Equipes de resgate e voluntários procuravam desesperadamente, nesta quinta-feira (17), pessoas desaparecidas após as chuvas torrenciais que deixaram ao menos 110 mortos na cidade de Petrópolis, enquanto o tempo é cada vez mais curto e há risco de novos deslizamentos de terra e tempestades.
Os moradores continuam retirando lama e procurando os desaparecidos do temporal de terça-feira (15), que deixou um rastro de destruição nesta cidade do norte do Rio de Janeiro, depois da chuva mais intensa em 90 anos.
Na manhã desta quinta, eram inúmeras as casas reduzidas as escombros pela força das águas dos rios transbordados que arrastaram tudo em seu caminho.
"Fui criado aqui, conheço todo o mundo. Vim para ajudar o pessoal (de resgate). É surreal. Infelizmente vai ser difícil encontrar alguém com vida. Como está tudo aqui, é praticamente impossível, mas pelo menos (temos) que entregar os corpos para que a família possa enterrá-los e ter sossego", declarou à AFP Luciano Gonçalves, um voluntário de 26 anos, coberto de lama e com uma enxada na mão, enquanto revira a terra.
"Temos que trabalhar com muita cautela, porque ainda tem muita área de risco", explicou, emocionado.
Outros, que perderam seus familiares, permaneciam sentados em frente às suas casas, com o olhar perdido em meio a tanta destruição.
As autoridades ainda não divulgaram oficialmente o número de desaparecidos, mas o Ministério Público disse, na noite de ontem, que 35 pessoas foram "cadastradas" como desaparecidas em seu serviço de localização.
O balanço dramático de vítimas continua a subir com o passar das horas, após o pior temporal dos últimos 90 anos ocorrido na tarde de terça-feira. As intensas chuvas causaram quase 300 deslizamentos de terra em vários pontos da cidade.
Cerca de 500 bombeiros retomaram as tarefas de resgate logo ao amanhecer, depois de pararem brevemente, durante a noite, devido ao solo instável.
"Mais chuvas fortes"
O governo federal alertou para um risco "muito alto" de novos deslizamentos na região serrana do Rio, "especialmente em Petrópolis", devido à previsão de mais chuvas para os próximos dias, assim com para a ameaça de novas "inundações".
De acordo com a Defesa Civil, "há previsão de fortes chuvas para a tarde e a noite" de hoje, o que pode complicar ainda mais as tarefas de resgate, que envolvem cães, tratores, caminhões, botes e uma dezena de aeronaves.
Segundo especialistas, a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles, o excesso de chuvas, a topografia da região e a existência de grandes comunidades de casas precárias, muitas delas construídas ilegalmente, em íngremes áreas de risco.
Alguns pontos de Petrópolis receberam até 260 milímetros de chuva em menos de seis horas, um volume superior à média histórica de todo mês de fevereiro (240 mm), conforme dado da agência meteorológica MetSul.
"Foi a pior chuva desde 1932", declarou o governador do Rio, Claudio Castro, na quarta-feira.
Nos últimos três meses, o Brasil tem passado por episódios de chuvas intensas, sobretudo, nos estados da Bahia e de Minas Gerais, que deixaram dezenas de mortos e causaram inúmeros danos em centenas de municípios.
Os cientistas afirmam que, em função da mudança climática, fenômenos meteorológicos extremos serão cada vez mais frequentes.