"Na rua não me perguntam quem vai jogar no Milan no domingo, entre Ibrahimovic ou Giroud, mas quem vai assinar em junho."
O jornalista Gianluca Di Marzio é um dos maiores conhecedores do 'mercato' (mercado), como os italianos chamam o período de transferências de jogadores e uma das paixões de quem acompanha o futebol no país.
"Para nós, as negociações e reuniões entre clubes e agentes acontecem quase à luz do dia, em hotéis um pouco como uma feira", descreve o homem que há quase vinte anos analisa e decifra transferências na televisão, no Twitter (onde tem 1,5 milhão de seguidores) ou em seu próprio site.
"Não vejo em outros países (...) essa vontade de acompanhar o 'mercato' como um reality show de TV", garante com um sorriso à AFP o jornalista de 47 anos, que não larga o celular.
A paixão pelo mercado de transferências vem do pai, Gianni, que se tornou diretor esportivo na década de 1990 (do Cosenza e Venezia) depois de ter sido técnico do Napoli e Genoa.
"Quando eu tinha 15 ou 16 anos, ele me levava com ele aos hotéis onde aconteciam as negociações, minha paixão nasceu naquela época com ele", confessa.
A partir daí conseguiu alguns contatos com os atores do futebol que logo lhe deram boas informações como jornalista, tornando-se referência na cobertura deste segmento, primeiro nas emissoras de TV locais, antes de ingressar na Sky Sport.
Até se tornar, segundo uma lista elaborada há poucos anos pela rede americana ESPN, um dos "cinquenta homens e mulheres" mais influentes do futebol mundial.
"Sou um ator 'mercato'? Alguns me veem assim, mas não eu. Não acho que jornalistas especializados no 'mercato' tenham uma influência tão importante nas conversas, embora, claro, o fato de a informação ser revelada mais cedo ou mais tarde às vezes pode mudar o futuro de uma transferência ".
"No verão passado (no hemisfério norte), anunciei que o Genoa estava perto de fechar com o atacante francês Thomas Henry e eu sei que isso levou o Venezia a entrar na briga (pela contratação) com uma oferta melhor para finalmente levar o jogador. Mas o Genoa deveria ter fechado! Antes de eu descobrir !", lembra.
Por outro lado, Gianluca Di Marzio parabeniza a Roma por ter guardado segredo sobre a chegada do técnico português José Mourinho.
"O diretor-geral Tiago Pinto me disse que nem mesmo divulgou a eventual chegada de Mourinho dentro do clube, justamente para evitar que a informação vazasse. Por vezes, os clubes devem não só guardar segredos dos jornalistas, mas também dos seus próprios funcionários", explica Di Marzio.
Mas sua agenda está cheia de números de informantes confiáveis, afirma: "Os alertas vêm de qualquer lugar, inclusive de pessoas que não conheço, que sonham em ver suas informações na televisão. Hoje não é só questão do representante, o diretor esportivo ou o jogador. Muitos têm a informação porque são amigos do motorista, amigos de quem reservou o voo privado ... ".
"Então, às vezes há coisas falsas, e a tarefa importante e difícil é verificá-las", acrescenta.
Para o 'mercato' que abre em 3 de janeiro na Itália, não se espera grande atividade em um contexto econômico complicado devido à pandemia do coronavírus.
Será "difícil", por exemplo, ser realizada a transferência do atacante artilheiro Dusan Vlahovic, procurado por muitos clubes, mas com contrato com a Fiorentina até 2023.
"Mais provável" é que a Juventus venda o meia sueco Dejan Kulusevski para "financiar a chegada de um atacante", prevê o homem que acaba de publicar seu primeiro livro, a continuação da autobiografia de Zlatan Ibrahimovic.