Após um início de ano com alarmantes 199 casos em janeiro, os assaltos a ônibus experimentaram queda nos três meses seguintes, até que abril fechou com 98 ocorrências. Dali em diante, a curva voltou a subir, mês a mês, até que julho terminou com 132 registros. Entre 1 e 17 de agosto (dados mais atualizados), a Polícia contabiliza 87 casos. Se o restante do mês mantiver o mesmo patamar, o número será maior que o mês anterior, consolidando a tendência ao crescimento da modalidade.
A Polícia Civil aposta na prisão de assaltantes contumazes para voltar a derrubar os índices. De janeiro a julho, 130 pessoas foram presas pela prática do delito no Estado. Ao todo, foram 959 ocorrências entre janeiro e julho, uma média de 4,5 por dia. Apenas na última semana, oito pessoas foram capturadas por envolvimento na modalidade criminosa.
Segundo a Polícia, os assaltos a ônibus se transformaram na porta de entrada no mundo do crime para muitos jovens do Grande Recife. Entre os motivos estão a grande oferta de coletivos – são 26 mil viagens realizadas por dia – e a facilidade para a obtenção telefones celulares e pequenas quantias em dinheiro.
Ainda de acordo com Polícia Civil, o suspeito é, na maioria das vezes, homem entre 15 e 24 anos, envolvido com entorpecentes (especialmente crack) e oriundo de famílias desestruturadas das periferias do Grande Recife. O caso de Artur Alexandre do Carmo é emblemático. Aos 19 anos, ele tem, apenas em 2017, 17 roubos cuja participação foi confirmada. Preso em flagrante após um assalto em julho, ele confessou, em audiência de custódia realizada na 18ª Vara Criminal da Capital, ter praticado oito crimes do tipo, sempre com um caco de telha fazendo as vezes de arma. Mas foi liberado para responder em liberdade. Resultado: praticou mais nove assaltos, muitos dos quais com portando um revólver. No último sábado, após ter um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça, Artur foi novamente preso.
Com atuação nos bairros do Ibura, Zona Sul do Recife, e Zumbi do Pacheco, em Jaboatão dos Guararapes, a Gangue do Facão também seguia à risca o roteiro dos assaltos a coletivos. Os líderes eram os irmãos Mateus e Eduardo Ferreira de Lima, com 18 e 19 anos, respectivamente. Outros dois menores ajudavam nas investidas. Eles foram flagrados em diversos vídeos de circuito interno dos ônibus da área, sempre usando uma faca para intimidar os passageiros. Os irmãos Lima foram presos na semana passada, e os dois menores, apreendidos.
Aos 20 anos, e também acopmanhado de um menor de idade, Ítalo Douglas Estêvão Amorim foi preso no último final de semana, acusado de roubar um coletivo na Avenida Antônio de Góes, no Pina, Zona Sul da Capital. “São pessoas que não estão estruturadas para o mundo do crime, tanto que é raro encontrar arma de fogo nessas investidas”, comenta o delegado Joel Venâncio, que chefia a força-tarefa de combate a roubos a ônibus.
Ele explica que boa parte das empresas de ônibus já aderiu ao sistema de quatro câmeras de vídeo em locais estratégicos do coletivo, o que facilita a identificação dos criminosos. “Além disso, a Polícia Militar intensificou as blitz em áreas com maior incidência do delito, como Joana Bezerra, Pina, Cabanga e PE-15 (Olinda)”. As dez equipes da força-tarefa de combate a assaltos a coletivos vai, já a partir deste mês, adotar reuniões semanais de monitoramento das ações. Atualmente, a Polícia estima em 22 os pontos de grande incidência do delito no Grande Recife.