Grupo com astrofísico pernambucano cria mapa mais nítido do céu baseado em raios gama
Para construir o mapa, os pesquisadores se guiaram pelos raios gamas, um tipo de radiação eletromagnética de alta frequência que pode ser produzido em fenômenos astrofísicos
Já pensou em mapear o céu? Foi isso que quatro astrofísicos, dentre eles um pernambucano, do Grupo de Buracos Negros da Universidade de São Paulo (USP) fizeram, com a ajuda de dados do Telescópio Espacial Fermi, da Nasa.
Para construir o mapa, os pesquisadores se guiaram pelos raios gamas, um tipo de radiação eletromagnética de alta frequência que pode ser produzido em fenômenos astrofísicos. A partir disso, atribuíram cores específicas aos locais com diferentes níveis de radiação gama e puderam mapear as fontes mais e menos energéticas do céu.
"É comum, quando o estudante está aprendendo a reduzir dados de raios gamas, que eles construam mapas do céu em raios gama. Esses mapas são chamados de mapas de contagem, que é quando você observa uma região do céu e conta fóton por fóton que chegou ali, onde cada elemento da matriz vai ter um certo número de fótons. Quanto mais fótons em cada elemento, mais brilhante é aquele elemento, formando uma imagem final. É similar a um JPEG ou um PNG", explica o cientista pernambucano Raniere Menezes, um dos criadores do mapa.
Raniere graduou-se em física na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e fez mestrado e doutorado em astronomia na USP. Foi na Universidade de São Paulo que ele realizou o mapeamento do céu, durante treinamento dos mestrandos Lucas Siconato e Douglas Carlos.
"Quando fui ajudar esses estudantes no treinamento, propus a ideia da gente mapear o céu inteiro e dividir em bandas de energia. Um aluno mapeou a energia mais baixa, outro as energias intermediárias e eu mapeei as energias mais altas. Para cada banda de energia a gente associou uma cor. E, assim, tentamos gerar uma imagem com as cores do ótico num comprimento de onda que à princípio é invisível ao olho humano", revelou.
No mapa, as regiões mais avermelhadas apontam os locais de menor radiação, enquanto as esverdeadas apontam energias intermediárias e as azuladas as regiões mais energéticas. Em termos de energia, a radiação que o o olho humano consegue enxergar é de 1 elétron volt, enquanto a radiação observada pelo mapa, em sua faixa mais baixa, é de 100 milhões a um bilhão de elétron volts.
Veja o mapa:
"A faixa mais baixa que conseguimos mapear já é de 100 milhões a um bilhão mais alta do que a que o ser humano consegue enxergar. A de energia intermediária vai de um bilhão a 10 bilhões e a de energia mais alta vai de 10 bilhões até um trilhão de elétron volts", afirmou o cientista.
A construção do mapa, apesar de parecer complicada, foi rápida e durou cerca de uma semana. O passo mais demorado do processo, porém, foi a coleta de dados do céu, realizada com o Telescópio Espacial Fermi, que durou pouco mais de 12 anos de observações. Essa etapa foi realizada por uma equipe de cientistas e engenheiros da NASA e todos os dados obtidos foram publicados na Internet.
"Qualquer um que souber como usá-los, consegue fazer o download dos dados. Já as técnicas de redução e análise desses dados são um pouco mais complicadas e exigem uma boa experiência acadêmica", disse o pesquisador.
O trabalho, que é liderado pelo professor Rodrigo Nemmen, do IAG-USP, teve financiamento da FAPESP, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e uma bolsa de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além disso, o mapa foi publicado no Astronomy Picture of the Day, website da Nasa.