O bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife, não figura na lista dos mais caros da cidade, mas é lá onde está o aluguel mais oneroso da Polícia Civil. Ele fica na Rua São Miguel, nº 268 (na antiga fábrica da Souza Cruz) e custa “módicos” R$ 96.842,13 ao mês, ou seja, R$ 1.162.105,56 por ano. No endereço funciona o Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), composto por quatro delegacias: Estelionato, Roubos e Furtos, Furto de Veículos e Roubo de Carga. Detalhe: para entrar em uso, em abril de 2012, o imóvel passou por uma reforma que custou mais de R$ 1 milhão. Ao todo, a Polícia Civil gasta cerca de R$ 6 milhões ao ano só com aluguel, conforme levantamento feito pela Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (Adeppe).
O prédio de 6.263,49 metros quadrados não é o único de valor exorbitante no órgão. Segundo o levantamento da Adeppe, há muitos imóveis alugados pela instituição com preços altíssimos. Entre os mais caros, estão o depósito de bens apreendidos pela polícia, no Curado (R$ 81,8 mil); o complexo policial de Paulista (R$ 39,6 mil); a Delegacia do Cabo de Santo Agostinho (R$ 12,3 mil); e o complexo de Santa Cruz do Capibaribe (R$ 12 mil).
Mas o que a Adeppe aponta como mais grave é o fato de a maioria dos imóveis não ser adequada para o uso a que se destina. “O caso mais absurdo é o da Delegacia de Carpina (na Zona da Mata). Ela funciona em uma casa sem qualquer segurança, já foi arrombada duas vezes (e nas duas teve as armas que estavam apreendidas roubadas) e recentemente o telhado caiu. Ainda assim o aluguel custa R$ 7.740, quando casas do mesmo tipo no local não passam de R$ 1 mil”, denuncia o presidente da entidade, Francisco Rodrigues. E provoca: “A casa é alugada a familiares do ex-presidente da Câmara Municipal, Tota Barreto, atualmente preso por esquemas de corrupção”.
O delegado defende melhor planejamento para construção de imóveis e descontinuidade gradativa dos aluguéis. “São quase R$ 6 milhões ao ano, é muito dinheiro e muita falta de gestão. Só com o aluguel do Depatri nesses cinco anos são mais de R$ 5 milhões, daria para construir um prédio muito melhor. O Estado tem condições de desapropriar terrenos para isso.”
Francisco Rodrigues insiste na necessidade de se projetar imóveis mais adequados à função. “As delegacias precisam ter um projeto próprio, que dificulte o acesso e um possível resgate de presos, bem como garanta mais segurança ao policial. As antigas Delegacias de Roubos e Furtos e Furtos de Veículos, em Tejipió, eram projetadas dessa forma e em vez de serem reformadas foram abandonadas”, lamenta.
A imprensa já registrou atrasos de aluguel em Buíque, no Agreste, e em Petrolina, no Sertão. Em março, uma faixa foi colocada em frente ao casarão onde funcionava a delegacia de Buíque dizia: “Muitos aluguéis atrasados/Paguem meu dinheiro e desocupem”. Na ocasião, a polícia disse que o débito seria quitado em poucos dias.
A Polícia Civil não repassou ao JC informações solicitadas sobre valores e número de imóveis alugados. Por meio de nota, afirma que “vem adotando a prática de adquirir imóveis próprios e devolver os alugados”, tendo transferido dez delegacias para casas do Estado ou cedidas pelas prefeituras, nos últimos meses, economizando mais de R$ 700 mil por ano. Cita como exemplo imóveis dos municípios de Caruaru e Petrolina. O órgão defende que os aluguéis atuais “estão dentro dos valores de mercado”. E destaca: “No município de Santa Cruz do Capibaribe, por exemplo, o imóvel abriga quatro delegacias”.
Embora não dê previsão, a instituição informa que o imóvel da antiga Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos será reformado e ocupado por equipes do Departamento de Repressão ao Narcotráfico. Diz também que “investimentos significativos estão sendo feitos e, nas próximas semanas, seis delegacias estarão em pleno funcionamento em novas e modernas estruturas, no Agreste (cinco em Caruaru) e no Sertão do Pajeú (a Delegacia da Mulher em Afogados da Ingazeira)”.
A nota ainda fala de reparos e intervenções rotineiras para melhorar a estrutura e equipamentos da Polícia Civil, além dos resultados obtidos pelas equipes. “São mais de 14 mil presos este ano, sendo 1,4 mil suspeitos de homicídios, um recorde de produtividade”, registra.