Com seis estudos, no mundo, em fase final para o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus, o médico sanitarista e epidemiologista pernambucano Jarbas Barbosa acredita que o Brasil teria capacidade de realizar uma eficiente campanha de vacinação, caso ela viesse a ocorrer contra a covid-19. Em entrevista à Rádio Jornal na manhã desta quinta-feira (6), o especialista ponderou, no entanto, que os desafios atuais envolvem não apenas a confirmação da eficácia dos imunizantes, como a produção e a distribuição destas vacinas.
"O Brasil tem um Programa Nacional de Imunização muito bom, fortalecido. São mais de 30 mil salas de vacina. Tem capacidade e tem expertise para fazer campanha de vacinação. O problema da produção da vacina é mais complexo, com todo processo de transferência tecnológica", ponderou Barbosa, que é diretor-assistente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço regional nas Américas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo ele, é preciso ter um "otimismo prudente" sobre o desenvolvimento das vacinas contra a covid-19, porque além da possibilidade de demorar alguns meses para se descobrir se alguma delas realmente funciona, ainda há a possibilidade de a eficácia ser baixa. "Podemos ter várias vacinas, mas nenhuma delas com 90 a 95%, que é uma boa eficácia. O que também vai, de certa maneira, limitar o uso. Podemos ter vacinas que não funcionem bem em idosos. Ou seja, há muita incerteza. O que temos que garantir é que todas as vacinas passem pelos estudos necessários", acrescentou.
Jarbas comenta que, atualmente, a OMS possui uma iniciativa, chamada Covax, juntamente com o Brasil e outros 139 países, para "compartilhar o risco" dos estudos que estão sendo desenvolvidos. Ele conta que 300 milhões de doses já foram comprometidas para este mecanismo, e que o objetivo é chegar a dois bilhões de doses ao final de 2021. Com este número, seria possível garantir que cada país tenha a quantidade de doses proporcional a 20% da população em uma primeira etapa da vacinação. Neste momento, portanto, seriam imunizados os grupos de maior vulnerabilidade, como pessoas acima de 65 anos, adultos que tenham doenças crônicas, além dos profissionais de saúde.
"Torcemos para que isso se acelere, para que além de termos vacinas que tenham um grau de eficácia muito elevado, possamos antecipar e começar não com 20% da população, mas expandindo. É preciso aguardar mais e lembrar que ainda não temos a vacina, ou seja, ninguém pode relaxar as medidas", explicou o diretor-assistente da Opas. Além do Brasil, participam da Covax países como a Argentina, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e México.
Jarbas Barbosa também falou sobre países que realizaram a compra antecipada de milhões de doses de vacinas, como é o caso dos Estados Unidos. "Corre o risco de quando a gente tiver a vacina, ela não estar disponível de maneira equitativa. Isso é algo que a gente não pode deixar ocorrer, os países ricos terem vacina para toda a população e os em desenvolvimento sequer para vacinar seus grupos vulneráveis. É uma situação impossível de aceitarmos como natural", completou.
Confira a íntegra da entrevista de Jarbas Barbosa
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A Fiocruz Pernambuco realizou o sequenciamento genético de 39 genomas do novo coronavírus (SARS-CoV-2) que circula no estado. O projeto, liderado pelo pesquisador Gabriel Wallau, utilizou o sequenciador de DNA de alto desempenho do Núcleo de Plataformas Tecnológicas (NPT) da instituição. O estudo é realizado com a colaboração do Lacen e de profissionais da Universidade Federal de Pernambuco.
A partir de amostras coletadas no início da pandemia no Estado, a pesquisa identificou pelo menos duas introduções de linhagens europeias e a transmissão comunitária entre os diferentes municípios de Pernambuco e estados vizinhos. A investigação, que prossegue com a meta de alcançar um total de 100 genomas sequenciados, está produzindo dados genômicos importantes que servirão como base para o entendimento sobre os padrões de espalhamento viral; o desenvolvimento de vacinas e o acompanhamento de sua efetividade junto à população local; bem como para a busca de medicamentos eficazes para a covid-19.
Jarbas Barbosa declara que há milhares de sequenciamentos do novo coronavírus em todo o mundo sendo desenvolvidos, e que eles são importantes para monitorar as mutações dos vírus. "Esse sequenciamento indica se o caso (de uma doença viral) veio da Europa, da Ásia ou de outra região. O sequenciamento identifica as características do vírus. É como se fosse a mesma pessoa, mas com a camisa de cor diferente. É muito importante a iniciativa de Pernambuco", acrescenta.