Vitrais do prédio da Fundaj, no Derby, passam por obra de restauração

Os vitrais do prédio do Cinema da Fundação foram confeccionados pelo alemão Heirinch Moser em 1933
Cleide Alves
Publicado em 02/07/2017 às 8:08
Os vitrais do prédio do Cinema da Fundação foram confeccionados pelo alemão Heirinch Moser em 1933 Foto: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem


O alemão Heirinch Moser (1886-1947), que morou 37 anos no Recife, deixou na cidade uma série de vitrais em paredes de palácios, igrejas e casas residenciais. Quatro desses painéis coloridos decoram o prédio do cinema da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, área central, e foram desmontados para serem restaurados. A obra começou no fim de maio de 2017 e deve se estender até novembro.

Confeccionados na técnica tradicional, com vidros pintados à mão e feitos especialmente para compor os desenhos, os vitrais recebem os mesmos cuidados no trabalho de restauração. A Fundaj contratou um restaurador especializado, Antonio Sarasate, de São Paulo, e o serviço é executado no Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte (Laborarte) da fundação, em Casa Forte.

Os dois vitrais principais, com nove metros quadrados cada, ficam na fachada interna do prédio, na parede defronte à escadaria de acesso à sala do cinema. Outros dois painéis, com três metros quadrados cada, decoram as fachadas laterais, um com vista para o Rio Capibaribe e o outro voltado para a Escola da Polícia Militar de Pernambuco. Todos são fixados com caixilhos de chumbo.

“É um material com maleabilidade para a fixação do vidro”, afirma o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Meca) da Fundaj, Antônio Montenegro. As ilustrações dos painéis, diz ele, remetem às atividades desenvolvidas no prédio à época (ensino de serralheria, marcenaria e outros ofícios). Em 1933, quando Moser fez os vitrais, o Edifício Ulysses Pernambucano funcionava como Escola de Aprendizes Artífices.

O prédio está fechado para obra de restauração desde janeiro de 2016 – o cinema interrompeu as exibições no fim de 2015 – e deve reabrir ao público no fim de 2017, com controle de temperatura, mais segurança, acessibilidade e tecnologia mais moderna, acrescenta Antônio Montenegro. “A restauração dos vitrais completa a obra de recuperação do edifício, vamos devolver à cidade uma peça completa”, declara.

Uma das primeiras construções a usar concreto armado no Recife, o Edifício Ulysses Pernambucano é um dos representantes do art déco na cidade. Foi construído nos anos 1930 e sofreu acréscimos na década de 50. O Cinema da Fundação continuará no primeiro pavimento, com alterações na sala, que terá uma porta lateral, janelas que olham para o Rio Capibaribe e pinturas decorativas dos anos 30 recuperadas.

No fim da obra, o prédio vai oferecer mais uma opção de sala de cinema, um pouco menor, para exibição apenas de filmes de arte. Outras mudanças são a ampliação da Galeria Vicente do Rego Monteiro; a Sala Manoel Correia de Andrade no andar térreo, para estudos e palestras; e as novas instalações da Escola de Governo e Políticas Públicas da Fundação Joaquim Nabuco no segundo pavimento, com cinco salas.

PERFIL

Professor e geógrafo, Manoel Correia de Andrade (1922-2007) era pesquisador da Fundaj e foi diretor do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (Cehibra) da Fundaj. A obra de restauração do centro cultural e educacional da fundação custa mais de R$ 5 milhões e é financiada pelo Ministério da Educação.

Vitralista, pintor, ilustrador e arquiteto, Moser popularizou na capital pernambucana a arte do vitral, uma tradição europeia. “Ele era um mestre nas artes aplicadas. Veio ao Recife para reformar o imóvel de uma tia e acabou ficando na cidade”, comenta Antônio Montenegro. Heinrich Moser, um dos criadores da Escola de Belas Artes do Recife, fez vitrais para o Palácio da Justiça e a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, entre outros prédios históricos.

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