A versão apresentada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, nessa quarta-feira (10), sobre a corrupção na Petrobras foi posta em cheque após a quebra do sigilo das delações premiadas do casal de ex-marqueteiros de campanhas do Partido dos Trabalhadores (PT) João Santana e Mônica Moura. Questionado sobre a ciência dos crimes cometidos pelos ex-diretores da estatal, Lula garantiu que não tinha conhecimento dos supostos fatos; uma contradição, se levado em conta o conteúdo da fala dos publicitários sobre as críticas do petista à nomeação de Graça Foster, que teria tentado diminuir a corrupção na estatal.
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Segundo os documentos, que foram tornados públicos nessa quinta-feira (11), o ex-presidente estava sendo pressionado por empresários das chamadas "empresas amigas" por conta da condução da Petrobras por Graça Foster, presidente indicada por Dilma Rousseff para o cargo. Em conversa com João Santana, cheia de criticas a Dilma, Lula também criticou duramente Graça pelo mesmo motivo. O petista chegou a pedir a Santana que falasse com Dilma, pois havia o risco das empresas que prestavam serviços a Petrobras pararem as obras por causa dos atrasos, que não eram fruto de problemas no orçamento da estatal, conforme a delação.
Lula acreditava que Graça era incompetente e não estava a altura do cargo. Faltava-lhe "traquejo político e administrativo", segundo João Santana. O marqueteiro teria comentado o fato com a própria presidente Dilma na época, que alertou sobre a razão das críticas serem fruto do trabalho de Graça em colocar "ordem na casa" para "acabar com a esculhambação", a pedido da própria petista.
Graça nomeada para interromper corrupção
Dilma chegou até a comentar que as críticas que Lula fazia a Graça eram injustas tanto quanto as que a imprensa começava a fazer contra ela em relação à Petrobras. Neste caso, Dilma se referia a algumas informações que começavam a ser noticiadas, como o caso de Pasadena, de que ela tinha responsabilidade em algumas irregularidades na estatal. "Será que eles não enxergam que estamos arrumando a casa? O canalha do Paulo Roberto Costa, por exemplo, foi demitido por mim e estamos remanejando muita coisa por lá", teria bradado Rousseff, revelando que Lula tinha conhecimento das irregularidades na Petrobras, ao criticar a suposta tentativa de Dilma em mudar a relação da estatal com as empresas envolvidas no esquema.
Paulo foi preso por lavagem de dinheiro e confessou que havia um esquema criminoso na Petrobras. Em depoimento a Moro, Lula disse não ter conhecimento do esquema." Eu fiquei 8 anos na presidência, essa coisa só veio à tona depois do grampo da Lava Jato", explicou.
Assim que assumiu a presidência da Petrobras, em fevereiro de 2012, Graça Foster trocou, com o aval de Dilma Rousseff, três integrantes da diretoria: Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque (Engenharia) e Jorge Zelada (Internacional). Com a deflagração da Lava Jato, os três diretores foram presos por integrar o esquema de corrupção dentro da estatal.
Mesmo tendo indicado Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró a cargos na Petrobras, Lula garantiu a Moro não ter nenhum conhecimento do esquema criminoso praticado. "Nem a Petrobras, nem a imprensa, nem a Polícia Federal, nem o senhor (Moro) tinham conhecimento. Todos nós ficamos sabendo com o grampo da PF a uma ligação de Alberto Yousseff, preso pela Lava Jato.