Quem mora em cidades que precisam de rodízio sabe a dificuldade que é carregar água para cima e para baixo no dia em que ela chega, através de caminhões-pipa ou chafarizes. A moradora de Bezerros, Lílian Francielly, se considera sortuda por ter um automóvel e ter podido transportar água sem maiores transtornos quando o bairro em que mora ficou desabastecido. Foram três meses de seca. “Tinha gente que só tinha carro de mão”, lembra.
“Pernambuco é o estado com a menor disponibilidade hídrica do país”, afirma o gerente de obras da Companhia de Saneamento de Pernambuco (Compesa), Artur Correia Rodrigues. “O Agreste tem a menor disponibilidade hídrica do estado, então é uma região crítica”, diz. A Barragem de Brejão, que abastecia o município de Bezerros, entrou em colapso no início deste ano, junto a várias outras no estado. Mas desde a obra de Transposição do Rio Sirinhaém que o abastecimento tem, aos poucos, chegado em Bezerros. “Faz quase 30 dias direto que tem água”, concorda Lílian. Esta foi uma alternativa da Compesa para abastecer alguns municípios da região durante o colapso da barragem, enquanto a obra da Adutora do Agreste - considerada uma das principais obras de infraestrutura hídrica em execução no país - não fica pronta.
A Adutora do Agreste é composta por 1.400 quilômetros de tubulações, que usam água do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco para abastecer 61 municípios. Com um investimento de R$ 1,4 bilhão de reais, a previsão é que alguns trechos sejam postos em operação ainda neste ano. “Com a conclusão da Adutora do Agreste é solucionado o problema da falta de água no Agreste do estado”, garante Artur.
Para dar funcionalidade a todo o sistema da Adutora do Agreste, outra obra da Compesa faz a captação da água da Transposição do Rio São Francisco: a Adutora do Moxotó, que deve operar até o fim do ano. Até dezembro de 2019, quando devem ser concluídas as duas primeiras etapas da Adutora do Agreste, devem ser beneficiados 23 municípios pernambucanos. A terceira e última etapa devem beneficiar, ainda, outros 45 municípios, totalizando dois milhões de pessoas.
Outra barragem que entrou em colapso na seca de 2017 foi Jucazinho. O Sistema Pirangi foi a solução: a obra vai captar água de Catende, na Mata Sul, até o Sistema do Prata, que abastece Caruaru. São 27 quilômetros de adutoras, sob um investimento de R$ 60 milhões para beneficiar 350 mil pernambucanos.
O rodízio foi uma realidade na maior parte do Grande Recife até 2012. Naquele ano, a construção da Barragem de Pirapama, no Cabo de Santo Agostinho, aumentou a vazão de água na Região Metropolitana, colocando fim ao rodízio que durava mais de vinte anos. Hoje, 60% da área já tem água 24h por dia.
Um conjunto de obras vem sendo feito para renovar a rede de distribuição da capital, com a intenção de quantificar e reduzir perdas causadas por tubulações antigas. “Na hora em que você economiza um litro de água, você pode expandir esse litro para garantir água a quem não tem”, explica o gerente de controle operacional da Compesa, Daniel Genuíno.
Todo o trabalho que vem sendo feito - no ano passado, a Compesa investiu R$ 491 milhões em obras, e pretende investir R$ 800 milhões somente em 2017 - já recebeu reconhecimento nacional. A IstoÉ Dinheiro e a Época Negócios 360º reconheceram a Compesa como a melhor companhia de saneamento do Brasil. Além disso, a empresa também ostenta os selos de gestão de qualidade ISO 9001 e de certificação ambiental ISO 14000. “Temos um controle que faz com que a Compesa alcance resultados porque consegue enxergar onde está o problema e agir de modo preciso para contornar desvios”, explica a assessora de planejamento empresarial, Marcela Henroz. Mesmo assim, a companhia sabe que ainda há muito trabalho pela frente. “Enquanto o serviço não estiver universalizado, disponível para 100% dos pernambucanos, ainda há muito o que fazer”, finaliza.
Levar esgoto para 100% dos pernambucanos é a meta de longo prazo da Compesa, mas é nela que se trabalha todos os dias. A maior parceria público-privada em andamento no país, o Programa Cidade Saneada, da companhia pernambucana, vai por esse caminho. Com investimentos de R$ 4,5 bilhões em recursos públicos e privados, a ideia é universalizar os serviços de saneamento nos 14 municípios da Região Metropolitana do Recife, além de Goiana, na Mata Norte, nos próximos 12 anos.
O programa está em vigor desde 2013 e alguns resultados já estão por aí. “Em 2012, antecedendo o início do programa, nós tínhamos uma cobertura que girava em torno de 30% da região metropolitana. Já conseguimos chegar próximo dos 40%”, explica o gerente técnico de engenharia da Compesa, Fred Barbosa. A rede coletora de esgoto dobrou e hoje são mais de 1.600 quilômetros de tubulações na região.
Outros dois programas figuram entre as principais obras de saneamento em andamento em Pernambuco: o Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do Rio Ipojuca (PSA Ipojuca) e o Projeto de Sustentabilidade Hídrica de Pernambuco (PSHPE), que atua na bacia do Rio Capibaribe. Juntos, vão beneficiar os moradores de 67 cidades, atingindo quase 6 milhões de habitantes. “Os rios têm um problema muito sério de poluição. Os maiores defeitos são provocados pelo esgoto doméstico, ocupação desordenada, resíduos sólidos e da agricultura. Esses programas visam solucionar os problemas de lançamento de esgoto e vão dar uma melhora significativa na qualidade das águas”, diz o gerente de projetos especiais da Compesa, Sérgio Murilo Guimarães.
Ser uma empresa de grande porte exige uma responsabilidade à altura. A Compesa nasceu para cuidar do saneamento e do abastecimento do estado, mas se preocupa com a população que atende e com o ambiente em que vive, além da quantidade de domicílios beneficiados. Toda grande obra causa um impacto socioambiental. Para lidar com isso, há dois programas que são os carros-chefes da área na empresa: o Programa Florestar e o Com Viver.
O Florestar abriga ações de educação ambiental, sensibilizando as pessoas sobre a preservação das matas e capacitando jovens da rede pública para atuar como viveiristas. A ideia é que eles possam contribuir para arborizar a comunidade onde moram, recompondo áreas desmatadas. “Os jovens participam de atividades e recebem informações sobre mudas, o início do processo de recuperação do meio ambiente”, explica a analista de saneamento e engenheira de Meio Ambiente da Compesa, Luane Lins e Silva. A Compesa mantém três viveiros florestais no estado para replantar áreas degradadas.
Já o Com Viver desenvolve ações nas áreas esportiva, cultural e socioambiental nas comunidades circunvizinhas às instalações da empresa. O maior exemplo do Com Viver é a Escolinha de Futebol Ricardo Rocha, no bairro do Jordão, em Jaboatão dos Guararapes. É lá que fica um dos principais reservatórios de água do Sistema Pirapama.
“Para além das ações esportivas junto aos alunos aqui no campo, estamos trabalhando também com as famílias dos alunos, melhorando nosso relacionamento enquanto serviço de saneamento, acompanhando o desempenho escolar dos alunos. O objetivo não é que todos se tornem um Neymar, que não é fácil. Aqui é para formar, sobretudo, um cidadão", afirma o assessor de articulação socioambiental da Compesa, Antônio Menezes Neto.