Mesmo com mutirão, moradores de Olinda temem novas enchentes

Órgãos estaduais e municipais trabalham juntos para desobstruir canal e minimizar alagamentos
Margarette Andrea
Publicado em 30/03/2017 às 7:05
Órgãos estaduais e municipais trabalham juntos para desobstruir canal e minimizar alagamentos Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem


A preocupação com a proximidade do período de chuvas é generalizada entre os moradores do entorno do Canal do Fragoso, em Olinda. Muitos ainda não recuperaram os bens que perderam nas enchentes do ano passado (que deixaram bairros inteiros ilhados) e vivem assombrados pelas lembranças e pelo medo de enfrentar os mesmos problemas. Isso porque a obra de alargamento e revitalização do canal – que segundo laudos técnicos teria contribuído para os alagamentos – não tem data para ser concluída.

Um mutirão que vem sendo realizado por dez órgãos estaduais e municipais para “minimizar” possíveis alagamentos surge como alento para quem convive com o medo da chuva. Sob cobrança do Tribunal de Contas do Estado (TCE), um grupo de trabalho corre contra o tempo para remover obstáculos que possam represar a água do canal. A Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) atua entre a PE-15 e Jardim Atlântico. O município, no trecho que segue até o Janga.

“É muito medo. Qualquer chuvinha que dá a gente não dorme. Enquanto essa obra não acabar a gente vai viver assustado”, revela o auxiliar de limpeza Diego Bezerra, 28 anos, morador da Rua Humberto de Lima Mendes, em Jardim Fragoso. A esposa, Marília de Freitas, 27, grávida do segundo filho, lembra que precisaram sair de casa às pressas e não deu tempo de salvar nada, além de suas vidas.

Diego complementa: “Fizeram a limpeza dos canais (Fragoso e Matadouro) e deram uma adiantada na obra. Mas ainda tem muita água represada”. O casal mora próximo ao trecho em que o canal foi alargado para 45 metros (há pontos com apenas três) e lá perto é possível observar uma parte limpa e outra com muitas baronesas e estreitamento da calha. Metralhas de antigos imóveis se amontoam às margens do canal.

Em Jardim Brasil, onde o município vem trabalhando, é visível a melhoria. “Em cerca de 50% do trecho executamos a limpeza e alargamos a calha para até 12 metros onde foi possível, alguns pontos precisam de desapropriação, o Estado está providenciado”, ressalta o secretário de Serviços Públicos de Olinda, Evandro Avelar.

Integrante de uma comissão de moradores que acompanha as ações, Alexandre Miranda diz que para ter sossego a população precisa de um cronograma da obra e recursos assegurados. “A criação do grupo de trabalho é positiva. Vivemos em pânico. Minha mãe saiu de casa socorrida pelos bombeiros (que tiveram o quartel desativado para a obra) e até hoje ainda estamos recuperando o que perdemos”, salienta.

DIFICULDADES

O secretário de Habitação de Pernambuco, Bruno Lisboa, afirma que o trecho tocado pelo Estado vem avançando e que as dificuldades estão sendo vencidas em conjunto. “O evento de 2016 foi atípico, as precipitações chegaram a 242 milímetros em um dia. Recentemente tivemos uma chuva de 90 milímetros e não houve problemas. Nossa preocupação agora é continuar a limpeza do Rio Fragoso”, afirma. “O grupo está monitorando não só a obra, mas todas as ações necessárias, inclusive para o caso de haver algum problema.”

Além dos dois órgãos, integram o grupo de trabalho o Ministério Público de Pernambuco, Tribunal de Contas , Compesa, Procuradoria-Geral do Estado, Ministério das Cidades, Agência Estadual de Meio Ambiente, Secretaria de Planejamento de Pernambuco e, a partir do próximo encontro, a Prefeitura de Paulista.

SEM PREVISÃO 

O alargamento e revestimento do Canal do Fragoso é a primeira etapa do projeto de construção da Via Metropolitana Norte, que será uma extensão da II Perimetral, ligando Olinda a Paulista, por meio da PE-15 e PE-01. A previsão é de que ela seja concluída no fim deste ano. A segunda etapa começará nos próximos dias, no sentido inverso, na altura da PE-15, e não tem previsão para ser concluída, segundo o secretário Bruno Lisboa.

Conforme o gestor, a primeira etapa tem 60% das obras executadas. Dos 2,3 quilômetros de canal, 1,4 quilômetro está pronto, além de quatro das oito pontes. Das 800 desapropriações, 737 foram concluídas. “Estamos em processo de chamada para construção de 320 habitacionais de um total de 804”, salienta o secretário.

A segunda etapa inclui o alargamento e revestimento de mais 2,2 quilômetros do canal, a construção de um viaduto sobre a PE-15, quatro pontes e 6,1 quilômetros de vias marginais. Os primeiros R$ 22,9 milhões dessa etapa (são R$ 171 milhões) foram autorizados em dezembro pelo Ministério das Cidades. No trecho 1,2 mil desapropriações são necessárias.

A obra chegou a ser embargada pelo Ministério Público por falta de um Estudo de Impacto Ambiental (Eia/Rima), mas a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) alegou ter feito os estudos necessários. “Essa questão ainda aguarda decisão da Justiça”, informa a promotora de Meio Ambiente de Olinda, Belize Câmara.

“Laudos técnicos do Núcleo de Engenharia do Tribunal de Contas e da Gerência de Arquitetura e Engenharia do Ministério Público constataram que a obra deveria ter começado de jusante (lado para onde desce a água) a montante (lado da nascente) e ela teve início no sentido inverso. Isso contribuiu para os alagamentos. Mas há uma convergência de fatores, a população também joga muito lixo no canal, falta colaboração.”

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