Na época em que se dizia que Pernambuco crescia em "ritmo chinês", várias grandes obras foram anunciadas no Estado. Contratos audaciosos, outros complexos, alguns inéditos e, todos, milionários. No centro de muitos negócios estava o Grupo Odebrecht, parceiro frequente do governo Eduardo Campos (PSB). Hoje, 78 executivos da empreiteira estão negociando o processo de delação premiada. No Estado, o governo enfrenta um duplo desgaste: o político pelas investigações no âmbito da Lava Jato e outro administrativo, pois algumas vitrines do PSB estão rachadas.
Obras que embalaram os sonhos presidenciais do ex-governador Eduardo Campos hoje se tornaram dor de cabeça para o sucessor Paulo Câmara (PSB), atingido frontalmente pela crise econômica e com os cofres vazios. Empreendimentos como as Parcerias Público-Privadas (PPPs) da Arena de Pernambuco e da Compesa (as duas com parceria com a Odebrecht), o presídio de Itaquitinga e os projetos de navegabilidade e corredores de BRT não saíram conforme o planejado e se tornaram um imbróglio para o governo, quer pelas estações de BRTs incompletas, quer pelos conflitos com os investidores de Itaquitinga.
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Mas a Arena de Pernambuco, sem dúvida, é a protagonista da maior exposição da cúpula do PSB-PE. Na semana passada, a revista Istoé revelou que o governador Paulo Câmara, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, o senador Fernando Bezerra Coelho e o deputado federal Tadeu Alencar eram alvos de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por irregularidades no processo de construção do estádio. Um relatório da Polícia Federal aponta indícios de superfaturamento da ordem de R$ 42,8 milhões em valores de maio de 2009.
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A investigação está centrada em cima de dois núcleos: o econômico, formado pelas empreiteiras, e o político, que compreende o o Comitê Gestor de Parcerias Público-Privadas do Estado de Pernambuco (CGPE). Foi esse órgão que tinha Geraldo como presidente, Paulo como vice Tadeu Alencar como membro e que foi alvo da Operação Fair Play, da PF, em 2015. A suspeita é que houve restrição da competitividade da licitação.
Na época em que foi pensado, o projeto incluía a Cidade da Copa, um grande complexo com shopping e faculdade que prometia desenvolver a região, mas nunca saiu do papel. Só o estádio custou R$ 479 milhões, segundo dados oficiais.
No entorno da Arena, o que fica é a desilusão. A criação do estádio também aumentou a violência na área, dizem os moradores de bairros próximos. "É assalto todo dia", conta o autônomo José Amaro de Oliveira, 46, que mora em Camaragibe. "Se a gente for avaliar as promessas feitas e as cumpridas, vamos ver 90% não cumpridas. De bom só o calçamento mesmo", acrescentou Amaro. "Esperava que melhorasse o acesso para pegar o transporte, mas não melhorou: piorou porque facilitou o acesso para assaltantes", lamentou a dona de casa Helena Gomes.
"Pensei que ia trazer muita melhoria para cá, mas é uma tristeza ver tanto dinheiro investido e para melhoria da gente, não teve nada. Foi tudo por água abaixo e, depois desses escândalos, é que não vai sair mesmo", lamentou o soldador Diógenes de Oliveira.
PRESÍDIO DE ITAQUITINGA
No centro das pendências também estão as obras de ressocialização. O nó judicial envolve a malfadada PPP do Presídio de Itaquitinga, na Zona da Mata. O projeto foi firmado em 2008, com ajuda de uma consultoria especializada, dada a intricada engenharia jurídica e financeira que envolvia a PPP.
Paradas desde 2012, havia expectativa que as obras fosse retomada em setembro, o que não se concretizou. Enquanto isso, a superlotação dos presídios continua. Em outubro, a Construtora Carajás, através de pregão eletrônico, venceu o processo licitatório para execução de serviços de engenharia e a promessa é entregar projeto em oito meses.