Investigações

Polícia ouve suspeito de envolvimento no desaparecimento de jornalista inglês e indigenista no Amazonas

Os dois sumiram no domingo (5), na região do Vale do Javari

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Cássio Oliveira

Publicado em 08/06/2022 às 7:57 | Atualizado em 08/06/2022 às 19:25
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A polícia do Amazonas ouviu, nessa terça-feira (7), um suspeito de envolvimento no desaparecimento do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista brasileiro e servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Araújo Pereira.

Os dois sumiram no domingo (5), na região do Vale do Javari, no estado do Amazonas. Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), eles desapareceram no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte.

Além do suspeito, a polícia do Amazonas também ouviu outras quatro pessoas na condição de testemunhas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do AM (SSP-AM), não houve nenhuma prisão por envolvimento no caso.

A polícia não revelou as identificações das pessoas ouvidas, mas informou que segue com as investigações e que está "tomando todas as medidas cabíveis para auxiliar na elucidação do caso, em colaboração ao Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF) e Funai".

Defesa intensifica buscas por indigenista e jornalista

O Ministério da Defesa soltou uma nota na noite dessa terça-feira (7) informando que as Forças Armadas intensificaram as buscas pelo indigenista e pelo jornalista inglês.

Segundo a nota, a Marinha enviou ao local uma equipe de Busca e Salvamento (SAR) da Capitania Fluvial de Tabatinga e militares percorreram os rios Javari, Itaquaí e Ituí, no interior do estado do Amazonas, com uma lancha.

REPRODUÇÃO/ TWITTER INDIGENISTAS ASSOCIADOS
Foi realizada uma vigília em frente à sede da Funai, em Brasília - REPRODUÇÃO/ TWITTER INDIGENISTAS ASSOCIADOS

Nessa terça-feira, além destas equipes, foram utilizados na busca um helicóptero, embarcações e uma moto aquática.

O Exército utiliza nas buscas cerca de 150 militares especialistas em operações em ambiente de selva, que conhecem o terreno onde se desenvolvem as buscas. "Além disso, a Força Terrestre apoiará a Polícia Federal com o emprego de um helicóptero, agregando mobilidade às ações interagências", diz a nota.

Indigenista recebia ameaças

De acordo com a Univaja, Bruno Araújo Pereira recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores. O indigenista estava com Dom Philips na região para encontrar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima à localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da Funai no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas.

Segundo o jornal inglês "The Guardian", para o qual Phillips colabora, o jornalista está trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.

Ele mora em Salvador e também faz reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos para outros veículos como "Washington Post", "New York Times" e "Financial Times".

Sydney Possuelo comenta conflito na região

Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) nos anos 1990, o sertanista Sydney Possuelo afirmou em entrevista ao Estadão que a região do Vale do Javari é marcada há décadas por um conflito com criminosos que vem se recrudescendo nos últimos anos.

Ele afirmou ter feito inúmeras vezes o trajeto no qual Pereira e Phillips foram vistos pela última vez. Possuelo avalia que realizar o percurso em apenas duas pessoas e sem a presença de nativos na embarcação é algo extremamente arriscado, mas que pode estar ligado à falta de estrutura e de recursos para as ações de proteção aos territórios. É que os indigenistas sacrificam a segurança para fazer economia de recursos. Quanto menos gente no barco, menor é o consumo de combustível.

"Algumas vezes eu fiz isso, por questão de economia. Eu me expunha para fazer economia. Não era o certo e acho que não é seguro fazer ainda que seja até Atalaia. É bom ter sempre mais que duas pessoas a bordo para ter um pouco mais de segurança e de conhecimento. Nós brancos pensamos que entramos lá e conhecemos tudo. Na verdade, somos guiados pelos conhecimentos dos povos indígenas. Eles veem coisas que a gente não tem costume, hábito e sensibilidade para ver. Eu estaria em pelo menos em quatro pessoas", afirmou.

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