Pontos de exploração sexual de menores aumentam nas rodovias de PE

Estudo realizado pela PRF e pela Childhood Brasil aponta um crescimento de 26% nos pontos vulneráveis à exploração sexual no Estado
AMANDA RAINHERI
Publicado em 18/05/2018 às 8:46
Estudo realizado pela PRF e pela Childhood Brasil aponta um crescimento de 26% nos pontos vulneráveis à exploração sexual no Estado Foto: Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem


Em 18 de maio de 1973, Araceli Cabrera Crespo, 8 anos, foi raptada, drogada, estuprada e brutalmente morta. O crime aconteceu no Espírito Santo. Exatos 45 anos se passaram, sem que ninguém fosse punido. A data virou símbolo de luta contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes em todo o País. Mas, quase meio século depois, as violações persistem, ainda invisibilizadas. A violência contra meninos e meninas se esconde nas casas, nas ruas e até mesmo nas estradas. É o que aponta um levantamento realizado entre 2017 e 2018 pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), em parceria com o instituto Childhood Brasil. Nas rodovias federais brasileiras, foram identificados 2.487 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes. 45 estão localizados em Pernambuco.

A quantidade de pontos vulneráveis no Estado aumentou 26% desde o último estudo Mapear, realizado em 2013 e 2014. O número é superior ao aumento de 21% no País, mas não chega a colocar Pernambuco no ranking dos Estados mais propícios à exploração sexual em rodovias. Para a presidente da comissão de direitos humanos da PRF em Pernambuco, Luciana Lima, o aumento não é necessariamente ruim. “Não quer dizer que a violência aumentou, mas que conseguimos verificar outros pontos vulneráveis nas nossas rodovias”, argumenta.

De acordo com o mapeamento, as vítimas são, em 48% dos casos, meninas. 36% são meninos e 16% são transgêneros. Os locais mais vulneráveis são postos de combustíveis, bares, casas de show, pontos de alimentação e de hospedagem. “São lugares onde há venda de bebidas alcoólicas e grande parada ou concentração de veículos. Além disso, também estão associados ao consumo de drogas”, explica Luciana Lima. Para que um ponto seja considerado vulnerável não é necessário que haja flagrante de exploração sexual. Cada característica (escuro, com grande circulação de pessoas, propício ao tráfico de drogas) conta “pontos” que, somados, indicam se o local é crítico, de alto risco, de médio risco ou de baixo risco. No Brasil, são 489 pontos críticos. Em Pernambuco, apenas 10.

Na última edição do Mapear, a utilização de um aplicativo otimizou o trabalho. “Antes, os policiais preenchiam um formulário a mão e, posteriormente, transferiam as informações para uma plataforma online. Dessa vez, eles puderam utilizar o aplicativo, que realiza automaticamente o somatório e indica quais os pontos mais vulneráveis”, explica Eva Dengler, gerente de programas e relações empresariais da Childhood Brasil. “Não temos efetivo para cobrir todas as estradas brasileiras, por isso saber quais os pontos mais críticos nos ajuda a atuar de maneira preventiva”, completa.

MULTIFATORIAL

Para ela, a exploração sexual é consequência de uma série de fatores. “Quando traçamos comparativos entre os locais de maior vulnerabilidade e dados do IBGE, descobrimos que são municípios de baixo Índice de Desenvolvimento Humano e com muita desigualdade social. Mas a pobreza não é o único indicativo. Em muitos os casos, a criança foi abusada em casa e, para não continuar vivendo nesse ambiente, resolve se envolver nisso fora de casa, até como maneira de sobrevivência. Muitos se prostituem também para comprar drogas.”

Dengler explica que há dois caminhos que levam os jovens até a prostituição: quando a própria família obriga e quando eles são aliciados. “As redes criminosas não se limitam à exploração sexual. Os menores são usados para vender drogas ou facilitar roubos. Também acabam sendo vítimas de tráfico de pessoas. São vários crimes relacionados.”

Em 2012, Pernambuco se tornou o primeiro Estado a utilizar a metodologia também nas rodovias estaduais, durante um projeto piloto. A iniciativa deve ser retomada nos próximos anos, segundo Eva Dengler.

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