Roger Machado, técnico do Grêmio na disputa da Série B do Brasileirão, foi alvo de ofensas racistas direcionadas à sua família na última semana, após a vitória diante do Operário.
Ver essa foto no Instagram
Em entrevista à Folha de São Paulo, Roger dialogou sobre o racismo no Brasil e no futebol. O treinador também explica a influência de Jair Bolsonaro no racismo do país.
Quanto ao baixo número de treinadores negros nas principais divisões do futebol brasileiro, Roger atrela o problema aos estigmas criados a respeito da população negra.
"O futebol revela o que somos como sociedade. A representatividade da população negra em outras áreas é muito parecida com a do futebol. (...) Atribuem ao negro uma condição de menor inteligência, menor capacidade de liderança e gestão, justamente as competências de um treinador de futebol", explicou.
É possível vencer o racismo no futebol?
O combate ao racismo no futebol não é uma luta que será vencida da noite para o dia, no entendimento de Roger Machado, que não crê em uma mudança imediata.
"É possível se começarmos a discutir o assunto abertamente, sendo conscientes de que haverá maiores atos de discriminação devido a um movimento de resistência. (...) Isso já foi discutido para outros assuntos, como quando a mulher decidiu ocupar novos espaços na sociedade. O preconceito foi muito forte. No entanto, houve coragem para debater o tema. O que não podemos é ficar escondidos atrás do mito da 'democracia racial' no Brasil", justificou o treinador.
Posicionamento de jogadores e técnicos
Ex-jogador, Roger compartilha das visões de atleta e treinador negro.
"Como atletas, somos treinados para não sairmos do campo (...) Há muitas formas diferentes de se manifestar. A questão é que a maioria de nós, lamentavelmente, tem um nível de escolaridade mais baixo porque o país não privilegiou nossa educação plena. Isso também impacta na nossa consciência (...) para debater esses assuntos".
A influência de Bolsonaro no racismo
"Os indivíduos [racistas] que estavam escondidos [porque a sociedade os reprimia] se sentem autorizados a se manifestar segundo as posturas e pontos de vista do líder da nação, [porque estes] são convergentes. Temos que resistir, porque sua intenção é que retrocedamos, e isso não podemos permitir", disse Roger Machado.