O presidente francês, Emmanuel Macron, enfrentou uma grande mobilização popular neste sábado (17), liderada pelo grupo "coletes amarelos", formado por motoristas irritados com o aumento dos preços dos combustíveis. Nos protestos, que reuniram 283.000 pessoas, houve vários incidentes.
Uma motorista atropelou e matou uma manifestante nos Alpes. A motorista entrou em pânico quando se viu cercada pelos manifestantes que começaram a socar seu carro. Ela continuou avançando e atropelou a manifestante. Foi presa em estado de choque.
No norte, um pedestre também foi atropelado e se encontra em estado grave. No total, os incidentes deixaram 227 feridos, seis deles graves, segundo o Ministério do Interior. O Ministério do Interior calcula que houve mais de 2.000 protestos em toda a França, mas sem paralisar o país, como queria o grupo de "coletes amarelos".
O movimento dos "coletes amarelos", uma referência à jaqueta que os motoristas devem usar para ter maior visibilidade em caso de acidente na França, protesta contra a alta do preço dos combustíveis, um imposto ecológico. As cifras oficiais de participação foram fortemente contestadas. Guillaume Peltier, vice-presidente de Os Republicanos (direita), denunciou uma "manipulação das cifras" para "minimizar o enorme descontentamento popular".
Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical, convidou os participantes a publicarem "fotos das concentrações para mostrar o número" de manifestantes.
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Protestos em Paris
Em Paris, a famosa avenida de Champs Élysees foi parcialmente fechada pela polícia para evitar que os manifestantes marchassem por ela. Os "coletes amarelos" permaneceram na praça de la Concorde e alguns conseguiram se aproximar do Palácio do Eliseu, onde viveram tensos momentos com as forças de segurança.
O governo francês, visivelmente preocupado, multiplicou nos últimos dias tanto ameaças quanto gestos de adesão ao movimento. "Você pode se manifestar, mas bloquear um país não é aceitável", repetiu o primeiro-ministro, Edouard Philippe, na sexta-feira.
Na quarta-feira, o governo anunciou um aumento da ajuda aos mais carentes para trocar de carro e pagar as contas de energia. Este movimento de protesto vem depois de um ano difícil para o presidente, com múltiplas manifestações contra seu amplo plano de "transformação" da França.
Também se soma à baixa taxa de popularidade de Macron, abaixo de 30%, o nível mais baixo desde a sua eleição em 2017. Os "coletes amarelos", por outro lado, contam com o apoio de 73% dos franceses, segundo o instituto de opinião Elabe. "Cinquenta e quatro por cento dos eleitores de Macron apoiam ou têm simpatia por esse movimento", afirma Vincent Thibault, gerente sênior de estudos do instituto.
Para a cientista política Sainte-Marie, "é um protesto mais perigoso que os anteriores, porque tem a capacidade de disseminação entre quatro quintos da sociedade: todos aqueles que pegam seus veículos e têm renda modesta".
O governo francês anunciou na quarta-feira medidas para ajudar as famílias mais pobres a cobrir os gastos com energia, mas manteve o imposto sobre o combustível que desencadeou esse movimento de protesto.
"Nós não vamos anular o imposto sobre as emissões de carbono, não vamos mudar de curso, não vamos desistir de fazer frente ao desafio" da mudança climática, disse o primeiro-ministro.
Imposto
O novo imposto começará a ser aplicado em 1º de janeiro de 2019 e envolverá um aumento de 6,5 centavos de euro por litro de gasóleo e 2,9 centavos por litro de gasolina.
O governo também anunciou um bônus de até 4.000 euros para incentivar 20% das famílias mais pobres a trocar de carro e comprar uma versão menos poluente. Até agora, o bônus era de até 2.500 euros para trocar o carro antigo.
No mesmo dia do anúncio, o presidente Macron fez um mea culpa sem precedentes, admitindo que não conseguiu "reconciliar o povo francês com seus líderes" e prometeu uma "reconciliação entre a base e o topo" do país.