O alemão Heirinch Moser (1886-1947), que morou 37 anos no Recife, deixou na cidade uma série de vitrais em paredes de palácios, igrejas e casas residenciais. Quatro desses painéis coloridos decoram o prédio do cinema da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, área central, e foram desmontados para serem restaurados. A obra começou no fim de maio de 2017 e deve se estender até novembro.
Confeccionados na técnica tradicional, com vidros pintados à mão e feitos especialmente para compor os desenhos, os vitrais recebem os mesmos cuidados no trabalho de restauração. A Fundaj contratou um restaurador especializado, Antonio Sarasate, de São Paulo, e o serviço é executado no Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte (Laborarte) da fundação, em Casa Forte.
Os dois vitrais principais, com nove metros quadrados cada, ficam na fachada interna do prédio, na parede defronte à escadaria de acesso à sala do cinema. Outros dois painéis, com três metros quadrados cada, decoram as fachadas laterais, um com vista para o Rio Capibaribe e o outro voltado para a Escola da Polícia Militar de Pernambuco. Todos são fixados com caixilhos de chumbo.
“É um material com maleabilidade para a fixação do vidro”, afirma o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Meca) da Fundaj, Antônio Montenegro. As ilustrações dos painéis, diz ele, remetem às atividades desenvolvidas no prédio à época (ensino de serralheria, marcenaria e outros ofícios). Em 1933, quando Moser fez os vitrais, o Edifício Ulysses Pernambucano funcionava como Escola de Aprendizes Artífices.
O prédio está fechado para obra de restauração desde janeiro de 2016 – o cinema interrompeu as exibições no fim de 2015 – e deve reabrir ao público no fim de 2017, com controle de temperatura, mais segurança, acessibilidade e tecnologia mais moderna, acrescenta Antônio Montenegro. “A restauração dos vitrais completa a obra de recuperação do edifício, vamos devolver à cidade uma peça completa”, declara.
Uma das primeiras construções a usar concreto armado no Recife, o Edifício Ulysses Pernambucano é um dos representantes do art déco na cidade. Foi construído nos anos 1930 e sofreu acréscimos na década de 50. O Cinema da Fundação continuará no primeiro pavimento, com alterações na sala, que terá uma porta lateral, janelas que olham para o Rio Capibaribe e pinturas decorativas dos anos 30 recuperadas.
No fim da obra, o prédio vai oferecer mais uma opção de sala de cinema, um pouco menor, para exibição apenas de filmes de arte. Outras mudanças são a ampliação da Galeria Vicente do Rego Monteiro; a Sala Manoel Correia de Andrade no andar térreo, para estudos e palestras; e as novas instalações da Escola de Governo e Políticas Públicas da Fundação Joaquim Nabuco no segundo pavimento, com cinco salas.
Professor e geógrafo, Manoel Correia de Andrade (1922-2007) era pesquisador da Fundaj e foi diretor do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (Cehibra) da Fundaj. A obra de restauração do centro cultural e educacional da fundação custa mais de R$ 5 milhões e é financiada pelo Ministério da Educação.
Vitralista, pintor, ilustrador e arquiteto, Moser popularizou na capital pernambucana a arte do vitral, uma tradição europeia. “Ele era um mestre nas artes aplicadas. Veio ao Recife para reformar o imóvel de uma tia e acabou ficando na cidade”, comenta Antônio Montenegro. Heinrich Moser, um dos criadores da Escola de Belas Artes do Recife, fez vitrais para o Palácio da Justiça e a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, entre outros prédios históricos.