Atualizada às 17h52
O número de mortos no temporal que atingiu a cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, subiu para 94 nesta quarta-feira (16), onde é travada uma corrida contra o tempo para encontrar eventuais sobreviventes debaixo da lama e dos escombros.
"É quase uma situação de guerra", disse Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, na área do desastre.
O governo confirmou no início da tarde 94 mortes, um número que cresce sem parar com o passar das horas, após o temporal da tarde de terça-feira na cidade imperial, localizada 68 quilômetros ao norte do Rio.
Segundo as autoridades locais, houve 189 deslizamentos de terra e inundações, que deixaram casas reduzidas a escombros em morros devastados e veículos empilhados nas ruas tomadas por água e barro.
As equipes de resgate trabalham para socorrer as pessoas afetadas por deslizamentos de terra e inundações, constataram jornalistas da AFP.
Wendel Pio Lourenço, um morador de 24 anos, caminhava com uma televisão nos braços em direção a uma igreja próxima em busca de abrigo. Sem dormir desde ontem, colaborava no resgate e tentava salvar alguns pertences. "Encontrei viva uma menina que estava soterrada", contou à AFP.
A igreja de Santo Antônio, próxima à área do desastre, abriu as portas para receber mais de 150 pessoas, retiradas de suas casas pelas enchentes ou pelo risco de deslizamento de terra devido ao temporal.
"Muitos dos que chegam perderam tudo, ou perderam seus parentes, é uma situação difícil", disse à AFP o pároco da igreja, Celestino.
As autoridades calculam que 80 casas tenham sido afetadas no Morro da Oficina, a área mais atingida, enquanto danos foram reportados em outras seis áreas, segundo as autoridades municipais.
Quase 300 pessoas estão sendo atendidas principalmente nas escolas, acrescentou o governo local.
E 400 militares trabalham no local, juntamente com as equipes da Defesa Civil e dos Bombeiros, com veículos, barcos e uma dezena de aeronaves, informaram à AFP fontes do Corpo de Bombeiros do Estado.
"É uma coisa que ninguém esperava. Foi desesperador, muito triste", disse Elisabete Pio Lourenço, de 32 anos.
Até o momento, as autoridades não informaram o número de desaparecidos.
Em viagem à Rússia, o presidente Jair Bolsonaro desejou que "Deus conforte os familiares" das vítimas da "catástrofe" em Petrópolis, em entrevista coletiva conjunta com o anfitrião, Vladimir Putin, a quem agradeceu pela solidariedade diante do ocorrido.
O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, garantiu que o presidente estará "no local" na sexta-feira.
- Fenômenos extremos -
A prefeitura de Petrópolis declarou "estado de calamidade" na noite de terça-feira para lidar com a emergência e o governador do estado, Cláudio Castro, visitou o local para manifestar seu apoio.
A meteorologista Estael Sias informou em nota no site da MetSul que a precipitação acumulada é incomum e garante que este desastre não é o primeiro nem será o último, dadas as condições climáticas, topográficas e da população na região.
O Brasil passou por episódios de chuvas intensas nos últimos três meses, principalmente nos estados da Bahia e Minas Gerais, que deixaram dezenas de mortos e causaram danos a centenas de municípios.
Os cientistas argumentam que, devido às mudanças climáticas, os eventos climáticos extremos se tornarão cada vez mais frequentes.
Em janeiro de 2011, mais de 900 pessoas morreram na região serrana do estado do Rio devido às fortes chuvas, que causaram inundações e deslizamentos de terra em uma vasta área, incluindo Petrópolis e as cidades vizinhas Nova Friburgo, Itaipava e Teresópolis.
Petrópolis, de cerca de 300 mil habitantes, é uma cidade turística pelo seu valor histórico, pela natureza no entorno e por um clima mais ameno em comparação com o litoral do Rio de Janeiro.
No passado, foi estância de veraneio da antiga Corte Imperial brasileira. Durante o século XVIII e início do XIX, foi um ponto crucial no caminho entre Rio e Minas Gerais, que encantou o imperador Pedro I pelo clima e pela paisagem.
O monarca comprou terras para algum dia construir sua residência de verão por lá. Mas foi seu herdeiro, Pedro II, quem mandou construir o edifício neoclássico concluído em 1862, onde hoje funciona um museu.