Um dos achados arqueológicos mais importantes do Bairro do Recife, o cemitério do período colonial resgatado na comunidade do Pilar, virou depósito de lixo e esgoto doméstico. Pelo menos quatro canos de plástico e uma manilha despejam água usada de casas da Rua de São Jorge no terreno onde pesquisadores identificaram, em 2013, 68 esqueletos humanos associados aos séculos 16 e 17.
A área escavada também acumula água de chuva e está cercada de lixo: sofá, cadeira, isopor, guarda-chuva, capacete de motociclista, CD, PET, pneu, tábua, vidro e calçados. Parte das ossadas do cemitério histórico, localizado na área central do Recife, foi transferida para laboratórios, mas 40 esqueletos continuam no local, sob camadas de terra cobertas por lona plástica.
De acordo com Ana Catarina Torres Ramos, professora da Universidade Federal de Pernambuco e coordenadora das pesquisas arqueológicas realizadas no lugar, pela Fundação Seridó, as escavações estão suspensas desde abril de 2014. “Nosso contrato expirou e a prefeitura não renovou. A UFPE e a fundação não podem ser responsabilizadas pelo que está acontecendo”, afirma a arqueóloga.
Dos 68 esqueletos, 28 foram tirados do local e levados para laboratórios de pesquisa na UFPE e na Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), em São Raimundo Nonato (PI). Entidade científica sem fins lucrativos, a Fumdham é dirigida pela arqueóloga brasileira mais respeitada no exterior, Niède Guidon. “Os esqueletos servem como material para dissertações de mestrado”, declara.
No mesmo terreno, às margens da Rua de São Jorge, os arqueólogos descobriram alicerces de casas construídas no fim do século 17 e início do século 18, evidenciando, pela primeira vez, a evolução urbana daquele trecho do bairro. Vários deles foram destruídos por vigas de sustentação de novos prédios residenciais que a prefeitura pretende erguer na comunidade, pelo projeto de urbanização do Pilar.
Diretor de Engenharia da Empresa de Urbanização do Recife (URB), Vicente Perrusi, informa que a construção dos habitacionais no terreno onde os arqueólogos descobriram o cemitério deve começar em novembro de 2014, com prazo de um ano para execução.
O projeto completo prevê 588 unidades residenciais na comunidade. A obra começou em janeiro de 2010, com prazo de três anos para conclusão e custo de R$ 39,3 milhões, recursos da Caixa, PAC e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Contempla abertura de ruas, drenagem, abastecimento de água, saneamento e pavimentação de vias. A prefeitura espera concluir tudo em 2016.