BRASÍLIA

Bolsonaro demite Mandetta do Ministério da Saúde

Em meio à pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu, nesta quinta-feira (16), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Desde o início da crise sanitária no Brasil, há aproximadamente um mês, os dois protagonizavam um embate acerca das medidas de enfrentamento à doença

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Publicado em 16/04/2020 às 16:23 | Atualizado em 16/04/2020 às 18:36
MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL
Quando me chamaram para ser ministro, a conversa foi boa, disseram: monte sua equipe técnica. Quando chegou o problema verdadeiro na saúde, ele não queria trabalho técnico, ele queria um trabalho político em cima de uma mentira chamada cloroquina." - FOTO: MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL

Com agências

Em meio à pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu, nesta quinta-feira (16), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A notícia foi divulgada por Mandetta em uma publicação no Twitter. O oncologista Nelson Teich assumiu a pasta.

>> 'A ciência é a luz', diz Mandetta ao se despedir do Ministério da Saúde

"Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar. Agradeço a toda a equipe que esteve comigo no MS e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso País", disse.

Desde o início da crise sanitária no Brasil, há aproximadamente um mês, Bolsonaro e Mandetta protagonizavam um embate acerca das medidas de enfrentamento à doença. O desentendimento chegou ao ápice após a entrevista do ministro ao Fantástico, da TV Globo, no domingo (12). O núcleo militar do Palácio do Planalto, que apoiava a permanência dele no governo e tinha convencido o presidente a não exonerá-lo antes, avaliou o episódio como uma provocação.

>> A ascensão do ministro que se baseou em fatos científicos

>> Novo ministro da Saúde, Nelson Teich fala em "alinhamento completo" com Bolsonaro, mas diz que não haverá "movimento brusco"

Depois de escapar na semana passada de uma demissão que muitos davam como certa e ser alertado por militares sobre a necessidade de não expor diferenças com Bolsonaro em público, Mandetta dobrou a aposta e seguiu contrariando o presidente em temas como isolamento social e uso da cloroquina em pacientes infectados pelo coronavírus. A entrevista pegou o mandatário de surpresa e as declarações de Mandetta foram encaradas como um ato premeditado de quem queria forçar a saída.

'A ciência é a luz', diz Mandetta ao se despedir do Ministério da Saúde

Ao se despedir do cargo de ministro da Saúde, na tarde desta quinta-feira (16), Luiz Henrique Mandetta, fez um apelo aos servidores da pasta para que continuem focando na ciência e defendendo o Sistema Único de Saúde (SUS).

"Nada tem significado que não seja uma defesa intransigente da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nesses três pilares, que vocês conquistarão tudo. Esses pilares alimentam a verdade. A ciência é a luz, é o iluminismo. É através dela que vamos sair dessa. Não tenham uma visão única, não pensem dentro da caixinha", pediu durante coletiva de imprensa no Ministério da Saúde.

Anteriormente, Mandetta sinalizou que, se deixasse o cargo, a sua equipe iria embora junto. Na coletiva, no entanto, ele orientou a todos que continuem na pasta se forem solicitados. "Façam o possível para ajudar, é minha última ordem", orientou.

EVARISTO SÁ/AFP
Mandetta durante coletiva nesta quinta-feira (16) - EVARISTO SÁ/AFP

Mandetta ainda agradecia ao trabalho da imprensa na cobertura da pandemia do coronavírus, quando o presidente Jair Bolsonaro deu início ao seu discurso no Palácio do Planalto, para anunciar a chegada do novo ministro, o oncologista Nelson Teich.

"Não posso medir o tamanho do meu agradecimento pelo que aprendi com vocês. Saio daqui com uma experiência simplesmente fantástica", disse Mandetta, que citou Raul Seixas para mencionar sempre esteve aberto a mudar de opinião, quando esta mudança estava cercada de embasamento técnico e científico. "Quantas vezes mudei de posição porque tinha que mudar de opinião. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."

Mandetta disse, ainda, que deixa o ministério "com gratidão ao presidente" e que sabe deixar para trás a melhor equipe. Ele afirmou que teve uma conversa "amistosa" com Bolsonaro na tarde de hoje, mas que o presidente precisava formar uma equipe com "outro olhar". O ex-ministro também disse que deseja boa sorte ao novo ministro. "Trabalhem para o próximo ministro como vocês trabalhavam para mim", disse ex-ministro, ao minimizar o impacto de sua saída.

"Não vai ser esse problema (sua demissão), que é insignificante. Isso não tem mais significado que uma defesa intransigente da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nesses três pilares. A ciência é a luz, o iluminismo. É através dela que nós vamos sair. Que essa transição seja suave, profícua e que tenhamos um bom resultado ao término disso tudo."

Mandetta também fez um agradecimento ao trabalho da imprensa, que "sempre foi parceira da verdade estampada nesse auditório". "Sem vocês, com certeza o País não teria chegada nessa primeira etapa."

Religioso, ex-ministro disse vai rezar pelo País para que tudo passe da melhor forma possível. "Ficarei nas minhas orações, em minha devoção inabalável em Nossa Senhora Aparecida."

Ele concluiu a fala dizendo que, no minuto em que encerra a trajetória como ministro, ele segue "trabalhando o dobro como cidadão". Em meio a especulações de que pode assumir cargo na Secretaria de Saúde de Goiás, o destino de Mandetta ainda é incerto.

Relembre a trajetória de Mandetta no Ministério da Saúde

Antes deputado do baixo clero, Mandetta passou o primeiro ano do governo Bolsonaro sem chamar muito a atenção, distante das polêmicas ideológicas. Comsua atuação técnica, ele ganhou os holofotes no combate ao coronavírus e passou da posição de um dos ministros mais discretos para um dos mais notáveis. Agora, deixa o governo com a popularidade alta, com apoio de líderes do Congresso, do Judiciário, da oposição e até mesmo de bolsonaristas.

Natural do Mato Grosso do Sul, Mandetta é médico ortopedista, com pós-graduação no Brasil e nos Estados Unidos,  e começou a carreira política no MDB, em 2005, quando assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande, cidade onde nasceu. Em 2010, deixou o cargo e o MDB e concorreu a deputado federal pelo DEM. Foi reeleito em 2014, mas não tentou novo mandato quatro anos depois.

LUCIO BERNARDO JR/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Mandetta enquanto deputado, em 2016 - LUCIO BERNARDO JR/CÂMARA DOS DEPUTADOS

Na Câmara, vivia corrigindo a postura de seus colegas. Foi em uma dessas ocasiões que se aproximou de Bolsonaro, à época também deputado. Bolsonaro e Mandetta, que já trabalhou como médico militar tenente no Hospital Geral do Exército, se uniram na oposição ao governo Dilma Rousseff (PT). O ex-ministro foi contra o programa Mais Médicos e defendia revalidação de diplomas para profissionais estrangeiros.

Mandetta se identifica com as pautas de costumes conservadores. Mas, como médico, foi a favor, no Congresso Nacional, de facilitar a importação de medicamentos à base de maconha.

O ortopedista era um dos três ministros do DEM no governo, contando com Tereza Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Cidadania). Para chegar à Esplanada, teve apoio dos dois, à época, Onyx havia sido indicado para a Casa Civil, e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), além do aval de frentes parlamentares da saúde, que reúnem integrantes de várias legendas.

Sobre o ex-ministro pairavam desconfianças sobre sua afinidade com planos de saúde, porque presidiu a Unimed em Campo Grande e disse que pautaria mudanças sobre acesso à rede pública de saúde.

Com perfil discreto, ele é conhecido por não esconder "a real" situação dos fatos. Quando foi convidado para ingressar no governo, avisou Bolsonaro de que era investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois. O presidente não fez reparo e observou, à época, que o médico não era réu.

A suspeita é de que, quando secretário, Mandetta tenha influenciado na contratação de uma empresa, em 2009, para gestão de informações na área, em troca de favores em campanha eleitoral. O Ministério da Saúde repassou R$ 8,16 milhões ao contrato. E a prefeitura, R$ 1,81 milhão. Segundo uma ação de 2015, movida pela Procuradoria de Campo Grande, o serviço não foi entregue e o município teve de devolver à União R$ 14,8 milhões. Mandetta contesta a acusação.

Na véspera da votação da reforma da Previdência na Câmara, no ano passado, quando a Saúde liberou mais de R$ 1 bilhão em emendas, Mandetta admitiu que a pasta fazia um "esforço" para aprovar a matéria. A versão era oposta à de Bolsonaro, que negava relação do pagamento com a votação.

O Ministério Público Federal abriu investigação sobre possível interferência de Bolsonaro, de Mandetta e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), na votação da reforma sob a forma de liberações de emendas. Procurado pelo Estado de S. Paulo, o Ministério da Saúde disse que não iria se posicionar sobre "inquéritos não concluídos".

No Ministério da Saúde, Mandetta mudou de perfil: baixou o tom de críticas ao Mais Médicos e ganhou status de voz ponderada no governo Bolsonaro. Com a voz calma e baseado em dados científicos, as argumentações do ministro começaram a ser escutadas nas coletivas diárias concedidas em Brasília em virtude das operações de contenção da covid-19.

Embate com Bolsonaro sobre coronavírus

De um lado, o presidente exigia o relaxamento da política de isolamento social para salvar os empregos. De outro, o ministro afirmava que uma atitude assim equivalia a "navegar sem instrumentos" e poderia levar o País ao colapso na saúde. Havia, ainda, a polêmica relativa ao uso amplo da cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. Bolsonaro é a favor, Mandetta fazia restrições.

CAROLINA ANTUNES/PR
Bolsonaro e Mandetta durante coletiva no dia 18 de março - CAROLINA ANTUNES/PR

Orientação é para todos

No dia 15 de março, após Bolsonaro ignorar as orientações de distanciamento social ao estimular e participar de protestos pró-governo, Mandetta disse que a orientação do Ministério da Saúde de evitar aglomerações como forma de reduzir amenizar a transmissão da doença valia para todo mundo, inclusive para o presidente. "É ilegal? Não. Mas a orientação é não. E continua sendo não para todo mundo", disse à Folha de S.Paulo.

Humildade

Em 2 de abril, Bolsonaro disse que faltava "humildade" ao então ministro. Segundo Bolsonaro, Mandetta deveria ouvi-lo mais sobre as decisões no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Apesar das divergências, o presidente afirmou que não pretendia demitir o ministro "no meio da guerra". Foi o começo dos conflitos explícitos.

"O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo. Eu não pretendo demitir o ministro no meio da guerra. Agora, ele é uma pessoa que em algum momento extrapolou. Eu sempre respeitei todos os ministros, o Mandetta também. Ele montou o ministério de acordo com sua vontade. Eu espero que ele dê conta do recado", disse Bolsonaro.

Questionado pela reportagem do Estado de S. Paulo sobre as declarações de Bolsonaro, Mandetta respondeu: "Eu só trabalho, lavoro, lavoro".

Na época, o presidente disse ainda que não existia ninguém "indemissível".

Pesquisa Datafolha

Pesquisa do Datafolha divulgada no dia 3 de abril mostrou que a aprovação dos brasileiros ao Ministério da Saúde,subiu 21 pontos percentuais (p.p), de 55% na pesquisa anterior, feita entre 18 e 20 março, para 76%. Também cresceu a reprovação à maneira como o presidente tem agido na crise causada pelo coronavírus. Na pesquisa anterior, 33% reprovavam o trabalho do presidente na crise, parcela que passou para 39% dos entrevistados.

Momento de estresse

Também no dia 3 de abril, Mandetta afirmou que o momento era de estresse e que estava tomado "muito chá de camomila" durante a crise decorrente do novo coronavírus. Ele falou sobre o assunto, em tom bem humorado, durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto para falar sobre a situação da covid-19. 

Em certo momento, houve uma divergência entre um funcionário da equipe presidencial e um fotógrafo que tentava fazer um registro dos ministros presentes."Está todo mundo muito estressado. Estou tomando muito chá de camomila. Tomem também", disse o ministro após ser interrompido.

'Não tenho medo de usar a caneta'

No dia 5 de abril, o presidente  mandou uma série de recados. Em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, ele disse que "algo subiu na cabeça" de pessoas do seu governo, mas que a "hora deles vai chegar". "A minha caneta funciona", afirmou Bolsonaro, sem mencionar nomes.

"Algumas pessoas no meu governo, algo subiu a cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações. Mas a hora deles não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não é para o meu bem. Nada pessoal meu. A gente vai vencer essa", declarou o presidente.

Questionado pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo cerca de uma hora após as declarações, Mandetta afirmou que ainda não tinha visto a frase. "Eu estou dormindo", disse, parecendo bocejar ao telefone. "Amanhã eu vejo, tá?", completou, antes de encerrar a ligação.

Primeiro rumor de demissão

Segundo o jornal O Globo, a demissão de Mandetta estaria sendo preparada pelo governo para ser publicada em edição extra do Diário Oficia no dia 6 de abril. Os rumores levaram rapidamente o sobrenome do então ministro a liderar a lista dos assuntos mais comentados do Twitter brasileiro.

Durante a tarde, Mandetta foi ao Palácio do Planalto para reunião com o presidente e ministros. Também participaram o vice-presidente Hamilton Mourão, e presidentes de bancos públicos. Enquanto isso, técnicos da saúde participaram de coletiva de imprensa sobre a situação do coronavírus no País.

'Paz para continuar'

Mesmo contrariado, Bolsonaro cedeu ao apelo dos militares e manteve Mandetta no cargo. Algumas horas depois, em coletiva, Mandetta anunciou que continuaria à frente da pasta, mas pediu "paz" para continuar a trabalhar. Ele reclamou de críticas que traziam dificuldade ao ambiente da sua equipe, mas disse que reunião tinha trazido mais "união" ao governo. "Começamos a semana com mais um solavanco, esperamos que possamos seguir em paz", disse.

'Médico não abandona paciente'

Durante o pronunciamento, Mandetta repetiu frases como "lavoro, lavoro (trabalho, em italiano)". Ele também disse que "um médico não abandona o paciente".

Mandetta falou insistentemente no respeito à ciência e citou o O Mito da Caverna, alegoria que mostra o embate entre a ciência e a ignorância.

>> O Mito da Caverna é o embate entre a ciência e a ignorância

No dia 9 de abril, em sua live semanal nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que "o médico não abandona o paciente, mas o paciente pode trocar de médico".

Bolsonaro provoca aglomeração

Em visita à cidade goiana de Águas Lindas na manhã do sábado, 11 de abril, o presidente repetiu mais uma vez o que tem feito nos últimos dias ao sair pelas ruas: provocar aglomeração. Depois da visita à obra de um hospital de campanha na cidade, Bolsonaro decidiu ir ao encontro de apoiadores que o aguardavam na saída do local. Eufóricas, as pessoas tiravam fotos e tentavam se aproximar do presidente.

Mandetta, no entanto, só participou da visita ao hospital e não seguiu para o passeio para cumprimento aos populares. "A recomendação de não aglomeração vale para todos", disse ele logo depois de o presidente ir ao encontro das pessoas.

MARCOS CORRÊA/PR
Visita ao Hospital de campanha de Águas Lindas, Goiás - MARCOS CORRÊA/PR

Coronavírus 'está começando a ir embora'

O presidente disse no domingo, 12 de abril, durante uma celebração de Páscoa com líderes religiosos, que o novo coronavírus "está começando a ir embora". De acordo com o Ministério da Saúde, porém, a situação mais crítica, ao menos em São Paulo e no Rio de Janeiro, deve ser vivenciada apenas no final de abril e no início de maio.

'Brasileiro não sabe se escuta ministro ou presidente'

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, no mesmo dia, Mandetta pediu para que as pessoas mantenham o isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus e, em recado ao presidente, cobrou uma "fala única" sobre o problema para não confundir a população.

Na entrevista, o então ministro disse que os meses de maio e junho serão os mais duros no enfrentamento da covid-19 no País. A fala de Mandetta contrariou a posição de Bolsonaro.

REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Mandetta em entrevista ao Fantástico - REPRODUÇÃO/TV GLOBO

"Isso preocupa, porque a população olha e fala assim ‘Será que o ministro da Saúde é contra o presidente’? Quem a gente tem de ter foco, esse aqui que é o nosso problema é o coronavírus. Ele é o principal inimigo. Se eu estou ministro da Saúde, por obra de nomeação do presidente. O presidente olha pro lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, mas chama pelo lado de proteção à vida", disse Mandetta.

"Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e que a gente possa ter uma fala única. Isso leva para o brasileiro uma dubiedade. Ele não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente", disse Mandetta.

Durante a entrevista, Mandetta também criticou o comportamento de pessoas que têm quebrado o isolamento. "Quando você vê as pessoas entrando em padaria, supermercado, fazendo fila, piquenique isso é claramente uma coisa equivocada", avaliou o ministro.

No dia 9 de abril, Bolsonaro ignorou orientações de distanciamento social e foi a uma padaria na Asa Norte, em Brasília. O chefe do Executivo provocou mais agrupamentos no dia seguinte quando foi a uma drogaria. Na ocasião ele fez questão de deixar claro: "ninguém vai tolher meu direito de ir e vir".

 
 
 
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.Via @patriotasbr_ : Bolsonaro foi na farmácia e jornalistas fizeram aglomeração.

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'Eu não assisto a Globo, tá ok?'

O presidente evitou comentar nessa segunda-feira (13) sobre a entrevista concedida na véspera por Mandetta. Na saída do Palácio da Alvorada, o presidente disse para apoiadores e depois para jornalistas que não assistia à emissora. Desde o dia 2 de abril, Bolsonaro não dava declarações para a imprensa na frente da residência oficial.

"Eu não assisto a Globo. Pessoal da imprensa, eu não assisto a Globo, tá ok? Bom dia para vocês", declarou. Antes, para apoiadores indagou quando perguntado: "vou perder tempo da minha vida assistindo a Globo agora?".

Mandetta fala em erro

Mandetta admitiu a auxiliares ter cometido um erro estratégico ao elevar o tom do embate com o presidente  sobre a conduta do governo federal no enfrentamento ao novo coronavírus e deve submergir, nos próximos dias, para sair do foco da crise.

'Mandetta fez falta grave, diz Mourão

Na terça-feira (14), em entrevista da estreia da série "Estadão Live Talks", o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que Mandetta "cruzou a linha da bola" quando disse que a população não sabe se deve acreditar nele ou em Bolsonaro.

"Cruzar a linha da bola é uma falta grave no polo. Nenhum cavaleiro pode cruzar na frente da linha da bola", explicou o vice. "Ele fez uma falta. Merecia um cartão", continuou.

Perda de apoio dos militares

Mandetta perdeu apoio de militares do governo - que viram em sua entrevista ao Fantástico um tom de provocação - e até de alguns aliados em secretarias estaduais da Saúde. Integrantes do ministério observaram que, embora esteja defendendo orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mandetta adotou tática errada ao falar em "dubiedade" na equipe sobre medidas para combater a pandemia.

Mesmo depois de alertado por militares sobre a necessidade de não expor diferenças com Bolsonaro em público, o ministro dobrou a aposta e seguiu contrariando o presidente sobre temas como isolamento social e uso da cloroquina em pacientes diagnosticados com coronavírus. A entrevista ao Fantástico pegou Bolsonaro de surpresa e as declarações de Mandetta foram encaradas como um ato premeditado de quem queria forçar a demissão.

Bolsonaro fala a apoiadores em 'tocar o barco' 

O presidente Bolsonaro afirmou nessa quarta-feira (15) que trabalhava para resolver "a questão da Saúde" e "tocar o barco". A declaração foi feita a apoiadores que o aguardavam em frente ao Palácio da Alvorada, pela manhã. "Pessoal, estou fazendo a minha parte, tá ok?", disse o presidente para apoiadores sobre a crise do coronavírus. 

Secretário pede demissão

Apontado como um dos principais mentores da estratégia de combate ao novo coronavírus no governo, o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, enviou uma mensagem de despedida aos colegas pela manhã. Na carta, ele afirma que teve reunião com Mandetta e "sua saída estava programada para as próximas horas ou dias". Oliveira disse que até uma demissão do ministro da Saúde pelo Twitter poderia ocorrer.

Mandetta não aceita demissão de secretário

Mandetta afirmou em coletiva nessa quarta-feira (15) que não aceitou o pedido de demissão do secretário. o lado de Wanderson e do secretário executivo do ministério da Saúde, João Gabbardo, Mandetta afirmou que ele e sua equipe entraram juntos e só deixariam a pasta juntos.

"Entramos no ministério juntos, estamos no ministério juntos e sairemos do ministério juntos", disse Mandetta durante entrevista coletiva à imprensa sobre novo coronavírus que ocorre diariamente no Palácio do Planalto. "Estamos todos aqui juntos e misturados, mais um pouco", afirmou em outro momento.

Críticas ao críticas ao uso da hidroxicloroquina para tratar coronavírus

Na coletiva dessa quarta-feira (15), Mandetta manteve as críticas ao uso da hidroxicloroquina para pacientes em estágio inicial da covid-19 e defendeu que a prescrição seja feita no âmbito da relação entre médico e paciente. "É normal que numa situação como essa as pessoas queiram se agarrar numa possibilidade de cura e solução", disse.

O presidente Bolsonaro é um dos maiores entusiastas do uso da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento do novo coronavírus. Ele já defendeu a adoção dessa terapia em cadeia nacional. Especialistas concordam que os estudos científicos não são ainda suficientes para que a utilização seja feita com segurança.

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Mandetta durante coletiva sobre o coronavírus - FOTO:ANDERSON RIEDEL/PR
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Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pagou para ver: 'só saio demitido' - FOTO:CAROLINA ANTUNES/PR
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Visita ao Hospital de campanha de Águas Lindas, Goiás - FOTO:MARCOS CORRÊA/PR
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Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta - FOTO:REPRODUÇÃO/TV GLOBO
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Mandetta enquanto deputado, em 2016 - FOTO:LUCIO BERNARDO JR/CÂMARA DOS DEPUTADOS
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Ex-ministro Luiz Henrique Mandetta desejou "toda a sabedoria para conduzir nesse nosso País" - FOTO:EVARISTO SÁ/AFP

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