Uma possível desavença trabalhista é o que pode ter motivado uma cozinheira de um restaurante no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, a atear fogo no corpo da saladeira do mesmo estabelecimento, na tarde desta terça-feira (20). De acordo com informações fornecidas pela própria acusada, identificada apenas como Célia, não era possível mais aguentar tanta "pressão". Por conta disso, em um confesso ato de desespero, ela lançou um pano incendiado com álcool sobre a companheira de trabalho.
Segundo o proprietário do restaurante, Douglas Garcia, as duas funcionárias trabalhavam diariamente no cômodo da cozinha do local."Elas nunca tiveram nenhum problema aqui. Contratei-as porque um amigo, de um restaurante próximo, indicou. Elas trabalhavam com ele há cerca de 15 anos e nunca tinham tido nada igual ao que aconteceu aqui hoje", relatou.
De acordo com o homem, Célia esperou que todos os clientes do restaurante, que trabalha sobretudo com a venda de almoços, saíssem do local. Pouco depois das 15h, Douglas sentou-se para fazer a refeição com Ana Paula, que, de costas e também sentada, foi atingida pela tocha, envolvida com um pano e álcool, aos gritos de "eu não aguento mais".
Visivelmente desesperada, Célia não quis falar à reportagem o porquê do ato considerado inconsequente por quem se deparou com a mulher queimada na Rua do Lima. Ao atender a ligação de uma familiar, chorando incontrolavelmente, ela se disse arrependida. "Ela vinha sempre para cima de mim. Não aguentei. Ninguém ali (no restaurante) queria assinar a minha carteira, estava com salário atrasado. Eu era direita, honesta. Me desculpa, cuida dos teus filhos que eu vou ser presa. Estou condenada para sempre e arrependida", desabafou. Durante quase uma hora após o ocorrido, ela permaneceu à espera da polícia e da família, nas proximidades do local do crime.
O próprio dono do restaurante garantiu que a carteira de ambas as funcionárias ainda não estavam assinadas. "Eu já estava resolvendo toda a papelada com o contador. Abri o restaurante há cerca de 8 meses e já estava dando andamento a isso, tudo acordado com elas", explicou. Ainda segundo Douglas, Célia já sofreu um quadro profundo de depressão, chegando a ficar até afastada das funções por um período. Sem saber precisar quando isso aconteceu, ele também confirmou que desde o início do tratamento, não havia notado nenhum sinal que evidenciasse relação entre o ataque de fúria e a doença.
Com cerca de 20% do corpo queimado, Ana Paula apresenta estado de saúde estável. A mulher foi socorrida pelo próprio marido ao Hospital da Restauração (HR), onde está em observação no setor de queimados. Os ferimentos foram preponderantes na região dorsal da vítima, local que apresenta queimaduras de 2º grau.
O proprietário do restaurante não soube precisar quais medidas ira adotar em relação às funcionárias. Célia foi presa nesta quarta-feira (21). O caso está sendo investigado pela Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).