Atualizada às 22h06
A Delta Tankers, petroleira grega apontada como principal suspeita pelo derramamento de óleo no Nordeste, negou, em nota divulgada nesta segunda-feira (4), ser a responsável pelo vazamento da substância e afirmou ter “dados e documentos” que comprovam que a embarcação não está envolvida no caso, ou seja, que é inocente. No entanto, a empresa disse que “até o momento ninguém pediu” para ver esses documentos.
“A Delta Tankers tem todos os dados e documentos que provam que sua embarcação não está envolvida, mas até o momento ninguém pediu para vê-los”, diz um trecho da nota. A empresa disse o Ministério de Assuntos Marinhos da Grécia não recebeu pedido de informações e que também não foi procurada pela Polícia Federal.
Em entrevista ao UOL, um representante da empresa grega reforçou a nota divulgada pela petroleira e disse que "só soube do caso, até agora, pela mídia. Adoraríamos auxiliar o governo brasileiro nessa investigação, mas não fomos contatados ainda", afirmou Mark Clark, porta-voz da empresa.
Em coletiva de imprensa, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse que ''não sabemos a quantidade derramada (de óleo) que está por vir''. A declaração foi em resposta às palavras do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de que o 'pior está por vir' sobre o derramamento de óleo.
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A PF afirmou, ainda nesta segunda-feira (4), que a petroleira será notificada pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). “A empresa vai ser notificada agora, vai tomar conhecimento do teor todo da investigação, e vai ser solicitada via Interpol para apresentar os documentos e as provas que alega ter. A empresa é suspeita no momento, não houve indiciamento”, comentou o delegado Franco Perazzoni.
Navio suspeito
Na última sexta-feira (1°), a Polícia Federal apontou o navio Bouboulina, da petroleira grega Delta Tankers, como principal suspeito do derramamento de óleo no Nordeste. As autoridades chegaram na embarcação após obter a localização da mancha inicial e da identificação de que um único navio petroleiro navegou pela área suspeita entre os dias 28 e 29 de julho, suposto período do vazamento.
O Bouboulina, que tem capacidade de carga de 80 mil toneladas, atracou na Venezuela no dia 15 de julho e o derramamento teria ocorrido a 700 quilômetros da costa brasileira. A decisão do juiz federal Eduardo Guimarães Farias, da 14ª Vara Federal Criminal em Natal, mostra que a embarcação permaneceu no país vizinho até o dia 18. Após sair da Venezuela, o navio dirigiu-se para a África do Sul e Nigéria.
Na decisão, o juiz federal disse que "há fortes indícios de que a empresa Delta Tankers, o comandante do NM Bouboulina e tripulação deixaram de comunicar às autoridades competentes acerca de vazamento/lançamento de 'petróleo cru' no oceano Atlântico que veio a poluir centenas de praias brasileiras".
Farias ainda apontou que "a autoria e a materialidade do vazamento podem ser indicados pelos seguintes pontos: o petróleo vazado, conforme laudos técnicos, não foi produzido no Brasil e identifica-se com petróleo venezuelano; conforme a análise de imagens de satélite, foi localizado o ponto inicial do vazamento; a embarcação grega NM Bouboulina esteve na Venezuela entre 15 e 18 de julho de 2019 e passou no ponto do vazamento; conforme a Marinha, não há indicação de outro navio que possa ter passado pela referida rota; e não houve comunicação do incidente às autoridades brasileiras".
Na decisão, no entanto, o juiz diz que ainda há dúvidas sobre quais foram as circunstâncias do crime no artigo 54 e não se pode afirmar, ainda, se o crime foi culposo ou doloso, se houve motivação, assunção de risco, negligência, imprudência ou imperícia.
No sábado (2), a Delta Tankers afirmou que o Bouboulina saiu da Venezuela no dia 19 de julho e “foi diretamente, sem parar em nenhum outro lugar, para Melaka, na Malásia, onde descarregou sua carga total sem perdas”.
Operação Mácula
Na sexta-feira (1°), foi desencadeada a Operação Mácula, com o objetivo de apurar a origem e a autoria do derramamento de óleo no litoral do Nordeste. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão na cidade do Rio de Janeiro, expedidos pela 14ª Vara Federal Criminal em Natal, em sedes de representantes e contatos da empresa grega no Brasil.