No bioma arisco e semiárido da Caatinga, a vida animal revela surpresas que nem mesmo os mais experientes pesquisadores e biólogos poderiam acreditar. Numa área rural do município de Santa Cruz do Capibaribe, Agreste de Pernambuco, câmeras com sensores de movimento registraram em outubro do ano passado a descoberta raríssima, que até hoje não tinha sido relatada em nenhum lugar do mundo, segundo pesquisadores do projeto Bichos da Caatinga, de uma ninhada multicolorida de pumas, mais conhecidos como Jaguarundi ou gato-morisco. Agora, os mesmos equipamentos captam o desenvolvimento dos animais, que lutam para sobreviver ao ataques de caçadores em áreas quase que completamente devastadas pela ação do homem.
Apesar de ser comum na região, o Jaguarundi -Puma yagouaroundi, no nome científico- nunca havia sido encontrado com cores diferentes numa mesma ninhada. A descoberta foi feita pelo grupo Bichos da Caatinga, que atua pela conscientização da população na preservação do bioma. "Apesar de haver registro da presença do Jaguarundi em váriso países, essa foi a primera vez que foi relatado, numa única ninhada, a existência de filhotes com cores distintas. Geralmente, os animais nascem todos de uma mesma cor, ou cinza ou vermelho", esclarece o coordenador do projeto, Bruno Bezerra.
Na ninhada de outubro, foi identificada uma família de pumas na qual o pai e dois filhotes apresentavam a cor cinza; enquanto a mãe e outro filhote, a cor vermelha. "Em nenhum lugar do mundo, houve o registro desses animais com essas características. Existe muito uma visão da caatinga como uma área estéril, e isso mostra que existe muita vida e uma diversidade rica no bioma", garantiu Bezerra.
Se a descoberta do nascimento de pumas multicoloridos já causou surpresa nos pesquisadores, a comprovação da sobrevivência dos animais em um bioma já bastante desgastado trouxe ainda mais esperança. Quase que semanalmente, o grupo Bichos da Caatinga tem registrado os animais, agora já separados da família em áreas próximas de onde ocorreu o nasicmento. Segundo Bruno, os bichos só se juntam no período de acasalamento e depois costumam crescer sozinhos. "Pelo padrão, a gente acredita que sejam os mesmos animais que foram registrados em outubro. A espécie é muito territorialista e estamos encontrando-os em áreas muita próximas a que estavam ainda bem pequenos. Mesmo com a seca, desmatmento, caça e a dificuldade em cruzar com esse animais na mata, estamos conseguindo registrar o desenvolvimento deles".
O projeto Bichos da Caatinga atua em parceria com o projeto "Gatos do Mato - Brasil" do Instituto Pró Carnívoros, um dos institutos mais conceituados no Brasil na área ambiental. O objetivo da parceria é promover a conservação dos animais e de seus habitats no território brasileiro.