Mais de 100 metas da Agenda 2030 no Brasil estão em situação de retrocesso, segundo o 7º Relatório Luz, lançado na tarde desta segunda-feira (25).
A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O compromisso foi assumido por líderes de 193 países, inclusive o Brasil, e coordenada pelas Nações Unidas (ONU).
O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos. No Brasil, segundo o relatório (leia mais detalhes abaixo), 60,35% dessas 169 retrocederam em 2022.
O evento de lançamento da sétima edição do Relatório Luz sobre a Agenda 2030 no Brasil acontece no auditório do anexo I da Secretaria Geral da Presidência da República, em Brasília, e contou com representantes de ministérios e da sociedade civil.
O Relatório Luz 2023 é um documento único no País que faz uma análise do cumprimento das metas da Agenda 2030 no Brasil, com base em dados oficiais divulgados pelo Governo Federal.
O documento traz um compilado da situação dos ODS, consolidando um ciclo de retrocessos referente ao ano de 2022, com impactos mais profundos sobre as mulheres e meninas, população negra, povos indígenas e grupos sociais historicamente mais vulneráveis, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
O relatório destaca os ODS que foram mais afetados pelos retrocessos: ao lado do combate à pobreza e erradicação da fome, está o avanço do desmatamento e das queimadas.
O Relatório Luz 2023 destaca o ciclo de empobrecimento de parte significativa da população e volta do País ao Mapa da Fome e que o ano de 2022 marcou um período de seis anos em que os poderes Executivo e Legislativo federais tiveram um papel desastroso em relação ao cumprimento do ODS, que é erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável. Em 2022, quase 66 milhões de pessoas (30,7% da população) viviam em insegurança alimentar moderada ou grave.
No quesito saúde e bem-estar, correspondente ao ODS 3, o relatório ressalta que o orçamento de 2022 do Ministério da Saúde sofreu redução de 20%, passando dos R$ 200,6 bilhões em 2021 para R$ 160,4 bilhões.
Nos dois primeiros anos da pandemia, o orçamento da Saúde foi elevado com decretos extraordinários e de calamidade pública que flexibilizaram o teto de gastos (Emenda Constitucional 95).
Porém, as verbas de urgência não se repetiram em 2022, o que ameaçou ainda mais a qualidade e disponibilidade dos serviços de saúde no País.
Embora 80,56% da população tenham tomado ao menos duas doses do imunizante contra o coronavírus, a cobertura nacional das demais vacinas obrigatórias ficou em 67,94%, com patamar ainda menor nas Regiões Norte (63,03%) e Sul (74,21%). Esse contexto fez com que a maioria das metas do ODS 3 estejam em retrocesso ou ameaçadas.
Para o ODS 4 (educação de qualidade), o relatório identificou, em 2022, retrocesso em seis das 10 metas deste ODS, também ameaçado pelo Novo Ensino Médio, que rebaixa a formação básica para grupos populacionais mais vulneráveis e historicamente marginalizados (negros, mulheres, classes C, D e E e indígenas), segundo especialistas, instituições de classe e estudantes.
O governo federal anunciou o fim do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares até o fim de 2023, mas o Estado de São Paulo, por exemplo, pretende implementar programas similares. Essa e outras propostas em debate no Congresso Nacional, como nacionalização do homeschooling, ameaçam o direito à educação. Com 13 das 20 metas do Plano Nacional de Educação em retrocesso, estima-se que 90% delas não serão alcançadas em 2024.
No capítulo do relatório referente ao ODS 5 (igualdade de gênero), destaca-se que o Brasil é o 92° de 153 países no ranking de garantia de equidade para mulheres, tendo retrocedido ainda mais em 2022 com os efeitos da pandemia da covid-19 e as múltiplas violências de gênero derivadas da insuficiência de políticas públicas e investimento no setor.
Como na quase totalidade dos ODS, as recomendações do último Relatório Luz não foram acatadas e, para encerrar o ciclo de retrocesso dos últimos anos, é necessária urgência na retomada de políticas e programas ao nível ministerial para mulheres.
O Relatório Luz também mostra preocupação com o ODS 6 (água limpa e saneamento), já que é uma meta que impacta diretamente nove dos dezessete objetivos da Agenda 2030. No entanto, o ODS 6 retrocedeu: quatro de suas metas que estavam ameaçadas em 2020 passaram a situações de retrocesso e estagnação.
Neste ano, o documento foi escrito por 82 especialistas de 41 instituições, que, além da análise dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil, ainda produziram mais de 160 recomendações ao Governo.
O Brasil é um dos 193 países signatários da Agenda 2030, um pacto global assinado em 2015 nas Nações Unidas com o objetivo de diminuir as desigualdades.
O Relatório Luz 2023 é um instrumento que indica caminhos, sinaliza retrocessos e alerta para a necessidade da construção de instrumentos de gestão que promovam políticas voltadas para a equidade, de forma a não deixar ninguém pra trás.