Aprovada em 2014, a lei municipal 17.984 prevê que todo o “cabeamento elétrico, de telecomunicações ou assemelhados”, no Recife, deve ser embutido no subsolo. Ou seja, na teoria, não deveria mais haver postes recheados de fios pairando perigosamente sobre as cabeças das pessoas e tornando mais feia a paisagem da cidade. Mas, na prática, da época da aprovação da lei para cá, muito pouca coisa avançou no sentido de fazer cumprir o que ela determina.
Por motivos óbvios, áreas dedicadas a entretenimento ou com potencial turístico são aquelas onde o emaranhado de fios incomoda ainda mais. Entre as iniciativas que estão sendo tocadas na área está o embutimento dos fios das pontes Princesa Isabel e Buarque de Macedo – a primeira, ligando os bairros da Boa Vista e Santo Antônio, e a segunda, de Santo Antônio ao Bairro do Recife.
Por R$ 2,9 milhões – recursos do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), do governo do Estado – as duas passagens, além de perderem a fiação aéreas, ganharão nova iluminação. Os postes já foram colocados nas duas pontes, e o processo de embutimento dos cabos deverá acabar entre outubro e novembro. Por enquanto, não há perspectiva de expansão do projeto para outras áreas. “É um serviço que tem um custo elevado, pode mexer com drenagem, rede de esgoto, a complexidade é alta. Mas continuamos conversando com a prefeitura do Recife e com a Celpe para ver formas de viabilizar o embutimento da fiação”, diz o secretário estadual de Turismo, Felipe Carreras, cuja pasta é responsável pela obra das duas pontes.
No bairro do Recife, poucas vias têm cabeamento subterrâneo, como a Rua da Moeda. O serviço foi feito em 2008, através de recursos do programa Monumenta/BID. O Paço do Frevo teve a fiação do entorno embutida pela iniciativa privada. Na Rua do Apolo, os postes que eliminam o uso de fios aéreos já foram instalados, mas os cabos antigos ainda não foram removidos. O resultado é ainda mais confusão visual – e perigo dobrado para os pedestres.
Ainda falta muito para que áreas turísticas do Recife se vejam livres da poluição visual. Um dos maiores cartões postais do Centro e datado do século 19, o casario da Rua da Aurora, no bairro da Boa Vista, poderia ser visualizado de forma bem mais agradável caso não tivesse uma fila de postes – e o festival de cabos – na fachada. O mesmo vale para a sede do poder legislativo estadual. Famosa “Casa de Joaquim Nabuco”, a Assembleia Legislativa também tem à frente um emaranhado de fios aéreos.
Em 2014, o prefeito Geraldo Julio vetou parcialmente o projeto de lei, alegando que os dois anos estipulados para que o cabeamento fosse embutido comprometiam a viabilidade da iniciativa. Na mesma época, aproveitando-se dos últimos anos de bonança econômica do governo federal (através do PAC Pavimentas de energia em arcar com os custos de embutimento das redes de baixa tensão, telefonia, entre outras, a proposta do projeto Caminhos do Recife foi reformulada”. Ainda de acordo com a prefeitura, ação), a prefeitura anunciou – a um custo de R$ 4 milhões – o programa Caminhos do Recife, que previa a requalificação de 16 vias nos bairros de Santo Antônio e São José, no Centro – a fiação aérea seria retirada de todas elas. Com a escassez de recursos e mudanças na legislação, o programa foi repaginado.
Segundo a Autarquia de Urbanização do Recife (URB), “diante da resolução 414/2010 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que extingue a responsabilidade das concessionárias 16 ruas dos bairros de Santo Antônio e São José já têm projetos executivos e serão incorporadas ao programa de requalificação de calçadas, também executado pela URB, e que tem financiamento do governo federal. “O programa prevê a adequação das calçadas às normas de acessibilidade de mais de 100 corredores viários do Recife”, finaliza a URB.