INVESTIGAÇÕES

Petroleira grega nega ser responsável por derramamento de óleo no Nordeste e diz ter provas que provam sua inocência

A Delta Tankers, empresa grega, foi apontada como principal suspeita pelo derramamento da substância

JC Online
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Publicado em 04/11/2019 às 17:42
Foto: Ülari Tomson/ Marine Traffic
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Atualizada às 22h06

A Delta Tankers, petroleira grega apontada como principal suspeita pelo derramamento de óleo no Nordeste, negou, em nota divulgada nesta segunda-feira (4), ser a responsável pelo vazamento da substância e afirmou ter “dados e documentos” que comprovam que a embarcação não está envolvida no caso, ou seja, que é inocente. No entanto, a empresa disse que “até o momento ninguém pediu” para ver esses documentos. 

“A Delta Tankers tem todos os dados e documentos que provam que sua embarcação não está envolvida, mas até o momento ninguém pediu para vê-los”, diz um trecho da nota. A empresa disse o Ministério de Assuntos Marinhos da Grécia não recebeu pedido de informações e que também não foi procurada pela Polícia Federal.

Em entrevista ao UOL, um representante da empresa grega reforçou a nota divulgada pela petroleira e disse que "só soube do caso, até agora, pela mídia. Adoraríamos auxiliar o governo brasileiro nessa investigação, mas não fomos contatados ainda", afirmou Mark Clark, porta-voz da empresa.

Em coletiva de imprensa, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse que ''não sabemos a quantidade derramada (de óleo) que está por vir''. A declaração foi em resposta às palavras do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de que o 'pior está por vir' sobre o derramamento de óleo.

 

A PF afirmou, ainda nesta segunda-feira (4), que a petroleira será notificada pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). “A empresa vai ser notificada agora, vai tomar conhecimento do teor todo da investigação, e vai ser solicitada via Interpol para apresentar os documentos e as provas que alega ter. A empresa é suspeita no momento, não houve indiciamento”, comentou o delegado Franco Perazzoni. 

Foto: Litsa Vroutsi-Sanoudou/ Marine Traffic
Bouboulina, de origem grega, em Piraeus, próximo a Atenas - Foto: Litsa Vroutsi-Sanoudou/ Marine Traffic
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A embarcação responsável pelo derramamento de óleo em Helsingborg, cidade portuária da Suécia - Foto: Mats Klevtorp/ Marine Traffic
Foto: Brian Maniglia/ Marine Traffic
Navio no Rio Delaware, nos Estados Unidos - Foto: Brian Maniglia/ Marine Traffic
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Bouboulina no Golfo da Finlândia - Foto: Ülari Tomson/ Marine Traffic
Foto: Nikoka Vouras/ Marine Traffic
Navio Bouboulina em São Sebastião, em São Paulo - Foto: Nikoka Vouras/ Marine Traffic
Foto: Cláudio Ritossa/ Marine Traffic
Bouboulina no Trieste, nordeste da Itália - Foto: Cláudio Ritossa/ Marine Traffic
Foto: Huw/ Gibby/ Marine Traffic
A embarcação também esteve em Gibraltar, na costa sul da Espanha - Foto: Huw/ Gibby/ Marine Traffic
Foto: Cesar T. Neves/ Marine Traffic
Bouboulina em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro - Foto: Cesar T. Neves/ Marine Traffic
Foto: Piet Verspui/ Marine Traffic
Bouboulina em Callandkanaal Rott, nos Países Baixos - Foto: Piet Verspui/ Marine Traffic
Foto: Leo Noordij/ Marine Traffic
Navio Bouboulina em Roterdã, na província da Holanda do Sul - Foto: Leo Noordij/ Marine Traffic

Navio suspeito

Na última sexta-feira (1°), a Polícia Federal apontou o navio Bouboulina, da petroleira grega Delta Tankers, como principal suspeito do derramamento de óleo no Nordeste. As autoridades chegaram na embarcação após obter a localização da mancha inicial e da identificação de que um único navio petroleiro navegou pela área suspeita entre os dias 28 e 29 de julho, suposto período do vazamento. 

O Bouboulina, que tem capacidade de carga de 80 mil toneladas, atracou na Venezuela no dia 15 de julho e o derramamento teria ocorrido a 700 quilômetros da costa brasileira. A decisão do juiz federal Eduardo Guimarães Farias, da 14ª Vara Federal Criminal em Natal, mostra que a embarcação permaneceu no país vizinho até o dia 18. Após sair da Venezuela, o navio dirigiu-se para a África do Sul e Nigéria. 

Na decisão, o juiz federal disse que "há fortes indícios de que a empresa Delta Tankers, o comandante do NM Bouboulina e tripulação deixaram de comunicar às autoridades competentes acerca de vazamento/lançamento de 'petróleo cru' no oceano Atlântico que veio a poluir centenas de praias brasileiras".

Farias ainda apontou que "a autoria e a materialidade do vazamento podem ser indicados pelos seguintes pontos: o petróleo vazado, conforme laudos técnicos, não foi produzido no Brasil e identifica-se com petróleo venezuelano; conforme a análise de imagens de satélite, foi localizado o ponto inicial do vazamento; a embarcação grega NM Bouboulina esteve na Venezuela entre 15 e 18 de julho de 2019 e passou no ponto do vazamento; conforme a Marinha, não há indicação de outro navio que possa ter passado pela referida rota; e não houve comunicação do incidente às autoridades brasileiras".

Na decisão, no entanto, o juiz diz que ainda há dúvidas sobre quais foram as circunstâncias do crime no artigo 54 e não se pode afirmar, ainda, se o crime foi culposo ou doloso, se houve motivação, assunção de risco, negligência, imprudência ou imperícia.

No sábado (2), a Delta Tankers afirmou que o Bouboulina saiu da Venezuela no dia 19 de julho e “foi diretamente, sem parar em nenhum outro lugar, para Melaka, na Malásia, onde descarregou sua carga total sem perdas”. 

Operação Mácula 

Na sexta-feira (1°), foi desencadeada a Operação Mácula, com o objetivo de apurar a origem e a autoria do derramamento de óleo no litoral do Nordeste. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão na cidade do Rio de Janeiro, expedidos pela 14ª Vara Federal Criminal em Natal, em sedes de representantes e contatos da empresa grega no Brasil. 

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