Atualizada às 15h36
O número de mortes pela chuva em Petrópolis chegou a 130, segundo a Defesa Civil estadual. Na última terça-feira (15), forte temporal caiu sobre a cidade da região serrana fluminense, provocando deslizamentos e enchentes em vários pontos.
Nessa quinta (18), outro temporal atingiu a cidade, provocando novas enchentes. Ruas do centro histórico precisaram ser interditadas devido a alagamentos. Sirenes tocaram em alguns locais e pessoas tiveram que sair de suas casas em locais como a Quitandinha. Na comunidade 24 de Maio, novo deslizamento foi registrado.
De acordo com a Defesa Civil municipal de Petrópolis, núcleos de chuva de fraca a moderada se deslocam em direção à cidade.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, deve sobrevoar o município na manhã desta sexta. Em seguida, deve participar de reunião de trabalho com autoridades locais para definir medidas emergenciais.
Sirenes de alerta
As autoridades da cidade de Petrópolis acionaram nessa quinta-feira (17) as sirenes de alerta para evacuar as zonas de risco diante de novas chuvas intensas, dois dias depois de um temporal histórico provocar deslizamentos de terra e inundações.
Vizinhos de vários bairros da cidade serrana, localizada 68 km ao norte do Rio de Janeiro, foram alertados ao fim de tarde pelas sirenes e mensagens de texto a se protegerem em casas de familiares ou abrigos públicos "devido ao volume de chuva que afeta a cidade e que continuará com intensidade moderada e forte nas próximas horas", informou a Defesa Civil.
Pelo menos duas ruas foram fechadas e os vizinhos evacuados preventivamente, após um deslizamento de "blocos rochosos", que não deixou feridos, completou a Defesa Civil.
As novas precipitações ocorrem 48 horas depois que as piores chuvas em 90 anos nesta antiga cidade imperial deixaram um rastro de destruição e cenas arrepiantes nas ruas e encostas transformadas em rios que arrastam carros, ônibus com passageiros e tudo o que estiver em seu caminho.
"Tenho medo ao ver que voltou a chover, porque o solo continua empapado. Penso nas famílias que vivem nos bairros onde já morreram muitas pessoas e me desespero", declarou à AFP Rodne Montesso, morador de Petrópolis de 45 anos, cuja casa não corre risco.
Enquanto o cemitério municipal se organizava para realizar sucessivos enterros das vítimas, socorristas e voluntários continuavam buscando desesperadamente por pessoas desaparecidas entre a lama e os escombros, com cada vez menos esperanças de encontrar alguém com vida.
"Infelizmente vai ser difícil encontrar alguém com vida. Como está tudo aqui, é praticamente impossível, mas pelo menos (temos) que entregar os corpos para que a família possa enterrá-los e ter sossego", declarou à AFP Luciano Gonçalves, um voluntário de 26 anos, coberto de lama e com uma enxada na mão, enquanto revira o barro em Alto da Serra, um dos bairros mais atingidos.
Segundo as autoridades, cerca de 500 bombeiros, com a ajuda de centenas de voluntários, cães, escavadeiras, caminhões, botes e uma dezena de aeronaves são utilizados nas tarefas de resgate.
A Polícia Civil afirma que até esta quinta-feira havia 116 registros de desaparecimentos. O Ministério Público disse à AFP que em seu serviço de localização de pessoas estão cadastrados 35 casos.
Até agora, cerca de 850 deslocados foram transferidos para abrigos improvisados, a grande maioria em escolas públicas.
Após sua viagem à Rússia e Hungria, o presidente Jair Bolsonaro visitará na manhã desta sexta-feira a área afetada desta cidade turística.
Segundo especialistas, a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles, uma chuva de seis horas que supera a média histórica de todo o mês de fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes comunidades de casas precárias, muitas delas construídas ilegalmente, em íngremes áreas de risco.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, afirmou que a "pior chuva desde 1932" uniu uma "tragédia histórica" a um "déficit que realmente existe" em infraestrutura e habitação.
Desastre climático e desenvolvimento descontrolado
Para Estael Sias, meteorologista da agência Metsul, os mais pobres são os que mais pagam por essa combinação de desastres climáticos e desenvolvimento urbano descontrolado.
"Aqueles que acabam tendo que morar nessas regiões de risco são os mais vulneráveis, os que estão mais expostos a esse tipo de situação. E isso sem contar que estamos vivendo uma crise econômica, produto da pandemia que piorou tudo, porque a quantidade de pessoas que saíram de áreas que não eram de risco para se instalar em áreas de risco certamente aumentou", explicou.
Nos últimos três meses, o Brasil tem passado por episódios de chuvas intensas, sobretudo, nos estados da Bahia e de Minas Gerais, que deixaram dezenas de mortos e causaram inúmeros danos em centenas de municípios.
Os cientistas afirmam que, em função da mudança climática, fenômenos meteorológicos extremos serão cada vez mais frequentes.
Em janeiro de 2011, mais de 900 pessoas morreram na região serrana do estado do Rio devido às fortes chuvas que causaram grandes danos em várias cidades, incluindo Petrópolis.