A recepcionista Eliane Neves de Vasconcelos não conhecia a estudante Camila Mirelle Pires da Silva, 18 anos, que morreu sexta-feira passada (8) após cair de um ônibus na BR-101, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. Mas neste domingo (10), Dia das Mães, ela esteve no Cemitério do Barro, onde a garota foi enterrada no sábado (9), procurou a sepultura de Camila e rezou pela jovem.
“Qualquer mãe se compadece com uma notícia dessa, porque o dia a dia da gente para ir e voltar do trabalho é assim, enfrentando esse transporte sem organização e ônibus lotados. O mais grave é que não se vê ação por parte dos gestores. Fala-se muito e ninguém faz nada”, desabafa Eliane, que estava no cemitério visitando o túmulo da mãe.
Estudante do 3º período do curso de biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Cidade Universitária, Camila voltava das aulas num ônibus da linha Barro-Macaxeira, da empresa Metropolitana, quando a porta do veículo se abriu e ela foi arremessada para fora. Universitários que presenciaram a cena questionam, em posts publicados no Facebook, o envolvimento de um segundo coletivo no acidente e que teria atropelado a jovem.
“Os colegas sabem explicar melhor do que nós, porque não estávamos lá na hora. Eu, particularmente, nunca acreditei na participação do segundo ônibus. Só havia um coletivo quando a família chegou ao local do acidente. E mesmo que ela tenha sido atropelada por outro ônibus, isso não tira a culpa do motorista do Barro-Macaxeira, a falha técnica ou humana partiu do veículo que ele dirigia”, declara o professor Lúcio Mário Gomes, primo de Camila.
De acordo com o professor, colegas da estudante disseram à família que ela caiu da porta do meio do coletivo. “Se foi assim, ela pode ter sido atropelada pelas rodas de trás do próprio ônibus”, pondera. Os parentes, diz Lúcio Mário, ainda não acionaram a justiça. “As decisões serão tomadas na próxima semana. A mãe dela continua dopada e não fala ainda. Não se toca nesse assunto na casa.”
Em homenagem à colega e também para protestar contra as más condições do transporte público, estudantes da UFPE realizam nesta segunda (11) uma passeata em direção ao local do acidente. A concentração será a partir das 16h, no Centro de Ciências Biológicas da universidade.
PASSAGEIROS
No Terminal de Integração do Barro, de onde saem as linhas Barro-Macaxeira (Várzea) e Barro-Macaxeira (BR-101), usuários dizem que os veículos trafegam superlotados, todos os dias. “Vai gente até na porta pendurado. Veja pelo tamanho das filas no terminal. Eu já viajei espremida, já fui roubada e observo a grosseria e falta de paciência dos motoristas, principalmente com idosos e deficientes”, afirma Gerusa Ribeiro dos Santos, cuidadora de idosos.
A webdesigner Roberta Adão disse que usou a linha Barro-Macaxeira por cinco anos, quando fazia faculdade em Apipucos, Zona Norte do Recife, e os ônibus sempre trafegavam cheios, na ida e na volta. “Ou a gente se submete a andar em coletivos lotados ou então vai ter de deixar de estudar e de trabalhar. É uma escolha. Você opta entre perder a primeira aula ou viajar imprensada”, destaca.
A situação, diz ela, é pior para os moradores da periferia. “Somos obrigados a usar os terminais de integração e esses ônibus, de qualquer linhas, são lotados o tempo todo. O governo fica criando integração sem consultar os usuários”, afirma Roberta enquanto esperava o ônibus Zumbi do Pacheco-Barro, na manhã de domingo (10).
“Isso (ônibus lotado) é rotina na linha Barro-Macaxeira. Sou espremida, levo cotoveladas e empurrões”, acrescenta a ajudante de cozinha Maria Josenice Nascimento, moradora da Cidade Universitária. “Uso a linha, mas apenas duas vezes por semana e em horários com pouco movimento. Quando estou no terminal e o ônibus enche, espero o próximo”, diz o balconista Carlos José Moura.
A Metropolitana, por meio do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE), informa que continua aguardando o laudo para se pronunciar sobre o acidente e que prestou assistência à família da estudante.