Carlos Alves dos Santos, de 52 anos, lança nesta terça (14), o seu primeiro livro. A obra, um compilado de 65 poemas distribuídos em 24 páginas, simboliza o recomeço para ele, que há três anos cumpre pena no Presídio de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, e vê sua iniciativa podendo se tornar exemplo para outros que se encontram na mesma situação.
“Esse livro representa o começo de uma nova história da minha vida. Sou um sonhador e acredito que tudo é possível”, afirma Carlos Alves. "Quando eu sair daqui, penso em continuar escrevendo e tentar um patrocinador que me ajude a divulgar as minhas obras”, idealiza o pernambucano, natural do Distrito de Ibó.
Na unidade prisional, o reeducando, preso por tráfico de drogas, busca uma chance de recomeçar. “Eu estava no lugar errado, na hora errada e com pessoas erradas”, garante. Agora, no presídio, aproveita para cursar o último ano do Ensino Fundamental II e exercitar uma veia artística que havia ficado esquecida no seu passado. "Escrever um livro não foi tão difícil para mim porque eu já sou compositor”, disse, relembrando os tempos em que trabalhou como músico e escreveu, entre outras canções, a letra de “Eu Vou Pedir a Lua”, emplacada na voz do cantor Hilton Vargas.
Agora, ele apresenta com orgulho o livro 'O Pensador', cujo nome e capa fazem referência à escultura do francês Auguste Rodin. Nesta primeira edição, foram impressos 60 exemplares pela gerência da unidade prisional e serão vendidos por R$ 10, com arrecadação destinada à nova tiragem. “Meu livro é diversificado. Eu escrevi a partir de meus pensamentos, assuntos ligados ao amor, a minha mãe, sobre a minha prisão e o presídio, mas tudo voltado para o lado positivo das coisas, eu procurei enxergar o amor em tudo que escrevi”, comenta Carlos.
Segundo ele, o gosto pelos poemas surgiu pela primeira vez em sala de aula, dentro do presídio, no Dia Internacional da Mulher, em 2017: "A professora me pediu que eu fizesse um poema sobre a mulher. Eu fiz e entreguei. Na aula seguinte, ela me chamou e disse que eu emocionei a todos os professores com o poema e que eu seria um grande escritor. Era o que eu precisava, foi o incentivo que tive”.
"Na cela, continuei a escrever. Os colegas diziam que eu estava ficando doido. Quando terminei meu trabalho, mostrei à equipe da escola que achou que merecia ser divulgado e, junto com a direção, me ajudou", conta.
Para o secretário Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, a história de Carlos é um bom exemplo de como a educação e o trabalho podem ser grandes aliados no processo de ressocialização. "São resultados como este, de Carlos, que nos fazem acreditar que estamos no caminho certo. Desde 2016, o Governo de Pernambuco iniciou, no Complexo do Curado, a implantação do Programa de Remição de Pena Pela Leitura. Hoje, o Programa já se encontra em atividade em todas as unidades prisionais do Estado e a prática vem transformando a vida de muitos reeducandos”, afirma.