube vai fechar no vermelho.
A bolha administrativa, há tempos, vinha dando indícios que estava próxima de estourar. O próprio balanço financeiro do Sport de 2017, apresentado no mês de abril, apontou um déficit (receita x despesa) anual de R$ 18 milhões. Diante disso, o passivo geral do clube teve um aumento de quase R$ 60 milhões. A conta começou a não fechar em outubro do ano passado, quando os salários de atletas e funcionários começaram a atrasar. Desde então, os vencimentos nunca mais ficaram em dia. E culminou no absurdo de encerrar essa temporada com quatro meses em aberto, com os jogadores e três com funcionários. Dos quatro treinadores que passaram pelo Sport, três deles deixaram o clube sem receber salário: Nelsinho Baptista (recebeu duas carteiras, mas faltaram quatro imagens), Eduardo Baptista e Milton Mendes não foram pagos uma única vez.
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Sem orçamento, Arnaldo Barros se viu obrigado a se desfazer dos atletas “midiáticos”. Não só para fazer caixa, mas para movimentar o caixa que estava esvaziando. Porém, o que deveria ser uma solução, virou problema. O primeiro a deixar o clube foi Diego Souza, que rumou para o São Paulo. Porém, dos R$ 10 milhões acordados para a transferência, apenas R$ 5 milhões entraram na conta, já que o Fluminense, detentor de 50% dos direitos do atleta, conseguiu na justiça o bloqueio da metade (ainda não foi resolvido). André e Rithely também foram negociados após muita quebra-de-braço com o presidente e deixaram o clube esbravejando contra o dirigente. O primeiro foi negociado com o Grêmio por R$ 10 milhões (pagamento em cinco parcelas, restam duas) e o segundo foi emprestado para o Internacional, que pagou R$ 1,2 milhão. Já Everton Felipe também seguiu para o São Paulo, com a direção do Sport acordando de o pagamento ser feito após a temporada. Ou seja, o Sport perdeu atletas e não viu a cor do dinheiro.
Com tantos problemas financeiros dentro do clube, os dois candidatos à presidência do Leão (Milton Bivar e Eduardo Carvalho) já prometeram fazer uma auditoria fiscal e abrir a “caixa preta” para saber por onde começar a soerguer o clube.
A reportagem do JC entrou em contato com a assessoria do Sport, mas não obteve retorno quanto a uma possível declaração de Arnaldo Barros. Um boa postura adotada pelo presidente foi a manutenção do veto de a principal torcida organizada do clube entrar na Ilha do Retiro.