A reforma no ensino médio vai provocar mudanças que vão além do currículo. Deve mexer na formação dos professores, no material pedagógico, nos livros e no sistema de acesso às universidades públicas, que hoje usa quase exclusivamente o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como porta de entrada. O assunto foi tema de debate, ontem, na Rádio Jornal, no programa de Geraldo Freire. Participaram o presidente do conselho de administração do Instituto Qualidade no Ensino (IQE), Marcos Magalhães; o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Pernambuco (Sinepe), José Ricardo Diniz, e o consultor e professor universitário Otto Bernard.
“Essa medida provisória é o início do resgate dos jovens brasileiros. É uma perversidade o que temos feito há décadas com a juventude do País. De cada cem jovens que se matriculam no ensino médio, somente a metade conclui. São 3,2 milhões que começam, mas só 1,7 milhão termina. São 500 mil estudantes por ano que o sistema educacional expele, manda para a rua”, informou Marcos Magalhães, ao abordar a necessidade urgente de haver modificações no atual modelo do ensino médio.
Para José Ricardo Diniz, a flexibilidade no currículo e a diminuição na quantidade de disciplinas são mudanças fundamentais. Pela atual proposta da MP, 50% do ensino médio será definido pela Base Nacional Curricular e 50% pelos alunos, que terão cinco áreas para escolher qual (ou quais) seguir. “O que está deixando os professores inquietos é a dúvida se haverá quebra do ano letivo, com a semestralidade no ensino médio, como acontece hoje nas universidades. Acho razoável que todos os alunos concluam os dois primeiros anos do ensino médio com currículo comum e no 3º ano cada um siga a área que tiver afinidade”, sugeriu o presidente do Sinepe.
Um dos pontos polêmicos da MP, a possibilidade de contratação de profissionais com notório saber para ensinar a parte técnica do currículo do ensino médio foi defendida pelo professor Otto Bernard. “A universidade é feita de gente com notório saber”, observou o consultor. O artigo deve ser um dos que receberá mais sugestões de mudanças. Hoje é o último dia para apresentação de emendas, no Congresso Nacional, ao texto da medida provisória.