Renata, Sônia e Sandra, alunas do projeto Escola da Vida, reescreveram seus futuros. Depois de sete meses de aulas, elas e outros 107 participantes do programa receberam nessa quinta-feira (6) os certificados de conclusão, numa solenidade na Prefeitura de Olinda. O diploma representou a mudança que a iniciativa provocou em suas vidas e os novos planos que desejam seguir. Em todos os depoimentos, o desejo de permanecer estudando. Mas por enquanto não há garantia de continuidade das ações por falta de verbas.
Financiado pelo Ministério da Educação (MEC), o projeto transformou ruas e praças em escolas ao ar livre. Levou aulas para moradores de rua ou em situação de vulnerabilidade social de seis locais da Cidade Patrimônio da Humanidade: Praça do Carmo e Igreja do Monte, no Sítio Histórico; Vila Brasília, em Jardim Brasil; Rio Doce, Jardim Brasil V e Bairro Novo.
“Uma das lições do projeto é a certeza de que é possível levar educação para qualquer lugar, ensinar a céu aberto, na praça, no lixão, em pontos de prostituição ou de tráfico de drogas. Outra conclusão é como a educação é transformadora”, destaca a diretora do Centro de Prevenção às Dependências (CPD) e uma das coordenadoras da Escola da Vida, Ana Glória Melcop.
Sandra Pregentino, 49 anos, mora na Vila Brasília e vende caldinho na praia. Não estudou na infância porque trabalhava no corte da cana. “Hoje eu sei o que é assinar meu nome. No projeto aprendi muito mais que escrever. Aprendi sobre preconceito, sobre como conviver melhor com minha família e com outras pessoas. Foi tudo de bom.”
Renata Moreno, 22, vive em Aguazinha. O orgulho com o primeiro diploma da vida estava estampado no rosto. “Vou continuar estudando. Parei na 5ª série. Agora não vou mais deixar a escola”, garante. Ela participou do programa com a mãe, três irmãos, um tio, três sobrinhos e primos. “Chorei porque acabou o projeto. Nos dias de aulas, terminava de fazer o almoço mais cedo para não atrasar”, conta Maria da Conceição Silva, 50, mãe de Renata.
“Já tirei uma nova carteira de identidade. Não gostava porque no lugar do meu nome dizia que eu era analfabeta. Agora, no documento novo, tem minha assinatura”, relata Sônia das Chagas, 54, que sobrevive catando produtos reciclados.
O prefeito de Olinda, Lupércio Nascimento, assegura que o município tem interesse em manter o programa, mas não há recurso. “É uma iniciativa arrojada e pioneira. Nosso desejo é continuar, mas dependemos do MEC.” O Escola da Vida custou cerca de R$ 540 mil e foi resultado de convênio entre a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a prefeitura. “Esperamos que novas parcerias surjam em outras cidades ou com o governo estadual para levarmos o projeto a mais pessoas”, diz Ana Glória.
Após sete meses de aulas, 110 alunos do programa de alfabetização Escola da Vida receberam certificados nessa quinta. Orgulhosa, Sônia das Chagas está entre eles, e tirou até nova carteira de identidade, para assinar o próprio nome onde antes se lia “analfabeta”