Tragédia

"Vimos uma imagem quase de guerra", diz Bolsonaro em Petrópolis

De volta de sua viagem à Rússia e à Hungria, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a cidade nesta sexta-feira e visitou a área devastada, acompanhado de vários de seus ministros

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AFP

Publicado em 18/02/2022 às 12:32 | Atualizado em 18/02/2022 às 20:57
Bolsonaro sobrevoou cidade nesta sexta-feira (18) - Clauber Cleber Caetano/PR

Atualizada às 15h36

A cidade serrana de Petrópolis amanheceu com uma forte chuva nesta sexta-feira (18), três dias após um temporal histórico que deixou ao menos 129 mortos e cobriu bairros inteiros de lama, sob a qual ainda há desaparecidos.

De volta de sua viagem à Rússia e à Hungria, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a cidade nesta sexta-feira e visitou a área devastada, acompanhado de vários de seus ministros.

"Vimos uma intensa destruição, uma imagem quase de guerra", disse Bolsonaro em sua chegada, em declarações transmitidas pela televisão.

O presidente se defendeu das críticas pela tragédia, que ocorreu em uma área montanhosa de construções precárias.

"Nós não temos como nos precaver de tudo o que possa acontecer nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados. A população logicamente tem razão em criticar, mas aqui é uma região bastante acidentada. Infelizmente tivemos outras tragédias aqui. Vamos fazer a nossa parte", acrescentou.

O papa Francisco expressou "suas condolências" e compartilhou "a dor de todos os enlutados, ou despojados de seus haveres", em um telegrama em português enviado ao bispo de Petrópolis, Gregório Paixão Neto.

Nesta antiga cidade imperial, situada 68 quilômetros ao norte do Rio de Janeiro em uma região serrana, mais de 500 bombeiros e centenas de voluntários, com a ajuda de cães, escavadeiras e aeronaves, trabalham incansavelmente. A esperança de encontrar vítimas com vida se esgota, no entanto, a cada hora que passa.

Pela manhã, as autoridades municipais voltaram a ativar as sirenes de alerta, em meio a uma forte chuva que ameaça provocar novos deslizamentos.

Em Alto da Serra, um dos bairros mais afetados com dezenas de casas engolidas pela lama, um alto-falante alertava os moradores: "Atenção, moradores, dirijam-se para locais seguros e pontos de apoio", em meio a uma pressa caótica das máquinas que retiram escombros, observou a AFP.

"Todo o mundo está com muito medo. Qualquer barulho você se assusta. Toda a cidade está assim. É apavorante", disse à AFP Antenor Alves de Alcântara, um aposentado de 67 anos, que se mudou com seus familiares para a colina mais próxima.

"É bom o presidente nos visitar, mas não vai mudar nada", acrescentou.

Na terça-feira (15), o volume de chuva foi tão grande que várias colinas da cidade desabaram, levando torrentes de lama que sepultaram dezenas de casas e arrastaram carros, ônibus com passageiros e tudo em seu caminho.

Um desastre com números cada vez mais dramáticos.

Por enquanto, há 129 mortos confirmados, 24 resgatados e 849 deslocados. Os números de desaparecidos são confusos, devido aos poucos corpos identificados.

Até quinta-feira, a Polícia Civil registrava 116 desaparecidos, segundo a imprensa local. O Ministério Público informou à AFP que, em seu serviço para localização de pessoas, estão registradas 35. Ambos os números serão revisados, à medida que sobreviventes forem localizados, ou corpos identificados.

O governo federal anunciou o desbloqueio de uma ajuda de 2,3 milhões de reais, enquanto o Ministério do Desenvolvimento Regional afirmou que vai facilitar novas quantias nos próximos dias.

As chuvas voltaram com força na quinta-feira à noite. As tarefas de resgate foram suspensas, e moradores de vários bairros receberam alertas e mensagens de texto para ficarem na casa de familiares, ou procurar abrigos públicos, "devido ao volume de chuva que afeta a cidade e que seguirá, com intensidade entre moderada e forte, nas próximas horas", informou a Defesa Civil local.

Ao menos duas ruas foram fechadas, e seus moradores, retirados, preventivamente, após um deslizamento de "blocos rochosos", que não deixou feridos, acrescentou a instituição.

Os especialistas afirmam que a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles uma chuva em seis horas maior que a média histórica de todo fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes bairros com casas precárias, muitas delas construídas de forma ilegal, nas áreas de risco.

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