Extrapolar os muros da escola e impactar positivamente uma comunidade, a partir do trabalho colaborativo de pais e professores. Foi com esse objetivo que o Grupo de Pais Voluntários surgiu, visitando a Ilha do Destino, na Zona Sul do Recife, e oferecendo as habilidades profissionais de cada um. “Muitos pais queriam se unir com esse intuito, mas não sabiam como, onde, para quê. Resolvemos dar as mãos e agora surge esse grupo de Pais Voluntários do Colégio Santa Maria”, explica o professor Carlos Alexandre Borba, uma das pessoas à frente do projeto. “É uma ideia para unir pais, professores, alunos, em prol da nossa comunidade. A escola não acontece somente dos muros para dentro.”
A psicóloga Marillene Monte faz parte da iniciativa, que realizou a primeira ação no último sábado (26). “Atividades como essa para mim são fundamentais. Ajuda você a sair da sua zona de conforto, de olhar uma situação errada e parar de falar que a culpa é de A ou de B. O que a gente faz é se perguntar: ‘o que eu posso fazer para mudar isso?’. É outro tipo de aprendizado que a escola pode promover”, conta. “E é isso que quero que meus filhos também aprendam, para além do português, matemática, geografia. Nós temos que fortalecer também a nossa cidadania. E, quando o colégio fez o convite, eu e minha família abraçamos.”
Antes de ir para a comunidade, o Grupo de Pais Voluntários passou por um curso de capacitação. “Levantamos a ideia e entramos em contato com a ONG Novo Jeito, que virou nossa parceira. Construímos um curso de engajamento social sobre a importância do trabalho voluntário para a família”, ressalta Borba, informando que 60 pais participaram da sensibilização. “Marcamos a visita à comunidade para tentar entender a importância de um trabalho lá. De uma forma muito agradável, trocamos informações e ouvimos quais os sonhos deles que a gente poderia ajudar a construir”, aponta o professor. “Observamos que a sede da Associação de Moradores estava desativada há mais ou menos cinco anos, deteriorada, e que poderia voltar a ser o coração da comunidade”, acrescenta Marillene.
A associação estava desativada desde que um líder comunitário do local faleceu. “Entendemos a importância de revitalizar o local. Um grupo de pais fez o projeto arquitetônico, outro foi atrás dos desdobramentos jurídicos. Mas entendemos que a comunidade precisava vir com a gente. E eles entraram com a mão na massa”, diz Marillene. Um mutirão realizado no último sábado serviu para limpar o prédio, pintar e redecorar o espaço.
Leia Também
O vice-líder comunitário Isac Domingos foi surpreendido pela iniciativa do grupo de pais. “A gente nunca teve o apoio de ninguém. Um professor veio aqui, explicou tudo e fomos ver se dava certo, porque muita gente já chegou aqui com promessas. Agora não! Eles viram onde podiam ajudar e vieram. Acordamos cedo, mas estamos muito felizes. Ver a associação assim, arrumada, e essa movimentação toda é de uma alegria imensa”, comenta.
Os Pais Voluntários também fizeram um levantamento de dados para entender quais as principais demandas dos moradores. A ideia é, a partir dessas informações, poder realizar uma série de outras atividades junto à comunidade da Ilha do Destino. “A gente quer ver nível de escolaridade, para tentar fechar parcerias de capacitação. Ver se as crianças estão com as vacinas em dia, para tentar encaminhar uma ação voltada para isso. Ver quais as qualificações, onde podem trabalhar, como podemos fazer essa ponte”, afirma a psicóloga, que trabalha com desenvolvimento pessoal e já tem experiência com ações sociais do tipo.
Isac Domingos já tem uma ideia dos benefícios que essas capacitações podem trazer. “Temos meninos e meninas aqui com potencial para serem alguém na vida. Advogados, arquitetas, jogadores de futebol. A gente não teve essa oportunidade, mas eles vão ter”, comemora.
“Trouxe um pouco da minha bagagem para essa ação. Assim como outros pais e professores trouxeram a escola. É uma coisa que eu faço questão de participar e estimulo meus filhos a fazerem mesmo, porque a escola também forma cidadania”, diz. Os filhos de Marillene, Arthur, de 8 anos, aluno do 3º ano do Ensino Fundamental, e Thiago, de 13 anos, do 8º ano, também participaram da ação.
A atividade foi o pontapé inicial de uma série de benfeitorias que o grupo pretende realizar junto à comunidade da Ilha do Destino. “Uma coisa é você doar 50, 100 reais. Outra é você ir lá ajudar. É incrível se envolver e é disso que precisamos. De doações também, claro, mas muito mais de quem aceite sair da zona de conforto para construir, juntos, uma sociedade melhor”, defende Marillene.