Memória ferroviária

Serra das Russas preserva 14 túneis por onde passavam os trens

Na nona (e penúltima) reportagem da série sobre o patrimônio ferroviário do Estado, veja os túneis, pontes e pontilhões da linhas do trem em Pernambuco

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 15/11/2014 às 8:08
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Nem só de trilhos e dormentes são feitas as estradas de ferro de Pernambuco. Ao longo dos 1.322,95 quilômetros de linhas, por onde passavam os trens, há túneis esculpidos em montanhas, viadutos de grande altura e pontes de treliça.

As obras de arte – é assim que esses caminhos são chamados pelos engenheiros – resistem ao tempo no Cabo de Santo Agostinho, Gravatá, Maraial, Quipapá, Bezerros, Pesqueira, Paudalho, Nazaré da Mata, Timbaúba e Recife, entre outras cidades.

 

Só na Serra das Russas, em Gravatá, município do Agreste do Estado, foram construídos 14 túneis. Era a única solução para o trem cruzar regiões montanhosas, porque ferrovias não sobem e descem colinas, como as rodovias.

Na verdade, a linha teria 21 passagens subterrâneas, mas desfizeram sete por razões técnicas, conta o estudante de história André Cardoso. Representante local da ONG Amigos do Trem, ele acompanhou o JC na visita a duas delas, no Cabo e em Gravatá.

O acesso ao túnel número 1 da Serra das Russas, concluído em 1887, só foi possível com a ajuda do agricultor José João dos Santos, 58 anos, morador da área.

“Tem muito mato no caminho, eu vou com vocês”, disse, sem pestanejar. “Quando o trem rodava era mais fácil chegar aos túneis. Agora, o mato toma conta de tudo”, comenta José João, cortando os galhos com um facão.

Com 94,45 metros de extensão, sem revestimento nas paredes e no teto, o túnel curvilíneo está inteiro e preserva os trilhos. Os marimbondos, que aterrorizavam o motorista Jovenildo Leite, 37, em suas viagens ao Sertão, na meninice, ainda se refugiam no local.

“É só passar quieto, não falem e não toquem neles”, ensina o agricultor à equipe de reportagem. A técnica funcionou. Com Jovenildo, a história foi diferente. “O trem fazia barulho e ficava tudo escuro porque não tinha energia no túnel. Os marimbondos entravam nos vagões e era um inferno”, recorda.

O trecho de 76 quilômetros de extensão da Linha Centro (Estrada de Ferro Recife-Gravatá), onde encontram-se os caminhos subterrâneos da Serra das Russas, é tombado como patrimônio de Pernambuco desde 1986, pelo valor das obras de arte, diz a arquiteta Neide Fernandes, da Diretoria de Preservação Cultural da Fundarpe.

Mais acessível aos visitantes, mesmo com mato e boiada em cima da linha, o Túnel do Pavão, no Cabo de Santo Agostinho, município do Grande Recife, foi o primeiro a ser construído no País para atender as ferrovias, no fim da década de 1850.

Fresquinho e revestido, tem 151,78 metros e extensão e fica entre as localidades de Mercês e Charneca. Oito cavernas de proteção, escavadas nas paredes, servem de abrigo para o pedestre, se por acaso a pessoa estiver no local e for surpreendida com a chegada de um trem.

André Cardoso, pesquisador das ferrovias do Estado, informa que o Túnel do Pavão faz parte da Linha Sul, originária da primeira estrada de ferro de Pernambuco e segunda do Brasil. “A importância histórica não é só local, mas nacional. Alguns foram abertos na picareta”, destaca.

As obras de arte da malha ferroviária pernambucana também foram inventariadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A finalidade do levantamento é atribuir (ou não) valor cultural à herança do trem, explica o engenheiro Frederico Almeida, superintendente do Iphan.

“Túneis, pontes e viadutos da Serra das Russas poderiam funcionar com trens turísticos”, afirma o engenheiro. “Assim como em Gravatá, o turismo e o transporte público de passageiros também são bem-vindos na linha Recife-Nazaré da Mata, com o aproveitamento das estações”, acrescenta.

Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Túnel do Pavão, no Cabo de Santo Agostinho (Grande Recife), é o primeiro túnel ferroviário do Brasil - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Construído no final da década de 1850, Túnel do Pavão, no Cabo (PE) tem 151 metros de extensão - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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O Túnel do Pavão, no Cabo (PE), foi construído em linha reta, numa área cheia de nascentes de água - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Túnel do Pavão, no Cabo de Santo Agostinho (Grande Recife), é o primeiro túnel ferroviário do Brasil - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Pontilhão sobre sobre o Rio Capibaribe, na linha férrea de São Severino dos Ramos, em Paudalho (PE) - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Pontilhão sobre sobre o Rio Capibaribe, na linha férrea de São Severino dos Ramos, em Paudalho (PE) - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Ponte ferroviária sobre o Rio Cruangi, em Timbaúba (PE), faz parte da Linha Tronco Norte - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Pontilhão sobre sobre o Rio Capibaribe, na linha férrea de São Severino dos Ramos, em Paudalho (PE) - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Túnel do Pavão, no Cabo (PE), tem oito refúgios nas paredes que funcionam como abrigo de pedestre - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Túnel do Pavão, no Cabo de Santo Agostinho (Grande Recife), é o primeiro túnel ferroviário do Brasil - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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O Túnel do Pavão, no Cabo (PE), foi construído em linha reta e tem teto e paredes revestidas - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Túnel nº 1 da Serra das Russas, em Gravatá (PE), foi aberto em 1887. Há mais 13 túneis na Serra - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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O túnel nº 1 da Serra das Russas, em Gravatá (PE), preserva os trilhos e dormentes, desativados - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Em formato curvilíneo, o túnel nº 1 da Serra das Russas, em Gravatá (PE), tem 94 metros de extensão - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Em formato curvilíneo, o túnel nº 1 da Serra das Russas, em Gravatá (PE), tem 94 metros de extensão - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Foto: Michele Souza/JC Imagem
Ponte ferroviária sobre o Rio Tejipió, em Areias, Zona Sul do Recife, faz parte do Ramal Werneck - Foto: Michele Souza/JC Imagem

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