Era uma vez um castelo. Diferentemente dos contos de fadas, nele não há reis nem príncipes ou princesas. Também não são realizados banquetes ou bailes. Tampouco fica no mundo imaginário. Está em Pesqueira, última cidade do Agreste pernambucano, distante 215 quilômetros do Recife. Começou a ser construído 17 anos atrás, em 1999, pelo comerciante Edvonaldo Torres, 53 anos. A construção terminou há dois anos. Embora não esteja aberto ao público, virou visita obrigatória de turistas. O suntuoso imóvel chama a atenção e pode ser visto de vários pontos do município.
O dono prefere não chamar de castelo. “Não é um castelo, é uma obra de arquitetura espontânea, que mistura diversos estilos como o grego, romano, jônico. É tudo criação minha. Muitas vezes me inspirei em Gaudí (arquiteto catalão). A alusão a castelo vem por conta do imaginário do povo”, observa Edvonaldo, que hoje mora na capital pernambucana e tem lojas, no interior, de móveis, eletrodomésticos e eletrônicos.
O imóvel impressiona: tem 2 mil metros quadrados, oito salas, quatro banheiros e três quartos distribuídos em quatro andares. Do chão até a última torre são 35 metros de altura (equivalente a um edifício de 10 andares aproximadamente). Há inúmeras figuras na fachada da frente. Leões, anjos, dragões, pinhas e outros adereços de diversas cores e feitos de gesso ou concreto.
“Na região não há arquitetos e pedreiros que façam aquilo. Tudo é ideia minha, foi um processo de criação pessoal. Precisei desenhar, fazer moldes, orientar passo a passo os pedreiros. As formas foram feitas em Pesqueira mesmo, sob minha orientação”, explica o comerciante. Atualmente no último andar do castelo mora o segundo filho de Edvonaldo, Nathan Nikolai Torres, 27, com a esposa e uma filha. O primogênito do empresário, Yuri Yves Torres, 28, está reformando a casa térrea que fica fora do castelo (e que originou a edificação) para residir depois.
Se, do lado de fora o castelo chama a atenção, dentro do prédio se tem a sensação de que realmente a construção é uma morada de nobres. Logo na entrada, a primeira sala tem três elegantes poltronas que parecem tronos. Um piano branco divide espaço com 11 bustos de homens feitos de mármore. “São imagens de reis e filósofos. Eu estava montando um acervo com peças de mármore. Meu objetivo era fazer grandes salas para exposições, por isso os cômodos internos são poucos”, destaca Edvonaldo.
Vitrais dão luz e um colorido especial ao interior da famosa edificação. Os belos lustres são um capítulo à parte. Existem 14. Conjunto de sofás, um jarro, uma mesa toda trabalhada com detalhes dourados e outros quatro bustos compõem a segunda sala do primeiro piso. Na última sala, mais um conjunto de sofás, quadro, tapete e dois bustos. Nas paredes, adornos, brasões e estrelas enfeitam o espaço.
Parte dos móveis foi produzida na cidade mesmo, com desenhos de Edvonaldo. Outros foram comprados ao longo das últimas duas décadas. “Grande parte adquiri ao longo de 20 anos, em antiquários, ou mandei trazer de fora. Comprei através de um importador amigo meu, na época que o dólar favorecia as importações”, relembra.
No segundo andar, há uma mesa com dez lugares. A beleza do móvel salta aos olhos, com desenhos na madeira e veludo vermelho nas cadeiras. Ao lado dela, um grande bufê (espécie de aparador) precisou ser desmontado para que conseguissem colocá-lo na sala. Pesa duas toneladas, segundo Nathan, o caçula de Edvonaldo que mostrou o castelo à reportagem.
Três jarros (dois deles com mais de um metro de altura), lamparinas douradas, mesas, tapetes, conjuntos de sofá, vitrais e um grande espelho com moldura dourada completam a decoração do segundo piso. Um guarda-corpo de madeira possibilita ao visitante contemplar o andar térreo. No terceiro pavimento, um dos quartos guarda uma escrivaninha de fazer inveja a qualquer colecionador.
Ao ar livre, o quarto piso tem um pátio onde Edvonaldo colocou azulejos com imagens de três santos católicos: São João, São Pedro e São José. Há ainda estampas com Maria, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora dos Emigrantes e do anjo da guarda. São duas torres e 11 minaretes (pequenas torres com balcões salientes). A vista aérea de Pesqueira é fantástica. Nos fundos do castelo há um espaço de lazer, com piscina, churrasqueira e área de ginástica.
Edvonaldo não sabe quanto investiu no imóvel. “Não faço a menor ideia de quanto gastei, foram muitos anos de construção. Houve diversas interrupções. Nunca anotei nada. Trabalhei com pessoas da região, que aprenderam comigo. Parava, recomeçava”, diz o comerciante, que como a maioria dos brasileiros, veio de origem simples. Ele direcionou o que faturou durante 15 anos com suas lojas para a obra.
“Meus pais não tinham posses. A única fonte de renda era o salário mínimo que meu pai ganhava como funcionário da Fábrica Peixe. Com muito esforço, dez dos seus filhos tornaram-se funcionários de bancos públicos. Eu, além de servidor da Caixa Econômica, ainda sou comerciante”, afirma. Ele passou no concurso aos 18 anos.
O castelo está terminado. “Não vou fazer mais nada lá. Iniciei a segunda torre mas parei porque é muito demorado, exige muito de mim, é um projeto pessoal, tem uma arquitetura espontânea, sem contar os custos, então eu desisti”, explica o comerciante.
“Meus dois filhos mais velhos estão construindo um prédio anexo onde seria a segunda torre. É um empreendimento deles, que hoje são empresários e decidiram continuar com um imóvel residencial”, relata. A previsão é que o edifício, com cinco andares e 19 apartamentos, seja concluído no segundo semestre de 2017.
Questionado se há intenção de abrir o castelo para visitação pública, Edvonaldo diz que não sabe se isso acontecerá. “Sempre imaginei que poderia ser um ponto turístico de Pesqueira. Mas o futuro é incerto. As visitas envolvem o poder público e manutenção. O tempo vai dizer o que vai acontecer com o castelo. Não sei exatamente qual será o destino dele”, informa o comerciante.