Associadas à bruxaria na Idade Média e vistas com desconfiança pela classe médica tradicional até pouco tempo atrás, as plantas medicinais começam a conquistar um lugar ao sol da ciência. Há pouco mais de um ano, o Laboratório de Biofísica-Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) resolveu tirar “a prova dos nove” para ver se as ervas são tão eficazes quanto assegura a cultura popular e está fazendo uma extensa pesquisa de controle de qualidade dos fitoterápicos produzidos por comunidades do Grande Recife. A primeira etapa do projeto, financiado pela Sudene, será concluída em novembro.
O estudo é realizado por uma equipe multidisciplinar, formada por 35 pesquisadores. Engloba cinco laboratórios comunitários do Recife, Olinda, Paulista e Camaragibe, que produzem xaropes, tinturas, pomadas e chás, entre outras coisas. Esses grupos são formados por mulheres idosas, que trabalham como voluntárias. “O que nós estamos fazendo é dar credibilidade a medicamentos fitoterápicos, fabricados de forma artesanal em Pernambuco, e tentando aproximar a academia da sociedade”, explica a coordenadora do projeto, Claudia Sampaio.
Depois de selecionar os laboratórios artesanais, a equipe elegeu as 20 plantas mais utilizadas para fazer análise botânica, por imagem, microbiológica e química dos vegetais. “A gente começa com a identidade botânica, espécie de certidão de nascimento da planta. Depois de coletada, ela é registrada no herbário”, informa.
Para facilitar a identificação, um dos integrantes da equipe, o professor do Departamento de Engenharia Biomédica Wellinton Pinheiro dos Santos desenvolveu um software para a plataforma Android (o Medterra) que reconhece, por foto, algumas espécies. Depois de identificar a planta, o programa fornece classificação botânica, indicações de uso e onde a erva pode se encontrada. “No próximo ano, esse aplicativo deverá estar disponível para as comunidades”, adianta Claudia Sampaio.
Outra etapa é o controle de qualidade molecular para analisar o DNA das plantas. Essa pesquisa garante que, naquele sachê de chá que muita gente usa, tem exatamente o que o produtor informa. “A ideia é ter laboratórios de apoio nas comunidades, que cedam o material para a gente analisar na universidade”, diz o biologista molecular Ricardo Yara, responsável por essa parte da pesquisa. “Se a população está usando uma determinada planta, seria interessante pesquisar esse produto e devolver esse conhecimento ao público.”
Ao fim da pesquisa, será elaborado um manual didático-científico para produtores de fitoterápicos. “Queremos capacitar todos os elos da cadeia produtiva e ampliar o projeto para laboratórios do interior e outros Estados do Nordeste”, ressalta Claudia Sampaio. No próximo ano, a equipe deverá contar com um laboratório itinerante, montado num ônibus. “Apresentamos o projeto e a Sudene já deu o aval.”