Disputa pode ter motivado morte de Artur Eugênio

Acusado Cláudio Gomes estaria perdendo mercado para novos cirurgiões torácicos
JC Online
Publicado em 23/09/2016 às 7:45
Acusado Cláudio Gomes estaria perdendo mercado para novos cirurgiões torácicos Foto: André Nery/JC Imagem


O medo de perder, para profissionais mais qualificados, um mercado que dominava sozinho pode ser o motivo que, segundo a polícia, levou o médico Cláudio Amaro Gomes a mandar matar seu ex-sócio, o cirurgião Artur Eugênio Azevedo, em maio de 2014. Dois depoimentos exibidos em vídeo durante o segundo dia de julgamento de dois dos acusados pelo crime, ontem, no fórum de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, dão força à tese do inquérito policial e da denúncia do Ministério Público.

O mais contundente é do também cirurgião torácico Wolfgang William Schmidt Aguiar, um dos três médicos com quem Artur mantinha sociedade após deixar de trabalhar com Cláudio Gomes, em 2013. No vídeo exibido para os jurados, Aguiar relata que Cláudio detinha o monopólio do segmento de cirurgia torácica no Recife, mesmo sendo “tecnicamente inabilitado para procedimentos de médio e grande porte”. Ainda segundo o depoimento do médico, Cláudio sempre precisou de quem operasse por ele. Quando Artur Eugênio rompeu a sociedade, desgastado por práticas que considerava inadequadas (como a utilização de materiais impróprios nas cirurgias), Cláudio Gomes estaria desesperado atrás de profissionais para a vaga. “Ele estava despencando no mercado”, diz, no vídeo, Wolfgang Aguiar.

SOCIEDADE

Ao mesmo tempo, Artur Eugênio, Wolfgang e outros dois cirurgiões torácicos da nova geração (Bernardo Nicola e Guilherme Mendonça), formaram uma sociedade que visava dar uma nova cara a um setor que consideravam atrasado e monopolizado no Estado. 

“Sugerimos a criação, no âmbito do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), de uma câmara técnica sobre cirurgia torácica. A ideia era mapear o problema e avaliar soluções”, diz, lembrando que em Pernambuco existem, atualmente, apenas nove profissionais na área, enquanto no Rio Grande do Sul, por exemplo, o número é de 60.

Outro vídeo exibido para os jurados foi o do cirurgião paraibano Petrúcio Sarmento, que sucedeu Artur Eugênio na sociedade com Cláudio Amaro Gomes. Ele afirmou que operava, sempre às quintas-feiras, os pacientes de Cláudio, e que não desconfiava de que ele pudesse ser capaz de mandar matar uma pessoa. “Quando aconteceu o caso, fui ligando as coisas e simplesmente me afastei sem nem falar com ele”, disse o cirurgião.

Segundo Sarmento, logo após ser preso, Cláudio ligou para ele, de dentro do Centro de Triagem e Observação Professor Everardo Luna (Cotel), provavelmente no intuito de pedir que mantivesse o atendimento a seus pacientes, receoso de perder ainda mais mercado. “Quando percebi que era ele, disse que não tinha mais nada a tratar e desliguei o telefone”.

O terceiro dia após a retomada do julgamento de Cláudio Amaro Gomes Júnior e Lyferson Barbosa da Silva, acontece hoje, às 9h, no fórum de Jaboatão. A expectativa é de que continuem a ser exibidos vídeos das testemunhas de acusação. 

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