Um creme dental à base de nanopartículas de prata que inibe o surgimento de cáries está sendo formulado por pesquisadores da Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Esse é o segundo passo da pesquisa responsável pela descoberta da fórmula de ação bactericida que interrompe a evolução da cárie. Os testes foram realizados em crianças carentes de 5 a 7 anos, em três municípios pernambucanos.
“Estamos planejando o experimento para adquirir os insumos necessários para formular o creme dental e fazer os ensaios clínicos da ação preventiva do produto”, informa o professor de química da UFPE e coordenador do Cetene, André Galembek. Ele acredita que a pasta de dentes chegará mais cedo ao mercado que a fórmula já patenteada para o tratamento de cáries. “Produtos de higiene pessoal são mais fáceis de serem liberados pela Anvisa”.
A expectativa do pesquisador é que o produto esteja disponível ao público no espaço de um ano a um ano e meio. “Mas ainda precisamos fazer parceria com empresas para desenvolver o creme dental e colocá-lo no mercado”, ressalta, acrescentando que já foi procurado por empresas dos Estados Unidos e China. Nenhuma do Brasil.
Segundo André Galembek, o grupo de pesquisa já provou que a fórmula é eficaz no tratamento das cáries, com desempenho superior ao da clorexidina, bactericida amplamente usado em consultórios odontológicos. Agora é hora de buscar a prevenção. “Os dois (tratamento e prevenção) são necessários. Primeiro, devemos prevenir. Mas, para combater o problema, é bom ter um produto que não exponha a criança ao trauma da broca do dentista”, defende.
Parceira no projeto, a professora titular de odontopediatria da UPE, Aronita Rosenblatt, conta que a pesquisa começou há sete anos, a partir da necessidade de tratar crianças de baixa renda, com dificuldade de acesso aos consultórios odontológicos. Os pesquisadores preferiram fazer o estudo com moradores de Gravatá, Gameleira e Arcoverde porque seria mais fácil acompanhar os casos e houve muita receptividade à pesquisa. “Avaliamos muitas crianças, mas somente 520 foram incluídas na pesquisa final”, conta.
A prata iônica já era usada para combater cáries, mas tinha um efeito colateral desagradável: deixava os dentes escurecidos. “Pensamos que, se usássemos em pequenas partículas, poderíamos evitar esse efeito. Foi então que buscamos a colaboração do Departamento de Química da UFPE, na pessoa de André Galembek”, lembra Aronita.
Depois de fazer testes de biossegurança para saber se o componente não era tóxicos para os tecidos humanos, os pesquisadores começaram a sintetizar as nanopartículas de prata, com teor 600 vezes menor que a fórmula que escurecia os dentes. “Os resultados foram muitos bons. Depois de uma semana da aplicação, 81% das cáries pararam de evoluir. No grupo de crianças que só usou pasta de dentes não houve alteração”, relata a odontóloga. “No século 20 só se falava de flúor no Brasil. Agora, no século 21, teremos as nanopartículas de prata fazendo o que flúor fez antes, embora o uso da prata seja muito anterior ao flúor”, conclui Aronita Rosenblatt.