A impressão digital que levou o estudante Ademário Gomes da Silva Dantas, 22 anos, a ser indiciado pelo assassinato do coordenador pedagógico do Agnes José Bernardino da Silva Filho, o Betinho, 49, em 2015, não era dele e sim da própria vítima. Foi o que concluiu perícia realizada pelo Instituto de Criminalística (IC), confirmando laudo anterior da Polícia Federal. Com base nisso, o advogado do jovem, José Wellington Lima de Matos, vai pedir sua absolvição sumária e acionar o Estado na Justiça por danos morais.
“Ademário, um rapaz de formação religiosa, teve seu nome ligado a assassinato, drogas e prostituição por um erro gravíssimo do Estado. Foi aprovado no vestibular de administração, mas trancou a faculdade, por conta da exposição. Sua vida foi destruída e ele nunca esteve nesse apartamento. Vou entrar com pedido de absolvição sumária e se o juiz não conceder pedirei o trancamento da ação penal na audiência marcada para fevereiro”, adianta José Wellington.
O corpo de Betinho foi encontrado amarrado nos pés e no pescoço, com fios de eletrodomésticos. A perícia concluiu que foi morto a golpes de ferro de passar roupa. Peritos papiloscopistas do Instituto Tavares Buril (ITB) encontraram digitais que seriam de Ademário em um móvel e do menor, no ferro. Mas a motivação do crime não foi esclarecida. O delegado Alfredo Jorge informou ter encontrado vídeo de Betinho fazendo sexo oral em um jovem moreno e atlético, cujo rosto não aparecia.
Os advogados de defesa dos dois rapazes contestaram os laudos das digitais. Os processos correm separados. No caso de Ademário, a defesa apresentou parecer de um perito criminalista afirmando que a digital seria de Betinho. A Justiça pediu um laudo da PF, que confirmou o resultado. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE), então, solicitou esse terceiro laudo ao IC.
Antes disso, chamados a se pronunciar sobre a divergência, os peritos do ITB já haviam encaminhado à Justiça uma retratação parcial do laudo, afirmando que “dada a indisponibilidade do Estado de Pernambuco do Sistema de Identificação Automatizada de Impressões Digitais (Afis)” e também “a má qualidade dos fragmentos de impressões levantados”, o material deveria ser enviado a outro laboratório.
A advogada Roselayne Souza, que defende o outro jovem indiciado, que hoje está com 20 anos e faz faculdade de engenharia, ainda aguarda um laudo solicitado pela Vara da Infância e da Juventude ao Departamento de Identificação de Polícia do Estado de São Paulo. “A PF também já concluiu que a digital encontrada no ferro não é do menor e os peritos do ITB já disseram que erraram. Vamos pedir a anulação do processo ou trancamento da ação penal”.
A chefe da Polícia Científica, Sandra Santos, afirma que o Estado tem todos os equipamentos necessários para a análise de digitais e que a corregedoria do órgão e a Polícia Civil estão apurando o erro dos papiloscopistas, que vão responder por ele. Em maio deste ano, a categoria deixou de fazer esse tipo de coleta e exame em cenas de crime, já que a atribuição é de peritos criminais.