Localizada na avenida Joana Angélica, a barraca da feirante Mariana Trindade, 23 anos, tem frutas, verduras e álcool em gel. O item de higiene pessoal não está à venda. É que, agora, ele é obrigatório para os feirantes e ambulantes que trabalham no centro da cidade e na Boca do Rio. “Acho uma boa medida, pois podemos higienizar nossas mãos antes de manusear o produto”, disse a vendedora.
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No geral, a presença do álcool em gel deveria também servir para uso dos consumidores, mas eles não têm requerido o item. “Ontem (terça, 19), eu estava com o álcool em gel na barraca, mas alguém passou por aqui e levou. Eu não comprei outro, pois nenhum cliente pediu. Ou seja, roubam o produto que era para ser dado gratuitamente, mas não pedem”, criticou o ambulante Bruno Ficó, enquanto atendia a diversos outros clientes, também na avenida Joana Angélica.
Diferente da terça-feira (19), primeiro dia de suspensão das medidas mais restritivas, nesta quarta, por volta do meio-dia, havia grande movimentação no bairro. Diversas pessoas circulavam na calçada e carros cruzavam a pista, como se não houvesse pandemia. “E isso ainda é pouco, pois estamos voltando. Amanhã isso aqui vai aumentar”, disse a vendedora Vitoria Hellena, 25. Ela estava numa barraca que mantinha distância da dos seus colegas, identificados como Filipe, Tiago e Roberto.
Só Vitória tinha o álcool em gel, que era compartilhado com os amigos. Todos usavam a máscara e buscavam cumprir o distanciamento social. Ao contrário dos comércios e lojas fechadas, onde é possível fazer um controle da quantidade de pessoas que entram no espaço, o mercado informal a céu aberto não permite isso e os próprios clientes geravam uma aglomeração nas barracas.
“A gente vai fazer o quê? Tenho quatro filhos para sustentar. O dinheiro de auxílio não dá para pagar tudo”, disse Tales Alexandre, 29, que também trabalha no local e usava a máscara e álcool em gel. “O álcool, eu percebo que as pessoas não têm solicitado muito”, disse o vendedor.
O CORREIO também encontrou, no espaço, ambulantes que não usavam a máscara corretamente, ou não tinham o álcool à disposição nas barracas. Alguns não souberam justificar as falhas e outros diziam que o item de higiene pessoal estava guardado na mochila. “É complicado, pois o mau exemplo de alguns podem prejudicar a categoria”, disse um ambulante que não quis se identificar, e que cumpria as regras.
No Centro, onde há esquinas e cruzamento de pessoas, a quantidade de ambulantes é grande. Consequentemente, aumenta-se a dificuldade em manter o isolamento. Só na esquina da Rua Vinte e Um de Abril com a Avenida Joana Angélica, por exemplo, era possível contar 10 ambulantes que não mantinham o distanciamento de dois metros de distância dos colegas e não respeitavam a demarcação no chão.
Os seis homens sem máscara que se aglomeravam em um bar no fim de linha da Boca do Rio anunciavam que os bloqueios no bairro já terminaram. Nesta quarta-feira (20), a vida na localidade já retoma os padrões de antes do lockdown. Para os moradores da região, as restrições tiveram um papel fundamental na conscientização da população local.
Apesar do número de pessoas na rua ter voltado a crescer, o porteiro Orlando Santos, 48, acredita que seus vizinhos estão se protegendo mais. “As pessoas estão mais conscientes e usam mais máscara que antes. O bloqueio foi importante porque muita gente não estava acreditando no período do coronavírus antes”, cometa.
Dentre as pessoas que trabalham e circulam pelo bairros, entretanto, algumas não usavam máscaras ou as usavam de forma incorreta. “Tem fregueses que vem sem máscara, tem gente que abaixa pra falar com a gente”, disse a feirante Ingrid Helena Vieira, 29, que tem uma banca de frutas e verduras no fim de linha da Boca do Rio.
Depois de sete dias parada, Ingrid segue as recomendações da prefeitura para evitar um segundo bloqueio no bairro. Na barraca, ela usa álcool em gel, máscara e mantém distância dos outros ambulantes. Entretanto, nem todos os trabalhadores seguem as regras da prefeitura. Em frente à banca de Ingrid, um vendedor trabalhava com a máscara no queixo e sem álcool em gel.
“Tiro minha renda daqui e estava muito preocupada em ficar mais dias sem trabalhar. Tento fazer minha parte, mas nem todo mundo segue as regras. Damos conselhos, mas os outros vendedores não ouvem. Com isso, tenho medo da situação piorar e os bloqueios voltarem”, diz Ingrid.
Alguns ambulantes, que não quiseram falar com a reportagem, chegavam até a não usar máscara. Questionada sobre o que pode acontecer com os ambulantes que descumprem as regras estabelecidas, a Secretaria de Ordem Pública (Semop) informou que realiza a distribuição de máscaras, mas não tem poder de polícia, para atuar contra quem desobedece o decreto municipal. A pasta afirmou que atua apenas de forma educativa e também não é de sua competência realizar apreensão de mercadorias.
A volta do mercado informal no Centro e na Boca do Rio aconteceu com o fim das medidas mais restritivas nos dois bairros. Depois de uma análise de dados dos últimos dias, a prefeitura percebeu que a taxa de contaminação diminuiu nesses locais e resolveu suspender nos locais as medidas de isolamento mais rígidas. No entanto, se a taxa voltar a crescer, os bairros podem voltar a serem incluídos nessa lista, que atualmente é formada pela Liberdade, Lobato e Bonfim, além de, a partir de sexta-feira (22), Brotas e Cosme de Farias.
Os dados que auxiliam nas tomadas de decisões são a quantidade de pessoas circulando nessas localidades, o número de veículos que transitam nessas regiões, o acumulo de novos casos de coronavírus em cada uma dessas áreas, o número de óbitos, e as interdições feitas nos estabelecimentos que descumpriram os decretos municipais nessas localidades.
Além da volta dos ambulantes, os comércios de até 200 metros quadrados puderam reabrir nos locais. “Também temos que usar máscara e fornecer álcool em gel para as pessoas”, disse Emily dos Santos, que é vendedora numa loja de roupas da Boca do Rio.
Procurado, o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindloja), Paulo Motta, não comentou sobre o assunto.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.