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Dia Mundial do Autismo: quarentena do coronavírus é desafio para crianças no espectro

Para crianças autistas pode ser ainda mais difícil lidar com paralisação de atividades terapêuticas e a quebra da rotina
Maria Lígia Barros
Publicado em 01/04/2020 às 14:45
A família do menino Daniel, de 11 anos, montou uma rotina diária com estudos para manter dentro de casa Foto: CORTESIA


Não é fácil lidar com o isolamento social que está sendo adotado para conter o avanço do novo coronavírus. Se para a maioria da população a adaptação já é difícil, as particularidades da quarentena apresentam um desafio a mais para as crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A paralisação de atividades terapêuticas e a quebra da rotina podem trazer prejuízo, já que a organização é muito importante para os pequenos. A discussão chega junto com o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado nesta quinta-feira (2).

Quando o quadro de agravamento da crise do coronavírus começou a se desenhar, a militar Marcelly, 31 anos, e os profissionais de saúde do filho Daniel, 11, foram logo preparando ele para a possível quarentena. A família transformou a casa em sala de aula para Daniel, que está no grau leve a moderado do espectro. “O psicólogo falou para ele já se organizar, assimilar uma nova ideia e começar a entender que não iria mais para terapia. Elas continuaram não com a mesma intensidade, mas eles estão fazendo vídeos. Isso tem ajudado bastante, e na escola continua mandando atividades”, relatou.

As medidas preventivas surtiram efeito. “Ele entende que não é férias, a única diferença é que as tarefas não estão sendo feitas com o professores, mas comigo, em casa”, disse. “Ele se desorganizou um pouco, mas agora está mais tranquilo porque já assimilou.”


A escola também foi fundamental no processo de preparação. Antes de suspenderem as aulas presenciais, trabalharam o conteúdo com os alunos, ensinando-os a lavar as mãos. Daniel já tem aplicado o conhecimento em casa, e mostrou na sua conta de Instagram (@danielcientista) o jeito correto de fazer a higienização. As redes sociais são uma ferramenta de expressão do menino, que grava e publica vídeos.

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Relatos de dificuldades neste período também têm sido comuns no consultório de Alessandra Sales, psicóloga na clínica Somar e coordenadora da pós graduação em autismo na Faculdade IDE.

“Estamos todos nós em uma mudança de rotina muito grande, e muitas crianças estão reagindo com dificuldade. Algumas ficam batendo na portas querendo sair de casa, vestir a fardinha para ir à escola, outras ficam violentas. De maneira geral, elas têm dificuldade de compreender o que está acontecendo neste mundo”, relatou a terapeuta.

Para aliviar a ansiedade dos pequenos neste momento, a sugestão da terapeuta é que se estabeleça um painel visual de rotina. Uma característica de quem está no TEA é a dificuldade em usar a imaginação.

“É importante ter essa rotina de forma visual, porque para eles precisa ser através da imagem. Mesmo que as atividades básicas que sejam realizadas dentro de casa, como assistir televisão ou brincar com a mamãe”, disse. “Se ficar falando “daqui a pouco a gente vai brincar”, para eles é muito abstrato”, afirmou.

Outra dica é evitar fazer comentários negativos sobre a quarentena na frente da criança.

“Tentar não falar que ela vai precisar ficar presa dentro de casa. Mesmo que ela tenha dificuldade de compreender o momento que vivemos, ela sente toda essa emoção e absorve muito o que os adultos estão falando”, recomendou.

A recomendação é tentar passar as coisas boas de ficar dentro de casa: “A gente vai brincar muito, vai fazer um bolo de chocolate”, citou.

A interrupção no acompanhamento terapêutico dos pacientes, que precisam de um tratamento multidisciplinar, também são um empecilho. As recomendações do Ministério da Saúde (MS) e Organização Mundial de Saúde (OMS) pedem que se limitem os contatos sociais. “Parou tudo. E nesse tempo todo sem estar tendo estimulação, estão deixando de aprender novas habilidades e perdendo habilidades que aprenderam na terapia”, afirmou.

A psicóloga indica que o ideal é que os profissionais continuem o trabalho, seja por vídeochamada ou conversando com os pais. Dessa forma, eles podem aplicar as atividades dentro de casa. “O que a gente tem feito na Somar é manter a intervenção de forma online. Inicialmente em um trabalho com a família, e depois com as crianças”, exemplificou.

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