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OPINIÃO

Receita para fazer uma crise no futebol pernambucano

O momento ruim que os clubes atravessam não é à toa, uma soma de fatores levam a estagnação.

Cadastrado por

Marcelo Cavalcante

Publicado em 21/09/2021 às 9:06 | Atualizado em 21/09/2021 às 14:25
Crise - Thiago Lucas/ Artes JC

Não deve ser fácil gerir o futebol. Afinal de contas, faz tempo que Pernambuco não vive uma realidade de sucesso no cenário nacional. Tivemos bons momentos, é verdade. E momentos servem para virada de chave, um trapolim para uma nova realidade. Mas, pelo visto, perdemos o bonde da história. Pelo interior, o Salgueiro já disputou a Série B do Campeonato Brasileiro e, recentemente, conquistou o título pernambucano, um feito histórico. Mas, agora, tem desistido de disputar competições por falta de dinheiro. A quarta força do futebol do Estado perdeu, perdão pela redundância, a força. Aliás, quem é a quarta força do futebol pernambucano? Retrô? Central? Nem sabemos mais.



Na capital, a situação é séria. Vergonhosa, diria. A realidade que se repete cansa o torcedor. Outro dia, um rubro-negro me contou que chamou o filho para assistir Sport x Internacional. O filho respondeu que não queria assistir, pois o Leão estava "muito ruim". O pai insistiu e ele topou. Três minutos de jogo e o Colorado balançou as redes do Leão. O filho: "Tá vendo, pai!". A torcida é a base de sustenção de qualquer clube. E só se tem torcida com grandes feitos, títulos, história. E nossa história recente não empolga. Já vi e li tantos especialistas de futebol apontando os caminhos que devem ser seguidos para se obter o sucesso, que acho melhor fazer o inverso. Uma receita para se fazer crises. Vamos aos ingredientes:


1 - Acredite cegamente na sua perfeição e na sua grandeza

É fato que existe uma rivalidade entre os clubes da capital. E isso deixa à mostra a paixão que cada tem por suas cores. Deve ser por isso que acreditam que tudo está perfeito, que ninguém precisa de uma auto-crítica para buscar novos caminhos. Se o que está aí não vem bem, custa mudar? Mas, para mudar, é preciso olhar para o umbigo e aceitar o erro, saber das nossas limitações. Aí é que tá o nó. Sem fazer uma radiografia do nosso cenário, não tem o passo adiante.

2 - Faça uma eleição tumultuada

Para quer um processo de transição tranquila se você pode apontar culpados, fazer críticas pessoais e acusações como se fosse a perfeição em pessoa? Até porque, a opinião pública gosta da confusão, né? O bate-chapa serve para isso. O pessoal à frente da instituição. O poder pelo poder. E o que pode haver de boas ideias, deixa para depois.


3 - Culpe o passado

A gestão anterior é sempre a culpada de tudo. Atrasou salário, contratou errado, o time não está jogando bem... A culpa é de quem passou pela diretoria. Simples assim. Como se não soubesse da realidade financeira do clube. E a dívida seguir viva, crescendo cada vez mais, passa a bola para a próxima direção. Afinal, independente de qualquer coisa, serás culpado no futuro.

4- Contrate mais do que pode pagar

Time bom é time caro. Então, se tenho time bom, vou fazer boa campanha. A torcida vai chegar junto e aí é receita na certa. O que seria dívida, no primeiro momento, se transforma em lucro. Como mágica.

5 - Contrate um craque de renome nacional

Esse não pode faltar. É o popular craque que lota arquibancada, que o torcedor deixa qualquer coisa para vê-lo jogar. Não importa que o clube corra risco de ou se ele ter crise de estrelismo e vá rachar, ou se o clube acumule dívida até receber aquela informação que a ação na Justiça chegou. O que importa é ter um astro.

6 - Traga qualquer treinador

Time sem comandante não dá. É preciso ter algum, ou melhor, qualquer um... Mesmo que não se defina a filosofia de trabalho do grupo. Mesmo que ele não tenha tanto compromisso e que venha para o clube apenas como uma oportunidade de retomar a carreira e ganhar os holofotes da mídia.

7 - Executivo fantasma

O futebol moderno exige um profissional que viva o mercado da bola. Mas não precisa aparecer, nem falar e nem chamar a responsabilidade. Basta assumir o cargo. Se deu certo, ele até aparece. Deu errado, sai de cena. O silêncio é sepulcral.

8 - Receba bem os visitantes

Houve um tempo em que os visitantes temiam jogar no Recife. Agora, a modernidade pede cordialidade. Fazer valer o mando de campo não deve ter tanta importância assim. Afinal, o torcedor está impedido de ir aos estádios por conta da pandemia, mesmo não sendo da vontade dos dirigentes.

9 - Desmanche tudo que fez

Quando se vê que as escolhas ainda não surtiram efeito no meio da temporada, aperte o "reset" para começar tudo de novo. Como se nada tivesse sido feito. Afinal, há quem acredite que a competição vai parar tudo esperando você se arrumar novamente. E como diz a música: "É melhor começar tudo de novo do que acabar pela primeira vez".

10 - Saia de cena

Depois das discussões e embates quentes para defender suas ideias e mostrar que o amor ao clube é algo enraizado, deixe o clube no primeiro sinal de crise. A vida vai seguir, os problemas seguiram e quem assumir que busque as soluções. É simples.

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