Eles têm endereços separados. Um fica na Rua Tomazina, outro na Rua Mariz e Barros e o terceiro está na Rua Vigário Tenório. Mas dividem paredes há tantos anos e a intimidade é tão grande que vão renascer como uma só edificação, embora mantendo, pelo lado de fora, a individualidade das fachadas. Localizados no Bairro do Recife, os três imóveis estão sendo restaurados e vão reabrir ainda este ano como uma casa de eventos.
A obra teve início no começo de junho, com prazo de três meses para execução. “Vamos unificá-los apenas internamente, usando uma estrutura metálica solta dos prédios”, diz a arquiteta Karla Grimaldi, que assina o projeto de restauração dos edifícios. A proposta também prevê a inclusão de um terceiro piso, o mezanino, aproveitando a altura das paredes, informa.
De acordo com Karla Grimaldi, as construções são do início o século 20, tinham uso residencial e estavam abandonadas há mais de 20 anos. “A deterioração era muito grande, em especial na parte interna. Só as fachadas continuavam de pé”, observa a arquiteta. Depois de reformadas, funcionarão como espaço para recepções de casamentos, festas em geral e exposições de obras de arte.
O conjunto restaurado pertence ao mesmo proprietário e fica próximo da Igreja da Madre de Deus e da Galeria Arte Plural (Rua da Moeda). “É um polo cultural que vai se firmando nesse trecho do bairro”, diz. Karla fez raspagens na fachada do prédio da Rua Tomazina e encontrou a cor original da casa, cinza azulado, sob camadas de tinta. O mesmo será feito nos outros dois edifícios.
“Nós temos de fazer a pesquisa, registrar a cor e comunicar ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), porém ainda não definimos como será a pintura”, afirma. O Bairro do Recife é tombado como patrimônio nacional e toda intervenção no casario precisa de aprovação do Iphan.
LIVRARIA
Do outro lado do bairro, o prédio onde funcionou a Livraria Universal, no encontro da Avenida Rio Branco com a Rua do Bom Jesus, também está sendo preparado para voltar à cena recifense. O imóvel de três pavimentos (térreo mais dois pisos) e cerca de 1.400 metros quadrados de área construída foi arrendado na Justiça do Trabalho, ano passado, pela empresa LO Empreendimentos.
As fachadas com gradil, portas, janelas e enfeites decorativos serão mantidas sem modificações. “Estou em busca da história do prédio para fazer uma placa e colocar no imóvel, contando essa evolução”, adianta Lourenço Oliveira, um dos sócios da firma. A ideia inicial é ocupar os pavimentos superiores com empresas de Tecnologia da Informação (TI).
“Não temos locação ainda para o andar térreo, creio que um café e uma livraria seriam boas opções”, pondera o investidor. “Com a nova arrumação da Avenida Rio Branco, anunciada pela prefeitura, ficará mais fácil decidir a ocupação”, declara. O Passeio Rio Branco transforma da via numa alameda para circulação de pedestres e veículos não motorizados. A expectativa é realizar a obra de julho de 2016 a abril de 2017.
Leia Também
Lourenço Oliveira disse que o prédio estava sendo utilizado como depósito de carroças de lanche por ambulantes que trabalham no Bairro do Recife, no Centro da capital pernambucana. “O imóvel inteiro, que se encontrava deteriorado, por dentro e por fora, será recuperado.” A fachada será pintada num tom de azul bem clarinho, com autorização do Iphan, e o serviço deve se estender até o fim deste ano, diz ele.
A poucos metros da edificação, o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.e.s.a.r) promove a recuperação da fachada de mais um prédio, na esquina da Avenida Marquês de Olinda com a Rua da Madre de Deus. Um pedaço da marquise desabou e caiu na via, em dezembro passado.
Enquanto isso, um edifício na Rua Mariz e Barros, entre a Marquês de Olinda e a Rua Álvares Cabral, está se desmontando e teve de ser cercado por tapumes, interditando a calçada e um trecho das vias, para proteção dos pedestres.
PREFEITURA
Secretário de Planejamento Urbano do Recife, Antônio Alexandre, informa que há instrumentos de incentivo à restauração de imóveis no Bairro do Recife, como isenção do IPTU (o valor depende do serviço executado) e do ISS para determinadas atividades econômicas, citando como exemplo as áreas de turismo e tecnologia. “Isso já existe há um certo tempo”, declara o secretário.
Ele afirma que o principal fundamento para a recuperação de áreas esvaziadas e degradadas é o econômico. “O papel do poder público é estimular e melhorar a oferta de infraestrutura, para o lugar ser atraente ao investidor. Mas não cabe ao município fazer as obras de restauração dos prédios. Não podemos desviar recursos da Saúde e da Educação para fazer as intervenções”, pondera Antônio Alexandre.
Na avaliação do secretário, ações como a implantação do Passeio Rio Branco têm a função de atrair investidores para o bairro. “Estamos acompanhando a reconfiguração dessa área da cidade, com a substituição da atividade tradicional portuária, que não cabia mais no local, pelas empresas de tecnologia, centros culturais, cafés, livraria, galerias.”
A reestruturação, observa, é lenta mas permanente. A prefeitura, diz ele, está complementando essa mudança ao estimular a moradia no Centro em bairros próximos, como Santo Antônio e São José, aproveitando o estoque de prédios existentes e subutilizados.