ENTREVISTA

Haddad descarta candidatura e diz que Lula vai disputar

Ex-prefeito de São Paulo estará no Recife próxima sexta (11) e avalia que governo de Temer está desacredita e esquece áreas prioritárias

Marcela Balbino
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Marcela Balbino
Publicado em 06/08/2017 às 8:01
Foto: Agência PT
Ex-prefeito de São Paulo estará no Recife próxima sexta (11) e avalia que governo de Temer está desacredita e esquece áreas prioritárias - FOTO: Foto: Agência PT
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Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, o petista Fernando Haddad é cotado para entrar na disputa presidencial caso Lula (PT) seja impedido pela Justiça. Em entrevista à repórter Marcela Balbino, o político disse que tem trabalhado no plano de governo do PT, fez críticas às reformas de Temer e disse que Bolsonaro faz “fundamentalismo fake”. Haddad estará no Recife na próxima sexta (11), onde dará duas palestras, uma na UFPE e outra na Unicap. Leia, aqui, segunda parte da entrevista. 

JORNAL DO COMMERCIO - Caso o ex-presidente Lula seja impedido de entrar na disputa presidencial, o seu nome é o mais cotado. Ele, inclusive, chegou a citá-lo. O senhor atenderia a esse chamado para 2018?

Haddad - Evito esse pergunta por uma razão muito simples. Nós todos estamos muito conscientes de que a decisão pode ser revertida em segunda instância. Como aconteceu em outras ocasiões. Estamos muito confiantes de que vai haver, da parte do tribunal, a revisão dessa sentença e o presidente vai poder concorrer novamente.

JC - Mas no caso de não ser revertida, o senhor acredita em um candidato de centro-esquerda? Sendo o Lula ou não, o senhor avalia que esse seria um caminho para a esquerda no Brasil?

Haddad - Eu acho que se for o Lula, como tudo indica, ele tem capacidade de agregar os grupos políticos em torno dele.

JC - O PT pode abrir mão de uma candidatura própria para apoiar um nome de um outro partido? Como o Ciro Gomes, por exemplo? Ele tem se colocado na disputa como alguém que pode agregar força e dialogar com várias vertentes.

Haddad - O Ciro é um grande quadro político do País. Tem larga experiência em governo de Estado, mais de um ministério e tem um tato do lado certo. Tem adotado um discurso progressista, nacionalista e social. Mas eu creio que o Lula vai disputar eleição.

JC - Como ficaria o PT com Lula inelegível?

Haddad - Essa hipótese não é, nesse momento, tratável.

JC - Na sua passagem pelo Recife, está previsto encontro com o governador Paulo Câmara e o prefeito Geraldo Julio, ambos do PSB. O senhor tinha um projeto político com Eduardo Campos, de quem foi amigo e colega no ministério. Mas, em 2014, o PSB apoiou o nome de Aécio Neves para disputa presidencial. Este ano, o partido tem dado uma guinada à esquerda. Para o senhor, o PSB ainda pode ser uma saída pelo centro-esquerda? É possível o PT se aliar com o PSB inclusive nos Estados?

Haddad - No plano nacional, o PSB sempre teve grandes quadros, tanto no Congresso quantos nos Estados, com políticas muito progressistas. Confesso que, muitas vezes, não conseguia distinguir um governador do PSB e do PT, de tão alinhadas que estavam as políticas educacionais desses governos estaduais com o ministério da Educação. Havia uma agenda progressista da qual Eduardo Campos participava ativamente. Sou testemunha do trabalho que ele fez com a educação. Ele chamou a educação pra mesa do governador. Tinha uma relação de proximidade com ele e foi um dia muito difícil quando recebi a notícia do acidente. Sobre o PSB, eu acredito que o tabuleiro vai se rearranjar pro ano que vem. Se essa agenda de supressão de direitos permaneces, o PSB vai ter que se posicionar no plano nacional e prestar conta pro seu eleitorado.

JC - Em uma entrevista à Folha de São Paulo, quando questionado sobre 2018, o senhor diz não estar no “radar”, por Lula ser o nome, mas que trabalha nas propostas e nos estudos para discutir o partido. Essa análise passa por quais caminhos?

Haddad - Na verdade, estou trabalhando em alguns temas que ajudariam na constituição no plano de governo. Está todo mundo procurando caminhos alternativos para o atual governo, até porque é um governo que está retirando direitos com muita determinação. Então, estamos propondo um caminho alternativo ao do governo Temer.

LAVA JATO

JC - A Operação Lava Jato abateu vários nomes do PT? Já são três anos e várias operações, delações e envolvidos. Qual sua avaliação?

Haddad - A Lava Jato tem aspectos muito importantes e positivos. Mas obviamente existe questões que precisam ser consideradas, sem prejuízo do aprofundamento das investigações e sem o prejuízo das punições exemplares que defendo. Nos casos onde há a culpa comprovada. De fato, como um advogado, eu me preocupo com as garantias individuais. Penso que alguns institutos de direito penal estão sendo reinterpretados de forma um pouco perigosa para a estabilidade do sistema. Penso também que a punição às empresas deveria ser feita de forma mais inteligente. Por exemplo, as multas poderiam ser pagas em ações das companhias. Para que não houvesse prejuízo organizacional, nem prejuízo para os trabalhadores em termos de emprego. Entendo que o empresário deve ser punido, mas a organização preservada. A devolução desse poderia recurso se desse mediante a entrega de ações da companhia para o BNDESPar e os trabalhadores ocupariam espaço na gestão da companhia. Quem sabe até participando dos lucros e da transparência como prevê a Constituição. Penso que há formas mais interessantes do que destruir o parque produtivo do País. A empresa é de uma pessoa hoje, mas pode ser de outra amanhã. Então você mantém a organização e passa uma parte dela para as mãos do Estado na forma de acionista minoritário. A empresa continuará funcionando, não haverá prejuízos do ponto de vista de empregos, mas o Estado receberá eternamente os dividendos dessas ações pelos prejuízos causados.

BOLSONARO

JC - Em seu artigo na Piauí o senhor diz: “Quem abriu a caixa de Pandora de onde saiu Jair Bolsonaro foi o “tucanato”. Como avalia a candidatura dele, acha possível ele se cacifar para 2018?

Haddad - Os setores progressistas precisam se organizar porque no mundo há uma tendência de polarização à direita. Entre o centro-direita e a extrema-direita. Aqui existe espaço pra uma espécie de “fundamentalismo charlatão”. É fundamentalismo fake.

JC - Próxima sexta, o senhor dará duas palestras no Recife. Quais os assuntos abordados na palestra? O senhor pretende percorrer todo o Brasil com palestras?

Haddad - Não estou com minha agenda aqui. Mas nos encontros estou abordando três temas: conjuntura política e econômica, cidades e educação.

ENTREVISTA NA TV JC

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