A dona de casa Adriana (nome fictício), 33 anos, ficou intrigada com os 49 cortes que o filho de 15 anos apresentava nos braços e pernas. Mas precisou da ajuda de um pastor da igreja que ela e os seis filhos frequentam para encontrar a resposta: o jovem estaria participando do Baleia Azul, que induz crianças e adolescentes a se mutilar e ao suicídio. Ele contou ter chegado à 19ª missão de uma série de 50: sacrificou um gato e bebeu o sangue dele. Depois não aguentou o remorso, saiu do jogo e estava sendo ameaçado por seu “curador”. Ontem, a mãe, que cria os filhos sozinha, e o garoto procuraram o Departamento de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e denunciaram o fato. Com este, são sete casos em investigação pelas Polícias Civil e Federal em Pernambuco.
Preocupado com a rapidez com que o jogo vem se espalhando, o gestor do DPCA, Darlson Macedo, convocou a imprensa ontem para alertar pais e filhos que todos os casos devem ser informados à polícia. São duas denúncias à Polícia Civil no Recife (este do Ibura e um no Pina, na Zona Sul); uma em Paulista, no Grande Recife; uma em Goiana e outra em Vicência, na Zona da Mata Norte. A Polícia Federal apura mais duas em Moreno.
“Em Paulista, uma menina de 13 anos não conseguiu cumprir a missão de assistir a um filme de terror de madrugada e recebeu a ordem para se cortar a mesma quantidade de vezes de sua idade. Ela fez 13 cortes no braço e a mãe nos procurou. Mandamos que ela saísse do jogo e ela recebeu ameaças pelo Whatsapp. Identificamos números de três Estados: Minas, Bahia e interior do Rio de Janeiro. Eles dizem que vão matar os pais dos jovens”, relata o delegado. “O adolescente que participa acredita que aquela ameaça é real, porque eles (os ‘curadores’) têm várias informações daquela pessoa. Muitas fornecidas pela própria vítima.
O delegado diz ser importante os adolescentes entenderem que as ameaças não vão se concretizar. “Esses bandidos que estão aliciando jovens em desenvolvimento são covardes. Eles não vão sair de sua zona de conforto, do anonimato, para matar ninguém”, declara. “Se ingressarem no Baleia Azul, não cumpram as tarefas, saiam do aplicativo e procurem a polícia. Nós fazemos uma escuta e os exames necessários para anexar ao inquérito, porque esses curadores cometem os crimes de ameaça, lesão corporal e indução ao suicídio.”
O gestor admite a dificuldade de se chegar a essas pessoas. “Vamos solicitar apoio do serviço de inteligência da Polícia Civil e também estamos trabalhando em parceria com a Polícia Federal.” Ele avisa que a partir de maio a Unidade de Apoio Técnico do departamento, que faz palestras em escolas sobre drogas, vai dar início a discussões sobre o Baleia Azul, como a PF já está fazendo. “Estamos elaborando o material”.
“É importante os pais observarem seus filhos e saberem como funciona o Baleia Azul”, apela o delegado. “Trata-se de um aplicativo de origem russa que vem se espalhando pelo mundo desde 2015. Ele é enviado aos jovens por um link. Quando eles baixam, entram em um grupo e passam a ter um curador que vai lhe dizendo as missões a serem cumpridas, cujo grau de dificuldade vai aumentando. A última é tirar a própria vida. Já no início, eles ameaçam e avisam que quem entrar não pode sair. É um jogo macabro, quase uma seita. Ainda não tivemos casos de morte por aqui, mas há muitos casos no mundo”.
Segundo o gestor, muita gente tem se aproveitado do terror que o Baleia Azul vem causando para espalhar boatos. Ele diz que já inventaram até que uma das missões seria de envenenamento de vários alunos de uma escola.
Uma corrente do bem tenta desviar o foco dos adolescentes do aplicativo russo. Um publicitário e uma designer de São Paulo criaram a Baleia Rosa em 13 de Brasil, nas redes sociais, e só no Facebook já estavam, ontem à noite, com mais de 224 mil seguidores. Muitas pessoas acessam as redes em busca de ajuda e são encaminhadas ao Centro de Valorização da Vida (CVV).