O desmatamento no Cerrado cresceu 25,29% neste ano em relação ao valor apurado em 2021, segundo dados divulgados ontem pelo Prodes, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O órgão, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, fornece a taxa oficial de desmate dos biomas no período de um ano.
Ao todo foram 10.688,73 km² perdidos de vegetação, entre agosto de 2021 e julho de 2022. Os dados divulgados no ano passado indicavam uma área devastada de 8.531,44 km².
Este é o terceiro ano consecutivo de aumento do desmate no Cerrado, situação inédita na série histórica de monitoramento do Inpe. No governo de Jair Bolsonaro (PL), criticado pelo desmonte de órgãos ambientais e avanço da derrubada das florestas, o desmatamento do bioma acumulou área perdida de 33.444 km², o equivalente a mais de seis vezes a área de Brasília.
Os Estados que tiveram as maiores destruições foram os do chamado Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), chegando a 71% do total desmatado. O Maranhão lidera o ranking com 2 833,9 km², 27% do total desmatado no bioma. Em seguida aparecem a Bahia, o Tocantins e o Piauí.
O Cerrado se distribui por uma área de cerca de 1 milhão de km² de vegetação nativa remanescente, quase duas vezes a área da França. Essa savana tropical representa mais de 5% da biodiversidade mundial. Também abriga 25 milhões de pessoas, cerca de cem povos indígenas e comunidades tradicionais. Considerado a maior fronteira agrícola do mundo, o Cerrado tem hoje cerca de 50% de sua área de vegetação primária.
"É um bioma que é pouco protegido", diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. "Apenas 12% do Cerrado está em Unidades de Conservação e em Terras Indígenas e o Código Florestal prevê que até 80% das áreas das propriedades podem ser abertas."
Segundo ela, esse é um caminho que precisa ser interrompido o quanto antes, uma vez que, além das perdas naturais, o mercado internacional para produtos agropecuários ligados ao desmatamento deve se fechar em breve. Na última semana, os países que fazem parte da União Europeia chegaram a um acordo para banir a compra de uma série de commodities, como soja, carne bovina, madeira, cacau, óleo de palma e café.
A medida deve se estender a produtos que as usem como matéria-prima. A nova legislação deixará por enquanto a maior parte do Cerrado de fora. As regras mais rígidas devem ser aplicadas aos produtos vindos da Amazônia.
REAÇÃO
"O desmatamento na Amazônia está mais ligado à ilegalidade. No Cerrado há uma forte corrida para abrir essas áreas ainda possíveis e expandir as atividades agrícolas muitas vezes por pastos de baixa produtividade que serão abandonados", diz Mariana.
Procurado para comentar os dados, o Ministério do Meio Ambiente não falou.
No fim do mês passado, o dado de desmatamento da Amazônia no mesmo período apontou queda de 11%. Os quatro anos da gestão Jair Bolsonaro (PL), porém, tiveram alta de 59,5% na destruição, na comparação com os quatro anos anteriores. A média anual sob Bolsonaro foi de 11.396 km², ante 7.145 km² no período anterior (2015-2018).