Após ser acusada de calote, fabricante de produtos da Cobra Coral relembra dívida já paga do Santa Cruz
Empresa diz ainda que antecipou valores em diversas ações de marketing, nas quais não teria tido lucro algum como forma de ajudar o Tricolor a quitar dívidas salariais com seus funcionários
Atualizada em 16.07.21, às 17h33
Acusada de não repassar mais de R$ 903 mil em royalties ao Santa Cruz desde 2019, a LWGA Indústria de Artigos Esportivos, fabricante dos produtos da Cobra Coral, marca própria do Tricolor do Arruda, nega a dívida e aponta, que ao contrário do informado pelo Tricolor no documento obtido com exclusividade pelo JC e Blog do Torcedor, uma dívida do clube com a empresa. Minutos após a publicação desta matéria, a assessoria jurídica da empresa procurou a reportagem para esclarecer que o clube, a despeito da declaração dada pelo gestor, já não deve mais à LWGA, tendo a dívida sido quitada em abril.
“O Santa Cruz tem um documento assinado, uma confissão de dívida de mais de R$ 40 mil com a nossa empresa. Assim, todos os meses o clube abate o valor de R$ 4 mil dos royalties que repassamos”, afirmou o gestor da LWGA, William Duarte, em entrevista nesta sexta-feira (16). Como já citado, a dívida foi paga há três meses.
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De acordo com o empresário, quando a sua empresa firmou contrato com o Tricolor, o Santa tinha uma dívida no valor de R$ 150 mil com a Bomache, uma empresa com sede no Ceará, que era responsável pela produção dos uniformes da linha performance. “Coube a nós, a marca oficial do clube, pagar essa dívida a título de compensação de royalties, um pagamento que foi realizado até o mês de abril de 2021”, pontuou ele.
William disse ainda que desde 2020 a LWGA paga mensalmente ao clube 10% do faturamento bruto da marca Cobra Coral e não do líquido, como costuma ocorrer em relações comerciais. Além disso, ele afirma que nos meses de agosto e dezembro, quando o faturamento das lojas cresce, o Santa Cruz recebe 15% em royalties. “Então, essa cobrança que estão fazendo, de R$ 903 mil, é indevida”, disparou Duarte, argumentando que os 18% cobrados pelo Tricolor tinham relação com a dívida que a empresa assumiu em nome do clube.
O gestor da LWGA explicou ainda que a companhia não tinha contrato firmado com o Santa Cruz em 2019, diferente do apontado pelo clube. “Nossa empresa não era responsável pelos royalties do varejo em 2019, mas a Bomache. Então, tudo que ela vendia para o varejo, isto é, lojas não oficiais, ela repassava os royalties”, explicou William. “Nosso contrato teve validade de 2020 a 2021, quando Santa rescindiu conosco”, emendou, afirmando que a empresa, por meio do seu departamento jurídico, poderá cobrar a multa de R$ 2 milhões por causa do distrato contratual.
Ajuda para pagar salários
Acusando o Santa Cruz de não trazer a público toda história relacionada à Cobra Coral e à LWGA, William Duarte afirma que a empresa antecipou valores ao clube em diversas ações de marketing, nas quais não teria tido lucro algum como forma de ajudar o Tricolor a quitar dívidas salariais com seus funcionários.
“Nós não estamos devendo nada. Aliás, antecipamos valores para o Santa Cruz em diversos momentos, mas essas informações não estão sendo ditas”, reclama ele. “No ano de 2020, em meio à pandemia, o Santa não tinha recursos para pagar seus colaboradores, e a Cobra Coral produziu máscaras e entregou todo valor arrecadado com as máscaras para o clube. Uma ação que fizemos para ajudar o clube”, continua William.
O empresário cita ainda ações de marketing como a entrega de camisas retrô de 1993 para os sócios adimplentes com o clube e a venda de mini-estádios, destinados ao pagamento de jogadores. “Nós entregamos isso sem cobrar nada para o Santa Cruz. A Cobra Coral é parceira do clube, mas (os gestores) não estão vendo isso. Pelo contrário, estão negativando nosso trabalho, que tem cinco anos de construção”, afirma.
Futuro da Cobra Coral
Durante a entrevista, William Duarte demonstrou estar receoso com a sustentabilidade da Cobra Coral. Segundo ele, não é possível saber o que será do futuro da marca por causa das condições impostas pelo Santa Cruz.
“A gente não sabe como ser mais para frente. Porque, apesar da chegada da Volt ou de qualquer outra empresa, temos o direito da comercialização dos produtos da marca oficial. Mas não sabemos se teremos condições de comprar esses produtos, visto que a declaração dada pelo clube é de que a Cobra Coral poderá continuar vendendo acessórios e canecas. Como vamos manter uma operação oficial vendendo isso?”, questiona Duarte, relacionando as obrigações fiscais, tributárias e trabalhistas que a empresa precisa assumir. “A conta não fecha”, conclui o empresário.
Entenda o caso
A novela envolvendo o Santa Cruz, a Cobra Coral e a fabricação de materiais esportivos do clube parece estar longe de acabar. Após o clube do Arruda comunicar que encerrará o atual contrato de produção dos materiais da sua marca própria, um documento obtido pelo JC e pelo Blog Torcedor mostra que entre os principais motivos que levaram ao fim da relação comercial com a Cobra Coral estaria a descoberta de royalties não repassados ao Tricolor desde 2019, o que representaria um prejuízo superior a R$ 903 mil.
“Do que se extrai das últimas apresentações de relatório de faturamento e pagamento de royalties e dos balanços financeiros contábeis do clube, tem-se que o licenciado (fabricante LWGA) não vêm repassando ao Santa Cruz Futebol Clube os royalties devidos em razão do faturamento de seus produtos para a rede de lojas intitulada Cobra Coral”, diz trecho do documento assinado pelo presidente tricolor, Joaquim Bezerra.
Ainda segundo o documento, a LWGA, atualmente responsável pela confecção dos produtos da Cobra Coral teria faturado nos últimos anos cerca de R$ 5 milhões com vendas de varejo. Por isso, o clube abriu um processo interno de investigação e solicitou à fabricante a apresentação de todos os comprovantes fiscais dos produtos que vendeu desde 2017, quando a marca foi criada.
Multa milionária
Além de cobrar o repasse de royalties, o Santa Cruz quer que a empresa pague uma multa de R$ 2 milhões por descumprimento do contrato, somadas com as perdas e danos. Caso isso se concretize, o clube pode receber nos próximos meses aproximadamente R$ 3 milhões.
No documento, o Tricolor do Arruda ainda afirma que a cobrança dos royalties recebeu aval da Comissão Jurídica do Conselho Deliberativo do clube. O conselho deve se reunir em breve para ser informado sobre o caso.