RIO DE JANEIRO

Chuva volta a cair em Petrópolis, que continua somando mortos pelo temporal

A cidade serrana voltou a registrar fortes chuvas nesta sexta-feira (18), três dias após um temporal histórico que deixou ao menos 129 mortos e cobriu bairros inteiros de lama

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AFP

Publicado em 18/02/2022 às 15:54 | Atualizado em 18/02/2022 às 18:31
DESASTRE Equipes se reversam para resgatar as vítimas da maior enchente das últimas décadas na cidade
DESASTRE Equipes se reversam para resgatar as vítimas da maior enchente das últimas décadas na cidade - CARL DE SOUZA / AFP

Atualizada às 18h31

A cidade serrana de Petrópolis voltou a registrar fortes chuvas nesta sexta-feira (18), três dias após um temporal histórico que deixou ao menos 129 mortos e cobriu bairros inteiros de lama, sob a qual ainda há desaparecidos.

De volta de sua viagem à Rússia e à Hungria, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a cidade nesta sexta-feira e visitou brevemente a área devastada, acompanhado de vários de seus ministros.

"Vimos uma intensa destruição, uma imagem quase de guerra", disse Bolsonaro em sua chegada, em declarações transmitidas pela televisão.

O presidente se defendeu das críticas pela tragédia, que ocorreu devido a chuvas torrenciais em uma área montanhosa de construções precárias.

"Nós não temos como nos precaver de tudo o que possa acontecer nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados. A população logicamente tem razão em criticar, mas aqui é uma região bastante acidentada. Infelizmente tivemos outras tragédias aqui. Vamos fazer a nossa parte", acrescentou.

Nesta antiga cidade imperial, situada ao norte do Rio de Janeiro em uma região serrana, o trabalho de busca não para, apesar de a esperança de encontrar vítimas com vida seja escassa.

"Pode haver 50 pessoas aqui"

O Morro da Oficina, uma das colinas do bairro Alto da Serra, pode ser considerado o epicentro da tragédia. Cerca de 80 casas foram engolidas com força pelas torrentes de barro que arrastaram carros, ônibus com passageiros e tudo ao seu redor.

"Pode ser que ainda tenha mais de 50 pessoas aqui embaixo, desde terça-feira já foram retirados 98" corpos, explicou à AFP Roberto Amaral, coordenador do grupo especializado em desastres naturais do Corpo de Bombeiros Civis, enquanto efetivos e voluntários retiravam escombros e cavavam a lama com pás e enxadas em busca de algum vestígio de vida.

"Gostaríamos de terminar o quanto antes, mas aqui temos que trabalhar até que saia o último", acrescentou.

Pela manhã, choveu com força e as autoridades municipais voltaram a ativar as sirenes de alerta por riscos de deslizamento. Após o meio-dia, a chuva deu uma trégua.

Uma cidade com medo

"Todo o mundo está com muito medo. Qualquer barulho você se assusta. Toda a cidade está assim. É apavorante", disse à AFP Antenor Alves de Alcântara, um aposentado de 67 anos, que se mudou com seus familiares para a colina mais próxima.

"É bom o presidente nos visitar, mas não vai mudar nada", acrescentou.

O papa Francisco expressou "suas condolências" e compartilhou "a dor de todos os enlutados, ou despojados de seus haveres", em um telegrama em português enviado ao bispo de Petrópolis, Gregório Paixão Neto.

O desastre apresenta números cada vez mais dramáticos.

Por enquanto, há 129 mortos confirmados, 24 resgatados e 849 deslocados. Os números de desaparecidos são confusos, devido aos poucos corpos identificados que, segundo a Agência Brasil, são 57.

Até quinta-feira, a Polícia Civil registrava 116 desaparecidos, segundo a imprensa local. O Ministério Público informou à AFP que, em seu serviço para localização de pessoas, estão registradas 35. Ambos os números serão revisados, à medida que sobreviventes forem localizados, ou corpos identificados.

O governo federal anunciou o desbloqueio de uma ajuda de 2,3 milhões de reais, enquanto o Ministério do Desenvolvimento Regional afirmou que vai facilitar novas quantias nos próximos dias.

As chuvas voltaram com força na quinta-feira à noite. As tarefas de resgate foram suspensas, e moradores de vários bairros receberam alertas e mensagens de texto para ficarem na casa de familiares, ou procurar abrigos públicos.

Ao menos duas ruas foram fechadas, e seus moradores, retirados, preventivamente, após um deslizamento de "blocos rochosos", que não deixou feridos.

Os especialistas afirmam que a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles uma chuva em seis horas maior que a média histórica de todo fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes bairros com casas precárias, muitas delas construídas de forma ilegal, nas áreas de risco.

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