O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou, nesta quinta-feira (28), ao programa Balanço de Notícias, da Rádio Jornal, que o Brasil pode ter uma megaepidemia causada pela nova variante do coronavírus, identificada no Amazonas, em aproximadamente 60 dias. Segundo estudos feitos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e Fiocruz Amazonas, a cepa teria surgido em Manaus em dezembro e vem se disseminando com rapidez.
O avanço da cepa é apontado como uma das razões para a explosão de casos e o consequente colapso no sistema de saúde no Amazonas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a variante encontrada no Brasil já é vista em oito países.
"Havia relatos de profissionais de saúde de Manaus, mas sem confirmação técnica, que esse surto epidêmico que passaram em dezembro foi de um crescimento acelerado e de acometimento horizontal, rápido. E precisou que o Japão, do outro lado do mundo, testasse algumas pessoas do seu país que estava na zona franca de Manaus e retornam ao Japão. Para eles entrarem no país, foram testados e identificaram que uma cepa que tem 13 modificações em relação ao anterior e que está sendo avaliada e se chegando a conclusão que é muito mais transmissível do que a cepa até então circulante", relatou o médico.
Ainda segundo Mandetta, o vírus teve uma mutação na proteína onde ele se liga e, por isso, países do mundo inteiro estão fazendo suas análises e fechando voos do Brasil. "Portugal, Alemanha, Inglaterra não permitem a entrada de brasileiros para não ter mais uma cepa, agora, de maior transmissibilidade", disse.
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O temor do médico é de que os pacientes de Manaus, que apresentaram essa variante da covid-19 e foram transferidos para outros estados devido ao colapso no sistema de saúde da cidade, tenham espalhado o vírus para outros locais do Brasil.
"Se não faz o protocolo de isolamento para atender esses pacientes, vai ficar essa muda plantada nas localidades e vai prevalecendo os espirais de novos casos. Vamos assistir isso nos próximos 60, 90 dias de qual vai ser o comportamento da nova cepa num País que a vacinação está muito devagar", apontou o ex-ministro da Saúde.
Pernambuco foi um dos estados que recebeu os pacientes de Manaus. Até o momento, o Estado acolheu 26 pacientes do estado do Amazonas enviados pelo Ministério da Saúde. Dois dos que estavam internados no Hospital das Clínicas (HC), serviço com gestão federal, foram transferidos, no final da noite dessa terça-feira (26), para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem (antigo Alfa), em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Um dos pacientes veio à óbito nessa quarta (27) e outro nesta quinta-feira (28).
Ministério da Saúde
Para Mandetta, o Ministério da Saúde tem sido ausente no governo Bolsonaro, do qual foi demitido após divergências com o presidente na forma como estava sendo conduzida o combate à pandemia da covid-19 no Brasil.
"A posição do Governo Federal foi de retirar o Ministério da Saúde de qualquer enfrentamento à pandemia. Temos uma crise na prevenção, onde mais uma vez, o presidente fala contra qualquer tipo de não aglomeração. Ele quer que aglomere. Na cabeça dele, ele acha que todos devem pegar a doença e que o número de mortes é fatalismo. O Ministério da Saúde não fala nada e sabotam a prevenção", disse.
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