O Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC-PE) tem um acervo com quase quatro mil obras de arte e uma biblioteca com cinco mil livros. Um luxo no Sítio Histórico de Olinda. No entanto, nada disso pode ser apreciado ou consultado por moradores e visitantes da cidade. O prédio secular que abriga a sede do museu está fechado ao público desde meados de 2016 e sem previsão de ser reaberto ao público.
Construção de meados do século 18 na Rua 13 de Maio, nº 157, no bairro do Varadouro, a sede do MAC-PE recisa de reparos. Mas a questão não é só essa. Parte das dependências do museu teve de ser ocupada com o material que ficava guardado em duas edificações anexas, destinadas à reserva técnica. “As casas estão completamente rachadas e não aguentam peso, por isso foram desocupadas”, afirma a gestora do MAC-PE, Célia Labanca.
Segundo ela, a reabertura do centro cultural está vinculada à obra de recuperação estrutural das casas. No momento, até as estantes deslizantes compradas pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) para acondicionar o acervo da reserva técnica de forma correta encontram-se no prédio principal, diz a gestora.
A arquiteta Márcia Chamixaes, gerente-geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe, informa que a proposta de recuperação estrutural das edificações – serviço que vai garantir a sustentação das casas da reserva técnica – encontra-se em tramitação para ser licitada. O processo deve ser concluído no segundo semestre de 2017 e a obra levará 90 dias para ser executada, com recursos próprios, no valor de R$ 70 mil.
Com cerca de 60 anos de existência, o MAC-PE é guardião do segundo melhor acervo de arte contemporânea da América Latina, diz Célia. “Quem faz essa afirmação é o professor de história da arte da Universidade de Brasília (UnB) Émerson Oliveira, que realizou pesquisas em museus vinculados ao Estado, como o MAC-PE. Ele disse que temos peças só encontradas aqui”, destaca a gestora.
Uma delas é um exemplar assinado por Adolph Gotllieb (1903-1974), pintor norte-americano considerado o precursor da arte contemporânea. O quadro, com uma placa de bronze, fazia parte do acervo do jornalista e escritor Assis Chateaubriand (1892-1968). “O MAC foi criado a partir de uma doação de Chateaubriand”, declara.
O centro cultural ocupa o prédio onde funcionou a única prisão eclesiástica do Brasil, continua Célia Labanca. No local eram recolhidas as pessoas acusadas de crimes contra a religião católica. O imóvel perde essa função após a Inquisição. “De 1874 até 1950 serviu como cadeia pública de Olinda.”
“O MAC é patrimônio do povo de Pernambuco e não recebe nenhuma verba para sobreviver”, lamenta Célia Labanca. Atividades realizadas no local, como exposições, cursos de fotografia e dança, apresentações de vídeos e lançamento de revistas, estão suspensas. “Somos um complexo cultural, formado pela sede, as casas da reserva técnica, a galeria Tereza Costa Rego e a Capela de São Pedro Advíncula, precisando de ajuda.”
Toda pichada, assim como a fachada da sede do museu, a igrejinha fica na frente do prédio. “Os presos acompanhavam, da cadeia, as missas celebradas na capela”, recorda Célia. No momento, a Fundarpe está concluindo ações de manutenção com pintura, reparos na coberta e recuperação de um banheiro. “Estamos fazendo uma vistoria para encerrar o serviço”, diz Márcia.
A Associação de Amigos do MAC-PE entregou à Fundarpe, em maio de 2016, o projeto completo para restauração e modernização do museu: cenário, iluminação, urbanização dos jardins, segurança eletrônica, instalação de elevador, obras de engenharia civil e espaços para loja, café e biblioteca. A obra foi orçada em quase R$ 9 milhões.
“A Petrobras pagou os projetos, mas falta o dinheiro da obra”, diz Célia. A Fundarpe propôs à associação tentar captar os recursos pela Lei Rouanet. “Estamos olhando com cuidado para o MAC”, garante Márcia Chamixaes.